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Análise Semanal do Mercado da Soja – 06/05/2016

SojaAs cotações da soja, em Chicago, se mantiveram firmes nesta semana em que iniciou o mês de maio. Houve oscilações nas mesmas, típica de um período dominado pelas notícias climáticas em função do plantio nos EUA e da finalização da colheita na América do Sul. O fechamento para o primeiro mês cotado ficou em US$ 10,03/bushel, nesta quinta-feira (05/05), após ter atingido a US$ 10,35 no dia 02/05. A média de abril ficou em US$ 9,63, após US$ 8,89/bushel em março.

A pressão altista continua igualmente no farelo de soja, com a tonelada curta em Chicago ganhando quase US$ 100,00 nos últimos dois meses. O fechamento do farelo no dia 02/05 ficou em US$ 345,30/tonelada curta, contra US$ 258,10 no dia 1º de março passado.

Além da confirmação de uma redução na safra sul-americana, especialmente na Argentina onde as perdas calculadas chegam a 5 milhões de toneladas e podem alcançar até 9 milhões no final da colheita (15% da safra esperada), o anúncio do Banco Central dos EUA de que dificilmente haverá aumento de juro básico nos próximos meses fortaleceu as cotações em Chicago. Nesse último caso, os fundos e investidores financeiros deixam de buscar ativos atrelados a esse juro e fortalecem suas posições em commodities tais como a soja.

Em função deste conjunto de fatos, o contrato julho, em Chicago, ganhou mais de 11% apenas em abril e iniciou maio com novos ganhos, porém, perdendo força no dia 05/05 em função de tomada de lucros.

O plantio da soja nos EUA atingia a 8% da área no dia 1º de maio, contra 6% na média histórica para esta data.

Vale lembrar que neste próximo dia 10/05 sairá o novo relatório de oferta e demanda do USDA. O mesmo deverá informar a primeira projeção de colheita para a nova safra que está sendo semeada.

Aqui no Brasil, os preços voltaram a subir, mesmo com o dólar se mantendo entre R$ 3,50 e R$ 3,57. Na prática, Chicago continua puxando os valores nacionais. Assim, o balcão gaúcho, na média, voltou a ultrapassar os R$ 70,00/saco, fechando a semana em R$ 71,83/saco. Desde a primeira quinzena de março que o balcão vinha registrando valores abaixo de R$ 70,00. Os lotes, no mercado gaúcho, fecharam a semana em R$ 78,00 e R$ 78,50/saco, enquanto nas demais praças nacionais ficaram entre R$ 66,30/saco em Sapezal (MT) e R$ 79,00/saco no norte e centro do Paraná.

O futuro destes preços irá depender, agora, particularmente da confirmação ou não de uma safra normal nos EUA, já que se projeta influência do fenômeno climático La Niña (porém, não há consenso quanto a sua intensidade), assim como a quebra final na safra argentina. Em havendo frustração de safra nos EUA não se pode descartar Chicago subindo para níveis de US$ 12,00/bushel. Em caso contrário, o mercado poderá se estabilizar entre US$ 9,00 e US$ 10,00/bushel. Nesse último caso, o comportamento cambial no Brasil é que terá mais influência sobre os preços futuros da soja brasileira. Por enquanto, a julgar pelas ações do Banco Central brasileiro, o objetivo é não deixar o Real se valorizar para além de R$ 3,50 por dólar. Tudo indica que o novo governo que assumirá, salvo surpresas, no final desta segunda semana de maio, em função do impedimento temporário da presidente Dilma, não deverá alterar essa estratégia. Entretanto, a possibilidade concreta de o mesmo adotar medidas fortes de correção da economia pode forçar uma valorização maior do Real. Por sua vez, se o mesmo vir a falhar na condução da política econômica, não se pode descartar um retorno ao nível de R$ 4,00.

Dito isso, a colheita da soja brasileira chegou a 96% do total neste início de maio, enquanto o atraso na Argentina persiste, com apenas 24% da área colhida nesse mesmo período.

A comercialização da atual safra, por parte dos produtores brasileiros, tende a avançar a partir deste novo quadro de preços, após a mesma ter atingido a 61% do total (48% no Rio Grande do Sul) até o dia 08/04, conforme Safras & Mercado. Um novo relatório a respeito deverá ser divulgado até meados de maio.

Fonte: CEEMA

Gráfico da SOJA na CBOT (U$/bu) – Vencimento Set/16https://www.tradingview.com/x/hTKyGhq9/

 

Gráfico da SOJA na BM&F (U$/saca) – Vencimento Jun/16https://www.tradingview.com/x/GslNTVkg/

 

Análise Semanal do Mercado de Milho – 06/05/2016

MilhoAs cotações do milho em Chicago, após se aproximarem dos US$ 4,00/bushel durante a semana, acabaram fechando o dia 05/05 em US$ 3,71. A média de abril ficou em US$ 3,72/bushel, contra US$ 3,63 em março.

O mercado espera o relatório de oferta e demanda deste dia 10/05 para assumir uma posição mais concreta em relação à safra nova.

Até o momento o clima está normal nas regiões produtoras de milho e soja nos EUA, sendo que a semeadura do cereal alcançou a 45% da área no dia 1º de maio. Porém, ainda haveria tempo para o produtor estadunidense mudar de estratégia, optando mais pela soja do que milho diante da reação dos preços da oleaginosa.

