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Milho: considerações para a próxima safra

Por: Rubens Augusto de Miranda e João Carlos Garcia – Pesquisadores da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo

Situação Mundial 

Após o apagão de serviços públicos, ocorrido nos Estados Unidos no mês de outubro, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) voltou a publicar, em novembro, os seus relatórios mensais de oferta e demanda agrícola. O novo relatório apresentou algumas modificações interessantes em relação ao documento  de setembro. Primeiramente, a projeção da safra americana de milho foi aumentada para 355,33 milhões de toneladas, consolidando a safra já considerada recorde. As expectativas relativas às exportações do milho também foram atualizadas, com o aumento da quantidade exportada para 35,56 milhões de toneladas.

 Esse nível de exportações do cereal, praticamente o dobro do ano anterior, novamente eleva o país ao topo das vendas mundiais do grão. Entretanto, a projeção do market-share dos EUA, de 32%, ainda é muito inferior aos dois terços do comércio mundial de milho que o país detinha há alguns anos. As palavras de um especialista em commodities do Citigroup, Art Liming, ilustram a dificuldade do país na reconquista da antiga posição: “vamos recuperar parte desta demanda, mas não vamos conseguir recuperar toda, porque ensinamos o resto do mundo a plantar milho e ensinamos outros importadores a comprar milho de outras origens“. Ou seja, a falta de disponibilidade de milho na safra 2012/13 levou tradicionais compradores do milho norte-americano, como o Japão, por exemplo, a buscarem novos fornecedores (o Japão foi o maior importador de milho do Brasil em 2012 e é o segundo maior em 2013, atrás da Coreia do Sul). A questão é que essas novas relações comerciais não devem ser transitórias, pois a partir de agora tais países devem estabelecer uma maior diversificação de fornecedores para diminuir eventuais riscos de desabastecimento.

 Outras modificações relevantes no relatório são das projeções de consumo e estoques de milho da China. Na atualização, o USDA diminuiu o consumo de milho no país em 2012/13 e 2013/14 em 5 e 8 milhões de toneladas, respectivamente, resultando num aumento de 12,62 milhões de toneladas nos estoques, que passaram de 54,84 para 67,46 milhões de toneladas. Apesar de o órgão não ter dado mais explicações, tal diminuição no consumo pode ser reflexo da desaceleração do crescimento chinês.

 Por fim, superada a quebra de safra dos EUA em 2012/13, a produção mundial de milho em 2013/14 deve aumentar 100 milhões de toneladas em relação ao ano anterior, de acordo com a última projeção, atingindo a marca de 963 milhões de toneladas. Assim, a produção deve suplantar o consumo mundial, a despeito do aumento de 73 milhões de toneladas dele, e daí decorre basicamente a baixa dos preços mundiais do milho no curto prazo.

Situação Interna

Com o atual momento de baixa nos preços, é de se esperar uma diminuição da produção de milho na safra 2013/14 e diversos relatórios têm referendado isso. De acordo com o novo levantamento de intenção de plantio elaborado pela Conab, a área plantada na primeira safra de milho deve recuar entre 3% e 6,5%, sendo que a redução na produção deve chegar até 7,3%, menos 2,5 milhões de toneladas em relação ao verão anterior.

 Segundo as estimativas da consultoria Safras & Mercados, a redução da produção na próxima safra deverá ser de 8,3%, queda de 82 milhões para 75 milhões de toneladas. Além da safra verão, a Safras & Mercados projeta um decréscimo de 3,8 milhões de toneladas, diminuição da produção de milho no inverno. Para explicar essa diminuição cabe lembrar que um dos fatores que impulsionaram o crescimento da segunda safra de milho nos últimos anos foi o aumento da utilização de cultivares de soja superprecoce para acomodar o plantio de milho na safrinha. Entretanto, no atual cenário do mercado de milho, com a expectativa de preços baixos no próximo ano, é possível que ocorra um retorno a uma maior utilização de cultivares de soja precoce e semiprecoce. Ou seja, o produtor pode abrir mão do milho de inverno, que deve ter baixa rentabilidade em 2014, e plantar uma soja de ciclo mais longo para garantir algumas sacas adicionais na produtividade da oleaginosa. Em outras palavras, existe um desestímulo para o plantio de milho nesta safra, decorrente dos baixos preços internos em vigor a partir do início deste ano.

 A queda prenunciada da produção brasileira de milho é ainda mais acentuada na projeção do USDA, que prevê apenas 70 milhões de toneladas no relatório de novembro, lembrando que no documento de setembro a expectativa era de 72 milhões. O intrigante nas projeções do USDA, no que concerne ao Brasil, é que as exportações projetadas aumentaram em 2 milhões de toneladas, totalizando 20 milhões. Essa mudança na projeção das exportações de milho pelo Brasil na verdade reflete o bom momento pelo qual passam as vendas externas do grão. Nesse sentido, a exportação do cereal atingiu o recorde mensal com embarques de 3,953 milhões de toneladas em outubro, quantidade que deve ser ultrapassada em breve. No acompanhamento realizado pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), a média diária das exportações brasileiras de milho atingiu 199 mil toneladas nas três primeiras semanas de novembro. Essa média é 15,8% superior à de outubro, com 171,9 mil toneladas embarcadas nos dias úteis. Essa alta das exportações de milho pode ser parcialmente explicada pela desvalorização cambial ocorrida no decorrer de 2013, com pico em agosto, que torna o milho brasileiro “barato” para os importadores. Adicionalmente, no dia 6 de novembro foi assinado um acordo entre o Brasil e a China que deve render o equivalente a R$ 4 bilhões de vendas do grão para o país asiático;  a preços atuais, isso significa 8 milhões de toneladas de milho. Só não há ainda informações sobre o horizonte de tempo dessas vendas. O importante é que esta manutenção das exportações tem inclusive permitido certa recuperação dos preços internos.

 Apesar da queda da produção de milho em várias projeções da safra 2013/14, a partir da lógica dos produtores em anos anteriores – dado os atuais preços correntes – poderíamos esperar uma diminuição ainda maior. Isso porque, a produção na casa dos 75 milhões de toneladas ainda é superior às demandas domésticas e externas recentes, o que deve continuar pressionando a queda nos preços.

 Na verdade, a “persistência” do produtor se deve ao sistema de produção de sucessão soja-milho que se mantém atraente, com a produção de palhada do cereal, mesmo que os preços do milho não sejam remuneradores. Assim, as próximas safras constituem o derradeiro teste da sustentabilidade desse sistema de produção que tem viabilizado o aumento de produção de milho no Brasil.


2 Comentários

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