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Boletim Informativo do Centro de Inteligência do Milho – Ano 5 – Edição 61 – Maio de 2013

A história sem fim do milho

Por: Rubens Augusto de Miranda e João Carlos Garcia – Pesquisadores da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo

Situação Mundial

            O plantio de milho no hemisfério Norte se inicia e, com ele, uma nova etapa da história sem fim da produção agrícola em nosso planeta. Como o rio Amazonas, que em determinada época recebe mais água dos seus afluentes no Norte e em outra é alimentado por seus afluentes do Sul, na maioria dos produtos agrícolas esta divisão acontece e as colheitas dos hemisférios Norte e Sul se complementam (a safra de segunda época de milho no Brasil estabeleceu um novo paradigma com suas vantagens e desvantagens).

            Neste ano, o hemisfério Sul colheu uma boa safra de milho, o que serviu para garantir o abastecimento interno nas principais regiões consumidoras do Brasil e viabilizar as exportações pela Argentina, que vão contribuir para encerrar este ciclo turbulento que se iniciou com a quebra da safra de 2012 nos Estados Unidos.

            A safra em processo de colheita na Argentina deve atingir 25,7 milhões de toneladas (segundo o Ministerio de Agricultura, Ganaderia y Pesca da Argentina), produção recorde do país e 21% superior à do ano passado, o que deverá gerar um excedente exportável de 18 milhões de toneladas. Devido ao fato de que toda a produção de milho na Argentina ocorre na safra de verão, a corrida pelas exportações se inicia logo após a colheita e concorre com a soja pela estrutura existente para transporte até os portos e embarque. Neste ano especificamente, é necessário exportar a maior quantidade de milho possível antes da colheita da safra americana, para aproveitar parcialmente as condições de preços ainda altos, que poderão retroceder, dependendo do comportamento da produção americana, a partir do segundo semestre. Embora ainda exista um controle das exportações, a liberação do limite exportável ocorreu de uma só vez e não gradativamente, como anteriormente. Isto facilita a venda mais próxima da colheita.

            Nos Estados Unidos, o plantio se iniciou e está atrasado por motivos climáticos. Em comparação com os 16% da área plantados historicamente nesta época, os 4% semeados até agora já se constituem em motivo de preocupação (este valor é 22 pontos percentuais abaixo do verificado no ano passado, que foi realmente muito antecipado, e 12 pontos percentuais abaixo da média dos últimos cinco anos). Se esta preocupação vai se transformar em um fato negativo, ainda é muito cedo. No ano passado, a antecipação do plantio pode ter agravado o efeito da seca, embora o contrário fosse esperado. De qualquer forma, devido ao parque de máquinas disponível nas principais regiões produtoras, este atraso pode ser recuperado e o jogo da produção de milho começa realmente a ser jogado.

            A perspectiva é otimista (pior não podia ficar) e o simples anúncio de uma disponibilidade maior de milho estocado, não reportada em relatórios anteriores do USDA, reduziu os preços na Bolsa de Chicago em cerca de US$ 1,00 por bushel (de US$ 287 por tonelada para US$ 248) em apenas dois pregões, no início do mês de abril, estabelecendo um patamar ao redor de US$ 6,50 por bushel no restante do mês. O próprio início das atividades de plantio cria um ambiente favorável para a redução dos preços que, convenhamos, se encontravam em níveis insustentáveis.

Como tudo ainda se encontra no plano das expectativas, a próxima safra ainda se anuncia como promissora nos EUA. A área plantada com milho deverá ser recorde, 39,33 milhões de hectares, mas isto é só o início e, a não ser que exista uma propensão para o jogo, o negócio é acompanhar os acontecimentos e se adaptar às situações resultantes.

Situação Interna

            No Brasil, a colheita da safra de verão de milho no Centro-Sul está terminando e o abastecimento do primeiro semestre está garantido. Como resultado, os preços recuaram em praticamente toda a região (embora em algumas praças já se note certa estabilização). No Centro-Oeste, os preços continuam caindo, frente a uma perspectiva favorável de produção na safrinha. Esta confiança no resultado potencial da safrinha tem permitido, inclusive, a ocorrência de exportações de milho pelo porto de Rio Grande – RS (foram exportadas por este porto cerca de 400 mil toneladas de milho no mês de março). Estas exportações são estimuladas pela queda temporal dos preços (é melhor exportar agora do que esperar e ocorrer uma redução ainda maior dos preços). Além disso, estão baseadas também na crença de que vai ser necessária alguma intervenção do governo federal para dar suporte aos preços da Política de Garantia de Preços Mínimos no segundo semestre (ao redor de R$ 17,46 no Sul, Sudeste, MS, GO e DF e R$ 13,02 em MT e RO), o que garantiria o abastecimento no segundo semestre a preços razoáveis.

Quem assistiu, na safra passada, aos pedidos de ações do governo federal no sentido de restringir as exportações de milho, ou mesmo pedidos de importação de milho com isenções fiscais para garantir preços baixos no mercado interno, pode achar estas exportações um pouco ilógicas. A razão se encontra no simples fato de que os produtores sempre buscarão vender ao maior preço possível, mesmo que precisem exportar quando há escassez na região. Ano passado, a indústria de carnes, principal consumidora de milho, chegou a solicitar ao governo federal a restrição às exportações, devido aos preços “impraticáveis” do milho e à impossibilidade de repassar o aumento de custos aos seus produtos, mas se esqueceram de que, em 2010, pagaram R$ 7,00 pelo milho mato-grossense e R$ 14,00 pelo milho paranaense. No final das contas, há sempre reclamações quando se é prejudicado, mesmo com benefícios em passado recente.

            As exportações de milho pelo Brasil continuaram a recuar em março. Foram exportadas cerca de 1,6 milhão de toneladas, com um acumulado de 7,3 milhões de toneladas no primeiro trimestre e 25,6 milhões de toneladas nos últimos 12 meses. Longe de se constituir em um exemplo das dificuldades de logística, motivo de inflamadas e recorrentes declarações que ocupam o noticiário nesta época do ano, isto reflete um novo padrão de utilização dos portos para exportação de milho e soja. As exportações de soja ocorrem a partir de maio, até setembro/outubro, e as exportações de milho acontecem a partir de agosto/setembro, até janeiro/fevereiro. Esta divisão permitiu que fossem exportadas no ano civil de 2012 cerca de 33 milhões de toneladas de soja (um recorde e resultado de um crescimento constante ao longo dos últimos cinco anos) e 19 milhões de toneladas de milho (outro recorde). Além desta segmentação, a incorporação de novos portos ao processo de exportação de milho (como decorrência da abertura de outras frentes regionais de crescimento da área plantada com milho) serve para aliviar a pressão sobre os portos tradicionais. Portos como Vitória – ES (1,8 milhão de toneladas exportadas em 2012); Itacoatiara – AM; Santarém – PA; e São Luiz – MA se encontram nesta situação.

            Este é apenas um dos aspectos de melhoria do processo de produção e de logística que foi possível com o desenvolvimento do plantio de milho na segunda safra, resultado do esforço de pesquisa agrícola realizado pelos pesquisadores e de adaptação das tecnologias pelos agricultores. Como quase tudo na vida, as dificuldades crescem de forma gradativa, assim como as melhorias, que permitem que sejam superadas.