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2018, mais complicado que 2017

O ano de 2018, em seus primeiros dias, já está confirmando os alertas feitos! A economia passará por grandes turbulências no Brasil. Apesar de alguns indicadores econômicos, caso do PIB, apontarem para uma melhoria, os mesmos não são suficientes para oferecer garantias de sustentabilidade no médio prazo.

No cenário internacional, o aquecimento da economia dos EUA confirma a necessidade de aumento nos juros básicos daquele país. Isso fez com que estourasse a primeira bolha especulativa do ano, com Nova York e as demais bolsas de ações mundiais recuando fortemente neste dia 05/02. Existe a projeção de três aumentos de juros nos EUA no corrente ano.

Ora, juro mais alto naquele país tende a deslocar capitais dos países emergentes, caso do Brasil, para a América do Norte. Como o Brasil é tomador de capital externo, tal situação levará a uma desvalorização do Real, com potencial inflacionário importante, o qual obrigará a uma elevação de nosso juro básico (Selic).

No front interno, a ameaça de o governo brasileiro romper com a “regra de ouro” nos levou ao rebaixamento de nossa nota de crédito no exterior, nos deixando três degraus abaixo do grau de investimento (esta regra compõe a Lei de Responsabilidade Fiscal, determinando que o montante das operações de crédito não pode ser superior ao valor dos investimentos, tendo por objetivo impedir que o governo contraia financiamentos para quitar despesas correntes, ou seja, para manter a máquina pública funcionando. O descumprimento da mesma se equivale ao fato de um consumidor usar o cheque especial como complemento salarial no final do mês, pagando juros, ao invés de cortar despesas).

Esta realidade reforça o fracasso do governo na realização do ajuste fiscal necessário. Aliás, o rombo de R$ 124,4 bilhões nas contas do governo central em 2017, embora abaixo da meta corrigida de R$ 159 bilhões, é enorme, representando 1,9% do PIB. O total da dívida pública bruta brasileira deverá atingir 74,8% neste ano, contra 51,3% em 2011 (somente a dívida pública federal equivale, hoje, ao PIB total do México ou da Indonésia). E para 2018, já há um buraco calculado ao redor de R$ 200 bilhões.

Neste contexto, acaba de ser anunciado um bloqueio no orçamento federal da ordem de R$ 16,2 bilhões, visando permitir que se alcance pelo menos o déficit primário projetado, que é de R$ 159 bilhões.

Mas novos cortes serão necessários, especialmente se a Reforma da Previdência não sair. E mesmo que saia, será muito pequena e pouco ajudará (aliás, até o dia 20/02 tal reforma será definida no país e, caso não saia, deixará o mercado nacional ainda mais turbulento, com a Bovespa recuando e o Real se desvalorizando de forma mais intensa, fato que forçará a reversão da Selic).

Soma-se a isto o fato de a inflação oficial em porcentagem, ter potencial para quase dobrar, embora fique ao redor do centro da meta oficial (4,5% ao ano). Com isso, o consumo das famílias, que vem puxando timidamente o PIB, ficará mais comprometido. Especialmente porque continuamos tendo, neste início de 2018, um pouco mais de 60% de famílias brasileiras inadimplentes (no Rio Grande do Sul, as famílias inadimplentes em janeiro/18 eram 46,2% do total, contra 27,7% em janeiro/17). E a redução do desemprego pouco ajuda, pois ainda temos 11,8% de desempregados, sendo que os empregos gerados até o momento são majoritariamente informais e/ou de baixa qualidade (mesmo que com franca redução, 2017 foi o terceiro ano consecutivo com saldo negativo na geração de empregos no país).

Portanto, de baixa remuneração (a quantidade de pessoas empregadas com carteira assinada recuou 2% no quarto trimestre de 2017, enquanto o percentual de trabalhadores sem carteira assinada aumentou 5,7%)! Aliás, o rendimento médio da população brasileira fechou 2017 em R$ 2.154,00, aumentando apenas 1,6% sobre 2016, enquanto a inflação oficial no ano passado foi de 2,95%. É bom lembrar que a média do endividamento brasileiro era de R$ 4.400,00 por pessoa no final de 2017.

Ou seja, mais do que o dobro da renda auferida. Por outro lado, a turbulência maior está por vir na medida em que a campanha eleitoral para Presidente da República avançar em um contexto em que os pré-candidatos existentes não oferecem confiança. O risco de elegermos um “populista irresponsável para com as contas públicas” é enorme.

Em tal contexto, não é por acaso que os investidores estrangeiros, em janeiro, já frearam suas participações no mercado brasileiro. Por sua vez, grande parte dos Estados da Federação estão quebrados, caso do Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, o mesmo acontecendo com os municípios (no Rio Grande do Sul, 2017 terminou com 25% dos municípios no vermelho, com a situação geral devendo piorar em 2018). Enfim, a safra de verão atual será menor, com preços médios baixos, consolidando uma situação que já foi ruim em 2017. Ou seja, se no ano passado os preços não reagiram, porém, houve volume produzido, neste ano o risco é de, comparativamente, termos pouca mudança nos preços e menor volume de produção.

Portanto, 2018 será muito turbulento, podendo mesmo ser mais complicado que 2017, confirmando, infelizmente, que estamos longe da saída da crise econômica e de uma recuperação sustentável.

Fonte: CEEMA

Visite aqui o Relatório FOCUS do Banco Central – Edição de 09/02/2018