Por sua vez, há boa demanda externa pelo milho dos EUA na medida em que o Brasil e a Argentina estão pouco presentes no mercado exportador nesse momento. As vendas líquidas de milho, por parte dos EUA, atingiram a 2,16 milhões de toneladas na semana encerrada em 21/04, estabelecendo um recorde para o período.

Na Argentina e no Paraguai a tonelada FOB para exportação ficou em US$ 175,00 e US$ 172,50 respectivamente. Nota-se o forte aumento dos preços do produto paraguaio nestas últimas semanas.

No Brasil, os preços do cereal continuaram firmes, com o balcão gaúcho fechando a semana em R$ 43,32/saco, enquanto os lotes ficaram em R$ 54,00/saco. Nas demais praças nacionais os lotes oscilaram entre R$ 38,00/saco em Campo Novo do Parecis e Sapezal (MT), e R$ 56,00/saco em Concórdia, Chapecó e Videira (SC).

A crise de abastecimento de milho continuou durante todo o mês de abril, havendo grandes preocupações em relação a continuidade deste problema devido à quebra da safrinha pela seca no Centro-Oeste e alguma geada ocorrida no final de abril no Paraná. Nesse último caso o fenômeno teria sido relativamente fraco, não provocando grandes estragos.

Com isso, na BM&F o mês de setembro passou a testar níveis de preços ao redor de R$ 41,00/saco, enquanto as tradings, se desejarem retomar os negócios de exportação, terão que aumentar os prêmios no porto (cf. Safras & Mercado).

Com uma quebra calculada, por enquanto, superior a 5 milhões de toneladas na safrinha brasileira, a produção total de milho em 2016 está agora estimada em 82,5 milhões de toneladas no país.

Por outro lado, as exportações de milho em abril ficaram em apenas 367.600 toneladas segundo o governo brasileiro.

A semana terminou com ofertas de milho safrinha, para julho, em São Paulo, a R$ 44,00/R$ 45,00 por saco, mais ICMS, sendo a origem do produto o Mato Grosso. O porto de Santos, por sua vez, indicou R$ 35,50/saco para agosto e setembro. Em Goiás, forte produtor de milho safrinha, o mercado está parado, havendo dúvidas quanto ao real tamanho da safrinha (cf. Safras & Mercado).

Fonte: CEEMA

Gráfico do MILHO na CBOT (U$/bu) – Vencimento Set/16https://www.tradingview.com/x/02q8y7yD/

Gráfico do MILHO na BM&F (R$/saca) – Vencimento Set/16https://www.tradingview.com/x/5wOXUM5n/

 

Análise Semanal do Mercado de Trigo – 06/05/2016

TrigoAs cotações do trigo em Chicago recuaram novamente durante a semana, fechando a quinta-feira (05) em US$ 4,53/bushel, após US$ 4,77 no dia 02/05. A média de abril ficou em US$ 4,71/bushel, contra US$ 4,63 em março.

A fraqueza do dólar estimulou as exportações estadunidenses, o que deu um certo alento às cotações em alguns momentos da semana.

Por outro lado, as vendas líquidas norte-americanas de trigo, para o ano 2015/16 iniciado em 1º de junho, ficaram em 351.900 toneladas na semana encerrada em 21/04. As mesmas ficaram bem acima da média das quatro semanas anteriores. O México foi o maior comprador, com 118.800 toneladas. Paralelamente, as inspeções de exportação atingiram a 355.757 toneladas na semana encerrada em 28/04.

Ao mesmo tempo, o USDA divulgou as condições das lavouras estadunidenses no dia 1º de maio passado. As mesmas apresentavam 61% entre boas a excelentes, 32% regulares e 7% entre ruins a muito ruins. Em relação à semana anterior houve melhoria nas condições das mesmas. Já o plantio do trigo de primavera, na mesma data, atingia a 54%, contra a média histórica de 39% para esta época do ano.

Nos países do Mercosul, a tonelada de trigo FOB exportação ficou cotada entre US$ 170,00 e US$ 200,00, repetindo o que ocorre há algumas semanas.

No Brasil, o preço do trigo subiu um pouco graças a alguma retomada de compra por parte dos moinhos e pela escassez de produto de qualidade. No Rio Grande do Sul o mesmo ganhou 3%, enquanto no Paraná o ganho foi de 0,85%. A média gaúcha no balcão fechou a semana em R$ 34,53/saco, enquanto os lotes chegaram a valores entre R$ 700,00 e R$ 720,00/tonelada (R$ 42,00 e R$ 43,20/saco). No Paraná, os lotes se mantiveram entre R$ 780,00 e R$ 800,00/tonelada, ou seja, entre R$ 46,80 e R$ 48,00/saco. Com a melhora na logística de transporte, a partir do encerramento da safra de soja, e a melhoria na demanda da indústria, certo número de produtores paranaenses tentam firmar posição em torno de R$ 900,00/tonelada para o seu produto de qualidade superior. Todavia, os negócios não têm avançado.

Em abril o Brasil importou mais 456.000 toneladas, sendo 302.000 da Argentina, 94.500 do Uruguai e 48.000 toneladas do Paraguai. O restante veio de outros países produtores. Mas o país igualmente exportou trigo, esse de baixa qualidade, num total de 92.500 toneladas para a Colômbia e as Filipinas. A totalidade do trigo exportado teve origem no Rio Grande do Sul (cf. Safras & Mercado).

