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Análise Semanal do Mercado de Soja

Comentários referentes ao período entre 22/02/2013 a 28/02/2013

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
Emerson Juliano Lucca²

As cotações da soja em Chicago voltaram a recuar em boa parte da última semana de fevereiro, tendo batido em US$ 14,47/bushel no dia 26/02, confirmando um movimento de instabilidade e indefinição do mercado. Todavia, no fechamento da quinta-feira (28) houve recuperação, com o bushel ficando em US$ 14,74, após US$ 14,87 uma semana antes. A média de fevereiro fechou em US$ 14,59, após US$ 14,31/bushel em janeiro, sempre considerando o primeiro mês cotado.

O mercado vive um momento de transição onde, no curto prazo, a demanda se mantém aquecida nos EUA, reduzindo os estoques locais, enquanto a safra sul-americana, mesmo recorde, apenas inicia sua colheita. A melhoria do clima na América do Sul, especialmente na Argentina e sul do Brasil, é contrabalançado pelos tradicionais problemas de logística portuária brasileiros. Esse último fato atrasa embarques de soja e derivados, reduz os prêmios nos portos nacionais e leva os importadores a continuarem buscando soja nos EUA, onde a oferta já está limitada, apesar da correção para cima no número final da última safra estadunidense.

Mas o sentimento é de que aos poucos os preços deverão recuar, puxados pela entrada mais forte da safra sul-americana e o deslocamento dos importadores para o Brasil e a Argentina. Nesta situação, o cenário de preços ao redor de US$ 13,00/bushel em abril/maio se mantém plausível (o USDA está indicando preços médios para 2013/14 de apenas US$ 10,50/bushel, contra US$ 14,30 no ano anterior). Nesse sentido, vale destacar que o fechamento de Chicago, no dia 27/02/13, para maio/2014, foi de US$ 12,62/bushel, ou seja, US$ 1,95/bushel a menos do que o praticado no primeiro mês cotado (março/2013).

Completou o quadro baixista para os meses futuros o anúncio, pelo tradicional Fórum Anual Outlook do USDA, que a futura área de soja nos EUA será de 31,36 milhões de hectares, após 31,2 milhões em 2012, e a produção que poderá ser colhida em setembro/outubro próximos venha a se consolidar em 92,7 milhões de toneladas, superando em 10,6 milhões de toneladas o volume colhido na última safra. Isso tudo, claro, se o clima permitir. Quanto a área a ser cultivada, lembramos que no último dia útil de março teremos o relatório de intenção de plantio dos produtores estadunidenses.

Ou seja, os alertas que estamos fazendo há algum tempo começam a se confirmar quanto ao futuro dos preços da soja, inclusive a respeito de nossa atual safra.

Enfim, os embarques de soja, pelos EUA, na semana encerrada em 21/02, atingiram a 742.600 toneladas, acumulando no ano comercial, iniciado em setembro passado, um total de 30,1 milhões de toneladas, contra 23,8 milhões um ano antes na mesma época.

Quanto à produção na Argentina, embora o clima venha melhorando paulatinamente (há chuvas previstas para este final de semana e na primeira semana de março) e a área semeada está confirmada em 19,4 milhões de hectares (+ 3,6% sobre o ano anterior), a Bolsa de Rosário avançou uma nova projeção de colheita, agora mais pessimista, em função das perdas já existentes pela falta de chuvas em janeiro e fevereiro. A mesma ficaria em apenas 48 milhões de toneladas, contra 50 milhões.

estimados na semana passada pela Bolsa de Cereais de Buenos Aires e os 57 milhões inicialmente adiantados pelo mercado. Mesmo assim, a safra ainda será maior do que os 40,1 milhões de toneladas do ano passado.
O prêmio nos portos brasileiros recuou durante a semana, ficando entre 18 e 30 centavos de dólar por bushel. Nos EUA (Golfo do México) os mesmos oscilaram entre 62 e 74 centavos. Nos dois casos, para o mês de março. Para Rosário (Argentina) os mesmos ficaram entre 15 e 30 centavos de dólar por bushel, para o mês de maio.

No mercado brasileiro, os preços voltaram a recuar, especialmente nas regiões onde a colheita já se desenvolve. No Rio Grande do Sul, a média de balcão caiu para R$ 56,66/saco na semana, enquanto os lotes ficaram entre R$ 62,00 e R$ 62,75/saco diante da inexistência de produto da safra nova. Quando a colheita começar, tais preços deverão recuar, salvo se a quebra local de safra for maior do que o inicialmente estimado (hoje entre 15% e 20%). Nas demais praças nacionais, os lotes oscilaram entre R$ 44,35/saco em Sapezal (MT) e R$ 57,00/saco em Cascavel (PR).

Na BM&F/Bovespa, o contrato março/13 ficou em US$ 31,68/saco, o maio em US$ 30,50/saco e o novembro em US$ 28,00/saco.

Vale destacar que, em se mantendo o câmbio ao redor de US$ 1,96, o prêmio em torno de 30 centavos por bushel e Chicago em níveis US$ 14,30/bushel, a projeção de preços, no balcão gaúcho, fica ao redor de R$ 50,50/saco para abril/maio. Caso Chicago recue, pela pressão da oferta sul-americana e aumento da área semeada nos EUA, para níveis de US$ 13,00/bushel, sem alterações nas demais variáveis, o preço projetado da soja, no balcão gaúcho poderá ficar entre R$ 46,00 e R$ 48,00/saco. Enfim, por enquanto a título de exercício futuro, se Chicago vier para US$ 10,50/bushel, para o final do ano, como indica o USDA, em se mantendo as demais variáveis, o preço da soja cairia para R$ 39,50/saco. Claro que tudo isso em condições de safra normal na América do Sul e nos EUA, nesse ano de 2013. Porém, serve de indicativo inicial para a futura safra de 2013/14.

Enfim, como no curto prazo se trata de comercializarmos a safra 2012/13, que no geral está muito boa, embora as perdas no Rio Grande do Sul, importante se faz destacar que a colheita da mesma, até o dia 22/02, atingia a 28% da área nacional, contra 16% na média histórica. No Paraná a área colhida chegava a 36%, no Mato Grosso a 49%, no Mato Grosso do Sul a 38%, em Goiás a 40%, em São Paulo a 10%, em Minas Gerais 16% e Santa
Catarina 1%. (cf. Safras & Mercado) Destaque para Goiás, que vinha com atraso com uma colheita em atraso em relação a média histórica. Agora, a mesma supera em 13 pontos percentuais essa média.

¹Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
²Economista, Mestre em Desenvolvimento, Analista e responsável técnico pelo Laboratório de Economia Aplicada e CEEMA vinculado ao DACEC/UNIJUÍ.