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Análise dos Mercados de Milho e Soja – 10/05/2018

MILHO – As cotações do milho, após flertarem com os US$ 4,00/bushel na semana passada, acabaram recuando um pouco nesta semana, fechando a quinta-feira (10) em US$ 3,94/bushel.

Dois ele mentos estiveram no centro das atenções do mercado: as condições climáticas nos EUA e na safrinha brasileira; e as projeções para o relatório de oferta e demanda do USDA neste dia 10/05.

Quanto ao clima nos EUA, o excesso de chuvas tem atrasado o plantio, causando preocupação quanto à possibilidade de áreas de milho serem transferidas para a soja. Neste sentido, até o dia 06/05 o plantio do cereal chegava a 39% da área, contra 44% na média histórica e 45% no ano passado nesta época. Lembramos que até o dia 10/05 o plantio deveria chegar a 50% da área esperada para ser considerado dentro da normalidade (sobre o clima na safrinha brasileira, veja mais abaixo).

Quanto ao relatório do USDA, o mercado esperava para 2018/19, nos EUA, uma produção de 358 milhões de toneladas, enquanto os estoques finais ficariam em 41,4 milhões de toneladas.

Na prática, o relatório trouxe números mistos para 2018/19 em relação ao esperado pelo mercado, pois a produção dos EUA veio menor, enquanto os estoques finais vieram maiores:

1)   Área semeada de milho nos EUA em 35,6 milhões de hectares;

2)   Produção final nos EUA em 356,7 milhões de toneladas;

3)   Estoques finais nos EUA em 42,7 milhões de toneladas;

4)   Patamar de preços médios aos produtores estadunidenses, em 2018/19, entre US$ 3,30 e US$ 4,30/bushel;

5)   Produção mundial de milho em 1,056 bilhão de toneladas;

6)   Estoques finais mundiais em 159,2 milhões de toneladas;

7)   Produção brasileira e argentina de milho respectivamente em 96 milhões e 41 milhões de toneladas;

8)   Exportações brasileiras de milho em 2018/19 em 31 milhões de toneladas.

Paralelamente, as exportações estadunidenses de milho melhoraram na última semana, atingindo a 1,94 milhão de toneladas. Existe expectativa de que o Brasil e a Argentina, em função de perdas respectivamente na safrinha e na safra de verão de milho, comecem a diminuir suas vendas externas do cereal, fato que abre maior espaço para o milho dos EUA.

Na Argentina, a colheita chegava a 32% da área semeada, com chuvas intensas durante a semana em muitas regiões. Ou seja, aquilo que faltou durante o verão argentino agora começa a sobrar, atrasando a colheita. Ainda na Argentina, a tonelada FOB de milho fechou a semana na média de US$ 193,00, enquanto no Paraguai a mesma ficou em US$ 185,00.

Já no Brasil, os preços do milho se mantiveram firmes, especialmente agora em que a quebra na safrinha nacional vai se consolidando. Assim, o balcão gaúcho fechou a semana na média de R$ 34,76/saco, enquanto os lotes ficaram entre R$ 41,00 e R$ 42,00/saco. Nas demais praças nacionais os lotes oscilaram entre R$ 23,50 em Sorriso e Campo Novo do Parecis (MT) e R$ 42,00/saco em Videira, Chapecó e Concórdia (SC).

Em São Paulo há grande preocupação com a falta de chuvas nas regiões da Sorocabana, Vale do Paranapanema e Norte do Paraná. As lavouras de safrinha destas regiões podem registrar perdas totais antes mesmo de entrarem em polinização. E mesmo que chova nos próximos dias, já há perdas irreversíveis. No Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Minas Gerais as lavouras de safrinha já registrariam perdas entre 30% a 40%. Com isso, se ocorrerem chuvas nos próximos dias as mesmas apenas estancariam os prejuízos, porém, dificilmente os recuperaria. Em muitas regiões há risco de perdas históricas na safrinha. E o melhor comportamento climático no Mato Grosso e em Goiás não seria suficiente para dar conta das perdas no restante do Centro-Sul brasileiro (cf. Safras & Mercado).