O plantio da nova safra de trigo brasileira alcançou 3% da área total esperada, ficando abaixo da média histórica, que é de 5% para o período.

Dito isso, em função do câmbio atualmente praticado no Brasil (ao redor de R$ 3,50 por dólar), não há muita expectativa de melhoria nos preços nacionais do cereal já que o produto importado chega a preços mais baixos do que os praticados internamente.

Fonte: CEEMA

Gráfico do TRIGO na CBOT – Vencimento Set/16https://www.tradingview.com/x/9LqMqJST/

 

Muito além do R$ 1,99: o desafio chinês no mercado de milho

MilhoNo decorrer dos últimos anos, tem-se discutido muito sobre o momento no qual a China seguirá o mesmo caminho percorrido na cultura da soja e se tornará, também, o maior comprador global de milho. Infelizmente a realidade é cruel com os que fazem previsões e há indícios de que um caminho reverso ao esperado pode ocorrer, pelo menos no curto prazo.

Anualmente, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) apresenta um relatório com projeções de comércio mundial do agronegócio para cada ano da década seguinte. No documento lançado em 2014, havia a expectativa de que a China ultrapassaria o Japão como maior importador de milho, em 2020/21, e chegaria a 22 milhões de toneladas adquiridas em 2023/24. Dois anos depois, os números passaram a ser bem mais modestos. No relatório de 2016, a China na próxima década, em momento, algum aparece entre os cinco maiores importadores. Além disso, a projeção para 2023/24 foi reduzida para 5,6 milhões de toneladas e poderá chegar ao máximo de 6,3 milhões de toneladas em 2025/26.

Se não bastassem as alterações substanciais, as projeções podem estar muito aquém do que pode acontecer de fato. Isso porque existe a possibilidade de a China passar a exportar milho massivamente no curto prazo, o que certamente chacoalharia o mercado mundial dessa commodity.

O que ocorreu para que o cenário futuro tenha mudado tanto em apenas dois anos? Na agricultura, em razão da imprevisibilidade do clima, grandes mudanças podem ocorrer de um ano para outro, vide a quebra da safra de milho dos EUA em 2012/13. Contudo, grandes mudanças em projeções de longo prazo refletem questões mais complexas e que não são transitórias.

Muita coisa mudou nos últimos dois anos, e não estamos falando apenas dos indícios de desaceleração da economia chinesa. A questão é muito mais intrincada. O problema é que a China se encontra na encruzilhada que todo país emergente em processo de urbanização passa em algum momento, que é o êxodo rural acelerado e a necessidade de modernização da agricultura para aumentar a produtividade e contrabalançar a diminuição da mão de obra no campo.

Nas últimas décadas, o país obteve taxas de crescimento econômico de dois dígitos, mas a riqueza desse boom ainda está circunscrita aos centros urbanos, marginalizando centenas de milhões de pessoas de usufruírem do bem-estar da emergente sociedade de consumo. Essas condições somadas a governos menos preocupados com a questão rural poderiam resultar numa nova Grande Marcha, só que, agora, em direção às grandes cidades.

Obviamente a ida para a cidade não é garantia de riqueza. Na verdade, o que provavelmente os espera é uma relação de trabalho altamente exploradora e mal remunerada. Mas a alternativa é a certeza da pobreza rural.

Vamos olhar o tamanho do problema chinês. Atualmente, a estrutura agrária na China é extremamente pulverizada. Dados censitários indicam que a maior parte da produção agrícola chinesa é cultivada em mais de 200 milhões de pequenas propriedades. Em 2010, o tamanho médio de uma propriedade agrícola chinesa era de 0,6 hectares. Fazendo um cálculo rápido sobre os 37,1 milhões de hectares plantados com milho na safra 2014/15, teríamos algo em torno de 61,8 milhões de pequenas propriedades somente para o cereal.

Há o entendimento de que a modernização da agricultura na China só será viável com a concentração das propriedades rurais em unidades maiores. Dando atenção a isso, o Décimo Terceiro Plano Quinquenal (2016-20) será focado na reforma agrícola para estimular a produção em grandes propriedades. Zou Lixing, dirigente do Banco de Desenvolvimento Chinês, recentemente disse que o objetivo é que, em 30 anos, 85% da produção rural seja provida por 7% da força de trabalho.  A título de comparação, nos EUA, apenas 1,5% da força de trabalho respondem por praticamente toda a produção agropecuária.

Desde a fundação da República Popular da China, em 1949, o país passou por mudanças profundas na sua estrutura agrária. Após a revolução, o novo governo confiscou as terras dos latifundiários e camponeses ricos e as distribuiu para famílias de agricultores em bases igualitárias. Sob influência do sistema soviético, na década de 1950, a China iniciou o processo de coletivização da agricultura, no qual as famílias de agricultores tiveram que entregar as suas terras para uma entidade coletiva. Posteriormente, o Sistema de Responsabilidade Familiar garantiu a ampliação dos direitos dos produtores em relação ao uso da terra, apesar de manter a posse coletiva da terra. Em 29 de agosto de 2002, após anos de elaboração e deliberação, foi aprovada a Lei de Contratação da Terra Rural. Levada a efeito a partir de 1º de março de 2003, foi a primeira lei moderna a tratar exclusivamente da questão da posse da terra rural.

