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Exportações têm menor nível em 11 anos

As indústrias exportadoras enfrentam o mais baixo nível de pedidos dos últimos 11 anos, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV). Para compensar a fraqueza na demanda externa, fabricantes de calçados, artigos de cama, mesa e banho, autopeças, veículos, pisos cerâmicos e produtos siderúrgicos tentam aumentar as vendas no mercado interno, conquistar compradores em países fora do epicentro da crise, além de reduzir custos e o ritmo de produção nas fábricas.

Em março, a demanda externa e o índice de confiança dos industriais que exportam mais da metade do que faturam atingiram o nível mais baixo da série histórica iniciada em abril de 1998. Um recorte feito a partir da Sondagem da Indústria de Transformação da FGV, revela que, para 74,4% das indústrias exportadoras, a demanda externa está fraca. Só 1% considera o volume de pedidos externos forte.

“O índice de confiança dos empresários das indústrias exportadoras bateu recorde de baixa e ficou em 45,5 pontos em março”, destaca o coordenador da sondagem, Aloisio Campelo. O índice é composto por seis indicadores: nível de procura global, estoques, situação atual dos negócios, produção e emprego previstos para três meses e situação dos negócios em seis meses. Toda vez que o índice está abaixo de 100, denota uma piora no quadro.

O volume de estoques excessivos e a produção prevista até maio das indústrias exportadoras exibem uma situação ruim. Segundo a pesquisa, para 31,4% das companhias a produção prevista para três meses será menor. Quase 40% das exportadoras acumulavam estoques excessivos no mês passado. Em contrapartida, os números das empresas voltadas ao mercado doméstico são mais favoráveis. Para 42,7% das que exportam no máximo 10% do que faturam, a produção deve aumentar até maio; já 19,6% declararam ter estoques excessivos. “O índice de produção prevista para três meses das indústrias voltadas ao mercado interno atingiu em março o maior nível desde setembro de 2008”, observa Campelo.

A recuperação do mercado doméstico, impulsionado pelas medidas anticíclicas do governo, como corte de impostos sobre carros, eletrodomésticos e materiais de construção, atrai as empresas exportadoras. A Eliane Revestimentos Cerâmicos, que exportou 25% do faturamento de R$ 587 milhões no ano passado, registra queda de 20% nas vendas externas no primeiro trimestre, enquanto ampliou em 14% a receita doméstica. “Estamos redirecionando a produção para o mercado interno”, afirma Edson Gaidzinski Jr., presidente da companhia.

Ele observa que, neste trimestre, as exportações continuam recuando na comparação anual. As vendas no mercado interno cresceram, especialmente depois do corte do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos materiais de construção e do pacote habitacional. “Mas a competição está acirrada”, pondera.

A disputa pelo mercado doméstico preocupa especialmente os fabricantes de calçados. A Vulcabras/Azaleia, que vende para 40 países, teve queda de 30% nas exportações no primeiro trimestre, apesar da recuperação do câmbio. Significa que 250 mil pares de sapatos deixaram de ser embarcados. “O mercado doméstico de calçados está muito melhor que o externo”, diz o presidente da companhia e da Abicalçados, Milton Cardoso.

Mas ele ressalta que há uma invasão de produtos chineses. As importações de calçados cresceram 45% em dólar no primeiro trimestre. Por isso, mesmo com a demanda interna favorável, os fabricantes não estão sossegados. “Nossos estoques estão altos e temos de reduzir margens para competir no mercado interno.”

O quadro se repete na siderurgia. “A grande aposta é no mercado doméstico”, diz o vice-presidente-executivo do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), Marco Polo de Mello Lopes. Com os estímulos fiscais dados a veículos, construção civil e eletrodomésticos, setores que juntos consomem mais da metade da produção, a perspectiva é de “otimismo moderado”, porque a entrada de produtos chineses no País preocupa.

A General Motors é outra fabricante que desviou para o mercado interno parte da produção antes destinada às exportações. “Isso ocorre principalmente com veículos antes destinados a mercados que adquiriam produtos iguais aos vendidos no País, como os modelos Corsa e Montana vendidos para o México”, afirma o presidente da empresa, Jaime Ardila. De acordo com o executivo, a GM chegou a exportar 30% de sua produção em 2006, participação que este ano será reduzida a 15%. “Vamos produzir 100 mil veículos a menos por causa da queda das exportações.”
Fonte: Jornal do Commercio, 27/04/2009
Seção: Economia