Neste sentido, os preços no referencial Campinas (SP) continuaram subindo, e bateram em R$ 43,00 a R$ 44,00/saco no CIF disponível. Na Sorocabana paulista atingiram a R$ 40,00/saco. Nos portos de Santos e Paranaguá o saco de milho já está cotado entre R$ 39,50 e R$ 40,50. Diante disso, quem possui milho começa a retê-lo em maior intensidade, provocando novas altas em seus preços.

Neste contexto, as exportações podem encontrar dificuldades em se realizar, mesmo com um câmbio ao redor de R$ 3,60 neste momento. Isto porque o mercado interno começa a disputar milho com o setor exportador. Assim, a pressão altista sobre os preços do milho deve continuar enquanto não se definir o quadro climático da safrinha e o câmbio no país.

Visando conter um pouco a alta dos preços aos consumidores de milho, a Conab realizou mais leilões de estoques públicos oficiais na semana, porém, negociou apenas 5,8% das 186.656 toneladas ofertadas. Novos leilões estão previstos para o dia 16/05, com oferta de 200.000 toneladas.

Enfim, vale destacar que a safrinha do Centro-Sul brasileiro, até este início de maio, havia sido comercializada em 30% do total esperado, contra 55% no mesmo período do ano passado.

Gráfico Milho – BM&F – Vencimento Set/2018Gráfico

Gráfico Milho – CBOT – Vencimento Set/2018Gráfico


SOJA – As cotações da soja em Chicago trabalharam com forte viés de baixa durante a semana, tendo atingido a US$ 10,02/bushel no dia 07/05. Posteriormente, melhoraram um pouco fechando a quinta-feira (10) em US$ 10,13/bushel, contra US$ 10,43 uma semana antes. A cotação do dia 07/05 não era vista desde o dia 12 de fevereiro passado, ou seja, Chicago perdeu praticamente todo o ganho conquistado a partir do momento em que se iniciaram as informações a respeito da quebra da safra de soja da Argentina. Dito de outra maneira, Chicago parece retornar às posições de meados de fevereiro passado.

Diversos são os motivos que levam a esta situação. Em primeiro lugar, o conflito comercial entre EUA e China. As reuniões entre os dois países, na semana passada, não resultaram em acordo e a tensão sobre o mercado continua. Desde o dia 10/04 a China não compra mais soja dos EUA, além de ameaçar colocar uma tarifa de 25% sobre o valor da oleaginosa estadunidense em suas importações. Em segundo lugar, o clima nos EUA está desfavorável ao milho e favorável à soja. Assim, neste dia 10/05 fechou a janela de plantio que deveria indicar uma área semeada com milho em 50% (até o dia 06/05 tal área atingia a 39%, contra 44% na média histórica). Esta situação de atraso no plantio do milho tende a elevar a área semeada com soja. Neste sentido, até o mesmo dia 06/05 tal área havia sido semeada em 15%, contra 13% na média histórica para esta época. Em terceiro lugar, os Fundos, diante do quadro geral existente, se desfizeram de posições compradas, gerando pressão de venda em Chicago. Mesmo assim, durante a semana eram contabilizadas 177.000 posições líquidas no lado da compra de soja de posse dos Fundos. O mercado espera vendas entre 10% a 20% destes contratos nesta semana e na próxima. Enfim, o mercado se preparou para o relatório de oferta e demanda anunciado pelo USDA neste dia 10/05. O mercado esperava o anúncio de uma projeção de safra nos EUA, para 2018/19, em 117,3 milhões de toneladas, contra 119,5 milhões no ano anterior. Para os estoques finais estadunidenses eram esperadas 14,9 milhões de toneladas, ficando no mesmo nível do ano anterior. Em termos de produção mundial, a expectativa era de estoques finais em 91,1 milhões de toneladas, contra 90 milhões neste atual ano comercial (volume revisado para baixo). Para a safra brasileira que está se encerrando o volume esperado era de 116,6 milhões de toneladas e para a da Argentina 38,6 milhões de toneladas.