Um dos objetivos da lei foi de formalizar o mercado de arrendamento de terras rurais para viabilizar o aumento do tamanho das propriedades. Até então, os contratos de arrendamento eram informais e orais, valendo muitas vezes por apenas uma safra. A reforma que acompanhará o novo Plano Quinquenal (2016-20) tentará estimular o arrendamento para grandes grupos e empresas e acelerar o processo de concentração da produção.

A despeito do sistema formal de arrendamento estabelecido em 2003, a partir deste mesmo ano o governo chinês passou a oferecer subsídios e a comprar produtos agrícolas com preços mínimos remuneradores. Tal política não apenas estimulou o aumento da produção de grãos sucessivamente por mais de uma década, como também ajudou a segurar o produtor rural na terra com a garantia de renda.

O cuidado na administração do potencial deslocamento de dezenas, ou mesmo centenas, de milhões de pessoas do campo para a cidade levou a políticas aparentemente contraditórias. Se de um lado os subsídios seguram o produtor no campo, por outro a modernização agrícola almejada ocorre por meio de políticas que estimulam o êxodo rural, mas sem interferir no sistema hukou.

O hukou basicamente é um sistema de registro de residência que prende o indivíduo a determinada localidade. A mudança do campo para a cidade sem autorização deixa a pessoa na ilegalidade. Para se ter acesso total a escolas e hospitais nas cidades a um custo subsidiado é preciso o hukou urbano. O problema é que a alteração do hukou rural para o urbano é difícil. Uma analogia que se faz dos trabalhadores do campo que vão para a cidade sem o hukou urbano é de imigrantes ilegais nos EUA. No final das contas, a política de arrendamento que se tem procurado desenvolver acabará por criar uma grande classe de rentistas rurais nas cidades, mesmo sem a obtenção do hukou urbano.

Cabe lembrar que êxodo rural, diminuição da pobreza, modernização da agricultura não são as únicas variáveis da complicada equação chinesa, pois um país com mais de 1 bilhão de habitantes sempre estará em alerta no que se refere a segurança alimentar. Nesse sentido, o grande líder chinês Deng Xiaoping, criador do chamado comunismo de mercado, orientava o seu governo a partir do princípio de que a China deveria evitar depender de importações para satisfazer a demanda por alimentos e a importação de grãos não deveria ser superior a 10% da necessidade total. Esse princípio norteou as políticas agrícolas chinesas ao longo de meio século.

Poder-se-ia argumentar que a soja não se enquadra nesse esquema. No entanto, por mais que a produção de soja tenha se estagnado e quase toda a demanda doméstica seja garantida pelas importações, para os demais grãos, como o milho, as aquisições externas beiram apenas 3% da necessidade total.

Assim, com preços mínimos estimulantes, nos últimos 13 anos a produção chinesa de milho cresceu mais do que a demanda. O resultado final é que diversos analistas apontam que os estoques chineses de milho estão entre 200 e 250 milhões de toneladas, volume que equivale a um ano de consumo do país. Numa economia de mercado, esse excesso de oferta derrubaria os preços, que por sua vez desestimularia a produção e engendraria um aumento de preços no futuro. Os mercados agrícolas, com pouca ou nenhuma intervenção, funcionam basicamente dessa forma. Preços altos ou baixos provocam ajustes na oferta para gerar um novo equilíbrio, mas não foi isso o que aconteceu na China.

A narrativa chinesa pode soar familiar porque o Brasil fez algo muito parecido com o café durante décadas. Para garantir a renda na nossa economia primário-exportadora, o governo comprava café e queimava. Assim, os preços eram mantidos a níveis remuneradores que estimulavam ainda mais a oferta, havendo a necessidade de todo ano comprar e queimar mais café. Entretanto, a experiência brasileira difere da China atual pelo fato de que não estocávamos todo o café adquirido pelo governo.

A atual política de preços mínimos na China acabou então por gerar uma série de distorções, como a formação de um estoque gigantesco, caro de ser manter e que não reflete nos preços domésticos. O milho importado dos Estados Unidos chega à China por 1,14 yuan (US$ 0,18) o kg, enquanto que o governo paga ao produtor 2 yuanes (US$ 0,31) o kg.

Infelizmente, a indústria local não consegue recorrer ao milho importado mais barato, pois existe uma cota de importação que sobretaxa quantidades acima dela. A saída é a importação de substitutos ao milho não restritos a cotas, como o sorgo e a cevada. Estima-se que em 2015 foram importados 30 milhões de toneladas desses substitutos. O que é só mais uma das distorções do mercado.

Uma das justificativas da formação de estoques é a regulação da oferta, permitindo postergar a venda presente para garantir um preço melhor no futuro. Acontece que isso tem um custo, e o armazenamento por um período excessivamente longo pode ocasionar a perda total. Sobre esse ponto, recentemente o escritório do USDA em Pequim publicou um relatório dizendo que nos estoques chineses há, pelo menos, mais de 20 milhões de toneladas de milho que “estão tão mofados ou deteriorados que já não são adequados ao consumo humano ou animal”. Especula-se que parte desse montante ainda pode ser utilizada para a produção de etanol, mas o sinal de alerta foi ligado.

Antevendo o problema que se avoluma, não somente em relação ao milho, o governo chinês anunciou no último mês de março que os preços de todas as culturas, excetuando-se trigo e arroz, serão definidos pelo mercado. Comprar caro e vender “barato” só pode resultar em prejuízo, que no caso será absorvido pelas empresas estatais de abastecimento.

Segundo o USDA, a empresa estatal de armazenamento de grãos, China Grain Reserves Corp., ou simplesmente Sino Grain, planeja vender uma quantidade grande, mas não especificada, de milho com três anos estoque por 1.400 yuanes (US$ 216) a tonelada. Avaliando que o preço de apoio pago pelo Governo aos produtores recentemente foi estipulado em 2.000 yuanes (US$ 308) a tonelada, nessa venda haverá uma perda de 600 yuanes (US$ 92) por tonelada. O USDA estima que essa política de redução do preço de venda dos estoques de milho pode gerar perdas de até US$ 10 bilhões.

As perdas são inegavelmente altas, mas não há alternativas viáveis. A operação na verdade só consolida o prejuízo. Optar por não fazer nada e continuar com a política atual só faz com que o prejuízo não seja contabilizado, tornado a questão dos estoques uma coleção de esqueletos no armário.

Gert-Jan van den Akker, presidente da Cargill, disse recentemente no evento do Financial Times Commodities Global Summit, que existe 50% de chances de a China exportar parte dos seus estoques de milho. Considerando que os vizinhos Japão, Coreia do Sul e Taiwan estão entre os maiores importadores do cereal no mundo, a clientela já está à porta de casa. Caso as exportações chinesas ocorram, seria um baque nos preços internacionais do milho, que já estão relativamente baixos.

Porém, vale ressaltar que os preços que a Sino Grain planeja vender dos seus estoques de milho com três anos de armazenamento não são competitivos para o mercado internacional.  É caro e de má qualidade. O milho dos Estados Unidos, do Brasil e da Argentina chega ao mar da China por menos de US$ 200 a tonelada. Ou seja, algo novo precisa acontecer para que essas exportações ocorram de fato. Diminuir ainda mais o preço é uma possibilidade.

Fontes da indústria alegam que além da redução dos estoques, a China planeja diminuir a área plantada e a produção de milho até 2020. Tais fontes citam propostas da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reformas, órgão de planejamento do país. O objetivo seria reduzir a produção para chegar a 175 milhões de toneladas.

O curioso é que se se confirmarem os cenários apresentados, teríamos exportações chinesas de milho derrubando os preços internacionais no curto prazo, e no médio/longo prazo veríamos a China comprar 50 milhões de toneladas do cereal, o que faria os preços alcançarem patamares nunca vistos.

O que esperar de tudo isso? É certo que a China tem desafios para confrontar, mas as informações de lá nem sempre são muito confiáveis e é difícil fazer previsões. No fim, a única certeza, como diria o falecido economista britânico John Maynard Keynes, é que no futuro estaremos todos mortos.

Fonte: Rubens Augusto de Miranda – Pesquisador da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo.

Análise Semanal do Mercado de Milho – 22/04/2016

MilhoAs cotações do milho em Chicago subiram um pouco durante a semana, fechando o dia 21/04 em US$ 3,84/bushel, após US$ 3,74 uma semana antes. Nota-se que tal aumento foi bem menos intenso do que o ocorrido na soja e mesmo no trigo. Isso significa que há possibilidade de uma reversão na intenção de plantio dos produtores dos EUA, com um aumento na área de soja em detrimento do milho. A questão agora é esperar os reais efeitos deste jogo especulativo dos preços nas próximas semanas, assim como o comportamento do clima naquele país, já que o milho vem sendo semeado.

O clima no Brasil (seca) sobre a safrinha, com perdas irreversíveis, e o excesso de chuva na Argentina, com perdas na qualidade do produto de verão e até mesmo na quantidade, favorecem a exportação do produto dos EUA, fato que ajudou a elevar a cotação em Chicago. Assim, as vendas líquidas de milho, no ano comercial 2015/16, na semana encerrada em 07/04, atingiram a 1,14 milhão de toneladas, sendo 21% superiores à média das quatro semanas anteriores.

Estamos em pleno “mercado do clima” nos EUA, o qual se estende agora para a América do Sul, tornando muito importante todo e qualquer acontecimento nesta área.

As notícias de perdas no Brasil e na Argentina aumentam a cada dia que passa, somente faltando calcular o tamanho das mesmas.

Entretanto, contrabalançando esse movimento altista tem-se que o plantio da safra de milho nos EUA, contrariamente ao que se especulava nas duas semanas anteriores, avança bem. O mesmo chegava a 13% da área esperada, contra 8% na média histórica até o dia 17/04 (cf. Safras & Mercado).

Por sua vez, a frustração nas safras de verão da Argentina, a partir das fortes e constantes chuvas destas últimas semanas naquele país, fizeram o preço do milho igualmente subir. A tonelada para exportação, preço FOB, bateu em US$ 183,00 nesta semana, enquanto no Paraguai a mesma alcançou a US$ 150,00.

Já no mercado brasileiro, os preços continuam firmes, especialmente agora em que se confirma quebra na futura colheita da safrinha. O balcão gaúcho fechou a semana em R$ 41,87/saco, enquanto os lotes ficaram entre R$ 51,50 e R$ 52,00/saco. Nas demais praças nacionais, os lotes giraram entre R$ 36,00/saco em Sapezal e Campo Novo do Parecis (MT) e R$ 52,00/saco em Videira e Concórdia (SC).