Na prática, o relatório trouxe números menores do que o esperado, porém, sem causar muitas alterações no mercado:

1)   A área estimada de plantio nos EUA é de 36 milhões de hectares;

2)   A produção final nos EUA, projetada, é de 116,5 milhões de toneladas;

3)   Os estoques finais nos EUA, projetados, são de 11,3 milhões de toneladas;

4)   O preço médio de referência aos produtores estadunidenses oscilará entre US$ 8,75 e US$ 11,25/bushel em 2018/19;

5)   A produção mundial de soja ficaria em 354,5 milhões de toneladas, com o Brasil produzindo 117 milhões e a Argentina 56 milhões de toneladas para 2018/19 (para o atual ano comercial a produção brasileira ficou em 117 milhões e a da Argentina em 39 milhões de toneladas);

6)   Os estoques finais mundiais de soja ficariam em 86,7 milhões de toneladas;

7)   As importações chinesas de soja ficariam em 103 milhões de toneladas em 2018/19.

Paralelamente, as vendas externas estadunidenses foram fracas, pois nenhum exportador deseja se comprometer com a China diante do atual quadro de litígio comercial entre os dois países.

Já na Argentina, as exportações de soja ficarão em apenas 7 milhões de toneladas neste ano, ou seja, 30% abaixo do registrado no ano anterior. Por sua vez, o esmagamento de soja no vizinho país ficaria em 40 milhões de toneladas, com recuo de 2% sobre o ano anterior (cf. Safras & Mercado). Diante da forte quebra ocorrida em sua safra deste ano, os argentinos, além de importarem soja, cortarão fortemente a exportação do grão para atender a demanda do esmagamento. Isto poderá acalmar os preços do farelo de soja em Chicago nas próximas semanas.

Aqui no Brasil, o câmbio continuou sendo o elemento central na definição dos preços da soja. O Real continuou sua depreciação, chegando a R$ 3,60 no transcorrer da semana. Além dos fatores internos e externos já conhecidos, pesou, como novidade, a forte crise econômica na Argentina, onde o juro básico acabou sendo elevado para 40% ao ano (no Brasil o mesmo está em 6,5%), a inflação avança para 30% ao ano e o peso sofreu forte desvalorização. O quadro é tão sério que o governo Macri está solicitando empréstimo do FMI para enfrentar o problema, já que as reservas cambiais argentinas estão muito baixas, ao redor de US$ 56 bilhões (as reservas brasileiras são de US$ 380 bilhões).

Mesmo assim, o câmbio não conseguiu impedir o efeito baixista vindo de Chicago, mesmo com os prêmios nos portos do sul do país se elevando um pouco (oscilaram entre US$ 0,86 e US$ 0,95/bushel neste final de semana). Desta forma, houve recuo nos preços da soja nesta semana em relação à semana anterior. O balcão gaúcho fechou a semana na média de R$ 76,36/saco, enquanto os lotes ficaram entre R$ 80,50 e R$ 81,00/saco. Nas demais praças nacionais os lotes oscilaram entre R$ 70,50 em Sinop (MT) e R$ 80,50 em Abelardo Luz (SC), passando por R$ 80,00/saco no centro e norte do Paraná; R$ 72,00 em Chapadão do Sul e São Gabriel (MS); R$ 73,00 em Goiatuba (GO); R$ 74,00 em Pedro Afonso (TO) e R$ 75,50/saco em Uruçuí (PI) (cf. Safras & Mercado).

Apesar das fortes altas nos preços da soja, a comercialização da atual safra não saiu do normal, porém, ficando bem acima do registrado no ano passado, quando os preços foram até R$ 20,00/saco menores na maioria das praças nacionais. Assim, até o dia 04/05 as vendas de soja no Brasil atingiam a 62% do total, contra 61% na média histórica e 50% no ano passado. No Rio Grande do Sul, até o dia 04 de maio, as vendas atingiram a tão somente 48%; no Paraná 50%; no Mato Grosso 75%; no Mato Grosso do Sul 59%; em Goiás 65%; em São Paulo 64%; em Minas Gerais 65%; na Bahia 65%; em Santa Catarina 33%; no Maranhão 77%; no Piauí 65%; e no Tocantins 74% (cf. Safras & Mercado).

Enfim, a colheita da atual safra atingia a 99% da área brasileira semeada, contra 97% na média histórica até o dia 04/05.

Gráfico Soja – CBOT – Vencimento Set/2018Gráfico

Fontes: BM&FBovespa, CBOT, CEEMA, CONAB, USDA.