No geral, os consumidores brasileiros de milho encontram sérios problemas para se abastecerem do cereal, absorvendo o que surge no mercado. Além disso, a estiagem que se abate em parte do Sudeste e Centro-Oeste diminui a safrinha, causando ainda mais pressão sobre os preços. Dependendo do tamanho da quebra, os preços poderão não mais recuar dos atuais níveis (ou recuar bem menos do que o esperado) até o final do ano. Para isso, muita coisa estará igualmente dependente do volume que alcançarão as exportações brasileiras do cereal a partir do segundo semestre.

Por enquanto, os embarques estão fracos, somando 209.600 toneladas no mês de abril, enquanto o movimento de importação continua junto aos consumidores do sul do país.

Na prática, o mercado ainda não precificou a quebra da safrinha. Tanto é verdade que o mercado continua trabalhando com R$ 38,00/saco para setembro na BM&F paulista.

Por outro lado, os produtores, cientes de que a safrinha enfrenta problemas, estão vendendo menos a espera de preços ainda mais altos futuramente.

Enfim, a semana terminou com a importação, no CIF indústrias brasileiras, valendo R$ 49,31/saco para o produto dos EUA e R$ 48,72 para o produto da Argentina, ambos para abril. Já para maio, o produto argentino ficou em R$ 50,85. Na exportação, o transferido via Paranaguá somou R$ 38,45/saco para abril; R$ 36,26 para maio; R$ 35,26 para junho; R$ 34,71 para julho; R$ 34,53 para agosto; R$ 34,37 para setembro; R$ 34,95 para outubro; e R$ 35,21/saco para novembro.

Fonte: CEEMA.

Gráfico do Milho na CBOT (Chicago) – Vencimento Mai/16https://www.tradingview.com/x/EUVLPgMN/

Gráfico do Milho na CBOT (Chicago) – Vencimento Set/16https://www.tradingview.com/x/KLxc5qbK/

Gráfico do Milho na BM&F – Vencimento Set/16https://www.tradingview.com/x/bWuySWiE/.

Análise Semanal do Mercado de Trigo – 22/04/2016

TrigoAs cotações do trigo subiram fortemente nesta semana, acompanhando o movimento da soja. O bushel chegou a bater em US$ 5,04 no fechamento do dia 20/04, se constituindo este valor no mais alto desde o início de novembro passado. Posteriormente, a tomada de lucros e a realidade de uma oferta importante reduziram as cotações, com o fechamento desta quinta-feira (21) ficando em US$ 4,95. Mesmo assim, bem acima do fechamento da semana anterior, que foi de US$ 4,59.

Houve boa demanda pelo produto dos EUA, com as inspeções de exportação, na semana encerrada em 14/04, ficando em 456.924 toneladas. Com isso, o acumulado do ano comercial 2015/16, que se encerra em 31/05 próximo, chega a 20,2 milhões de toneladas, contra 19,6 milhões em igual momento do ano anterior. Já as vendas líquidas, para o mesmo ano comercial, atingiram a 124.700 toneladas na semana encerrada em 07/04. As mesmas ficaram 41% abaixo da média das quatro semanas anteriores. Para o ano comercial 2016/17 o volume vendido foi de 211.500 toneladas.

Ao mesmo tempo, o USDA divulgou as condições das lavouras estadunidenses, sendo que até o dia 17/04 cerca de 54% estavam entre boas a excelentes, 34% regulares e 9% entre ruins a muito ruins.

No Mercosul, a tonelada FOB para exportação registrou valores entre US$ 170,00 e US$ 200,00, sem modificações em relação a média das últimas semanas.

Aqui no Brasil, os preços continuam estabilizados. A média no balcão gaúcho fechou a terceira semana de abril em R$ 33,93/saco, enquanto os lotes permaneceram em R$ 680,00/tonelada (R$ 40,80/saco). No Paraná os lotes se mantiveram entre R$ 780,00 e R$ 800,00/tonelada, ou seja, entre R$ 46,80 e R$ 48,00/saco.

Continua uma reduzida liquidez interna, fato que leva o mercado a não reagir nem mesmo diante de preços de importação mais baratos e um dólar ao redor de R$ 3,55. Os moinhos continuam estocados, com grande dificuldade para escoar a farinha diante da crise econômica profunda que vive o Brasil. Desta maneira, uma possível recuperação de preços, agora prevista para maio, pode não acontecer como o esperado, devendo demorar mais tempo.

No final da semana o trigo argentino estava 0,6% mais caro do que o referencial interno, enquanto o produto do Uruguai e do Paraguai estava 1,4% e 4,3% respectivamente mais atrativo (cf. Safras & Mercado).

O mercado interno espera com ansiedade o momento em que os moinhos deverão recompor estoques e, com isso, buscar com mais intensidade o produto nacional de qualidade superior, hoje muito escasso no Brasil.

Dito isso, em o Real se mantendo valorizado nos atuais níveis, as importações deverão aumentar, prejudicando a melhoria do preço nacional. Mesmo assim, no médio prazo a tendência é de os preços brasileiros do trigo aumentarem. Isso se deve, além da escassez de produto de qualidade, devido a frustração da última safra, ao fato de que haverá forte redução na área semeada na atual safra de inverno. No Rio Grande do Sul, por exemplo, as últimas estimativas dão conta de que a redução na área semeada com trigo possa chegar a 30%.

Enfim, o governo, com o novo preço mínimo anunciado, procura estimular o trigo de alta qualidade, já que não valorizou os demais trigos. Isso nos parece insuficiente para reverter a tendência de plantio diante dos altos custos de produção atuais e das constantes intempéries que se abatem anualmente sobre a cultura. Além disso, mesmo que se espere preços melhores em função deste quadro interno, não se pode esquecer que a Argentina deverá ser muito mais agressiva nas suas exportações, neste ano, graças a retirada do imposto de exportação sobre o trigo no final do ano passado.

Fonte: CEEMA

Gráfico do TRIGO na CBOT (Chicago) – Vencimento Mai/16https://www.tradingview.com/x/sO673b3s/

Análise Semanal do Mercado de Soja – 01/04/2016

SojaAs cotações da soja em Chicago oscilaram bastante nesta semana do relatório de intenção de plantio nos EUA. O bushel da oleaginosa, para o primeiro mês cotado, todavia, sempre ficou acima de US$ 9,00, tendo fechado o dia 30/03 em US$ 9,09. Na quinta-feira (31), após o anúncio do relatório de intenção de plantio dos produtores estadunidenses o fechamento ficou em US$ 9,10/bushel.

De fato, a grande expectativa do mercado era em relação ao relatório. O mesmo trouxe que a área com soja nos EUA será 1% menor do que a do ano anterior, ficando 33,26 milhões de hectares (um pouco abaixo do esperado pelo mercado). Ao mesmo tempo, os estoques trimestrais, na posição 1º de março, indicaram um volume de 41,64 milhões de toneladas, 15% acima do registrado no mesmo período do ano anterior, porém, igualmente um pouco abaixo do esperado pelo mercado. A expectativa do mercado era para uma área de 33,56 milhões de hectares e estoques em 42,7 milhões de toneladas. Mesmo assim, Chicago acabou tendo um comportamento neutro no pregão deste dia 31/03. Todavia, poderá subir um pouco nos próximos dias, porém, muita coisa irá, agora, depender do clima nos EUA. É bom lembrar que parte do mercado esperava uma redução de área até maior do que foi anunciado.

Em falando de clima, no início desta semana o clima úmido em partes das regiões produtoras dos EUA deixou o mercado mais aquecido, pois há o temor de que as chuvas possam atrasar o plantio da soja, embora ainda esteja muito cedo para isso.

Por outro lado, foram fracas as exportações semanais estadunidenses, que somaram 440.100 toneladas na semana encerrada em 17/03, embora as vendas líquidas de farelo de soja tenham subido para 468.700 toneladas. Vale registrar igualmente que o óleo de soja está com cotações muito firmes, batendo nos níveis mais altos dos últimos tempos.

Por sua vez, as inspeções de exportação chegaram a 567.528 toneladas na semana encerrada em 24/03. No acumulado do ano comercial 2015/16 o volume chega a 41,2 milhões de toneladas, contra 44,3 milhões em igual período do ano anterior.

Pelo lado altista, a lentidão das vendas sul-americanas, especialmente no Brasil onde a soja perdeu valor em moeda nacional devido a desvalorização do real, somada a possibilidade de menor produção de óleo de palma na Malásia, devido a seca, sustentou o mercado na semana, antes do relatório do dia 31/03.

No Brasil, com o câmbio se mantendo ao redor de R$ 3,62 por dólar, os preços da soja estacionaram, com poucas oscilações. A média gaúcha no balcão ficou em R$ 67,69/saco, enquanto os lotes continuaram em R$ 71,00/saco. Nas demais praças nacionais os lotes registraram R$ 57,80/saco em Sorriso (MT) e R$ 69,50/saco no norte do Paraná.

A colheita continua avançando, tendo sofrido um certo atraso no final de semana de Páscoa devido as fortes e constantes chuvas no sul do país, gerando algumas preocupações localizadas quanto a qualidade do produto colhido.

Os preços mais baixos das últimas semanas, na medida em que o câmbio se estabilizou entre R$ 3,60 e R$ 3,70 por dólar freou um pouco o ímpeto de vendas, com os produtores esperando o desenrolar dos acontecimentos políticos nacionais. Todavia, em muitos casos, se aproxima o momento de fazer caixa para o pagamento dos financiamentos, o que deve forçar vendas a qualquer preço.

Fonte: CEEMA

Soja – CBOT (Chicago) – Contrato Set/16https://www.tradingview.com/x/1d2Oov63/

Soja – BM&F – Contrato Mai/16https://www.tradingview.com/x/062PzcHx/

Análise Semanal do Mercado de Milho – 01/04/2016

MilhoAs cotações do milho em Chicago pouco variaram novamente durante a semana, tendo fechado o dia 30/03, véspera do relatório de intenção de plantio, em US$ 3,67/bushel. Entretanto, o relatório surpreendeu negativamente o mercado, fato que derrubou as cotações após o seu anúncio, com o fechamento da quinta-feira (31), para o primeiro mês cotado, ficando em US$ 3,51/bushel.

Efetivamente, a grande expectativa do mercado era em relação ao relatório, com o mercado esperando uma área de milho ao redor de 36,44 milhões de hectares. O mesmo trouxe os seguintes dados: uma área em crescimento de 6%, devendo atingir a 37,88 milhões de hectares; estoques trimestrais, na posição 1º de março, em 195,6 milhões de toneladas, com aumento de 1% sobre igual momento do ano anterior.

Ao mesmo tempo, as exportações da semana anterior chegaram a 803.200 toneladas, sendo consideradas boas. Já as inspeções de exportação de milho somaram 977.686 toneladas na semana encerrada em 24/03, acumulando um total de 18,5 milhões de toneladas no atual ano comercial 2015/16, contra 22,3 milhões em igual momento do ano anterior.

Assim como no caso da soja, a partir de agora o clima nos EUA irá direcionar muito as cotações do cereal em Chicago.

Na Argentina e no Paraguai, a tonelada FOB para exportação ficou, respectivamente, em US$ 166,00 e US$ 152,50, com novos aumentos em relação a semana anterior.

No Brasil, o preço do milho aos produtores se manteve firme, com o balcão gaúcho fechando na média de R$ 36,89/saco, enquanto os lotes já atingem R$ 49,00/saco no Planalto Médio e Norte do Estado. Nas demais praças nacionais os lotes ficaram em R$ 31,50/saco em Sapezal (MT) e R$ 46,50/saco em Guarapuava (PR) e Videira, Concórdia e Chapecó (SC). No interior paulista o mercado físico já bateu, em alguns momentos, em R$ 50,00/saco, enquanto o referencial Campinas (SP) chegou a R$ 54,00/saco CIF.

Nas regiões de colheita de soja, a falta de milho novo é maior já que os produtores se dedicam a cortar, em prioridade, a oleaginosa, deixando para depois o cereal.

Ao mesmo tempo, mesmo tendo que importar milho no momento, o Brasil não segura suas exportações. Até o início da última semana de março o total exportado era de 1,83 milhão de toneladas no mês, a um preço médio de US$ 167,10/tonelada. Isso equivale, ao câmbio de hoje, a algo em torno de R$ 36,29/saco. Ou seja, o mercado interno está pagando bem mais do que a exportação, porém, esta última continua.

É bom lembrar que a carência do cereal no momento se dá em função da forte exportação no ano comercial passado (01/02/2015 a 31/01/2016), quando o país atingiu a 34,2 milhões de toneladas segundo dados portuários (cf. Safras & Mercado); e da forte redução da área semeada na safra de verão.

Nesse momento cerca de 14 milhões de toneladas da futura safrinha já estariam comprometidos para a exportação, faltando teoricamente 20% ainda para ser comercializado, considerando as necessidades internas (cf. Safras & Mercado).

Até o início da última semana de março a colheita de verão no Centro-Sul brasileiro chegava a 70% do total, sendo 88% no Rio Grande do Sul e 75% em Santa Catarina. Já a safrinha estava com a totalidade de sua área semeada, somando 10,4 milhões de hectares, o que representa um aumento de 10,6% sobre o ano anterior.

Para se ter uma ideia do aumento atual dos preços do milho, que estão ao redor de R$ 45,00/saco na média do Centro-Sul do país, há 10 anos atrás o mesmo era de R$ 12,81/saco e em 2015, no início do ano, registrava tão somente R$ 21,00/saco. Ou seja, de um ano para outro o preço mais do que dobrou. Isso vem penalizando consideravelmente os consumidores de ração animal, especialmente aves e suínos.

Enfim, ainda vale destacar que as importações da Argentina e do Paraguai estão muito lentas, o que não ajuda a reverter o processo de alta do milho no mercado interno brasileiro.

A semana terminou com a importação. No CIF indústrias brasileiras, valendo R$ 47,17/saco para o produto procedente dos EUA e R$ 45,84/saco para o produto da Argentina, ambos para março. Já para abril o produto argentino ficou em R$ 48,01/saco. Na exportação, o transferido via Paranaguá registrou os seguintes valores: R$ 37,82/saco para março; R$ 38,02 para abril; R$ 35,72 para maio; R$ 36,47 para julho; R$ 32,99 para agosto e setembro; R$ 33,02 para outubro; e R$ 33,26/saco para novembro.

Fonte: CEEMA

Milho – CBOT (Chicago) – Contrato Set/16https://www.tradingview.com/x/V3cunq2y/

Milho – BM&F – Contrato Set/16https://www.tradingview.com/x/ujoohxGs/

Análise Semanal do Mercado de Trigo – 01/04/2016

TrigoAs cotações do trigo em Chicago pouco se alteraram durante a última semana de março. O bushel, para o primeiro mês cotado, fechou o dia 30 (véspera do relatório de intenção de plantio nos EUA) em US$ 4,64, após US$ 4,76 no dia anterior. Já no dia 31/03, após o anúncio do relatório, o fechamento ficou em US$ 4,73/bushel.

O mercado esperava uma área semeada com trigo em 20,9 milhões de hectares. O relatório acabou trazendo uma área um pouco menor, de 20,07 milhões na projeção. Ao mesmo tempo, os estoques trimestrais, posição 1º de março, ficaram em 37,28 milhões de toneladas, ou seja, 20% acima do registrado no mesmo período do ano anterior. Mesmo assim, Chicago até subiu um pouco no fechamento do dia 31/03, como visto acima.

Houve, durante a semana, uma maior demanda pelo trigo dos EUA, o que aqueceu um pouco o mercado. As vendas líquidas, na semana de 17/03, referentes ao ano comercial 2015/16, somaram 368.900 toneladas, ficando 16% acima da média das quatro semanas anteriores. As Filipinas foram os maiores compradores com 107.300 toneladas.

Por outro lado, temperaturas mais baixas do que o esperado atingiram as Planícies produtoras do sul dos EUA causou preocupação e elevação nos preços, mesmo que pouca, pois geadas tardias podem prejudicar o trigais. Todavia, isso acabou não se confirmando e há expectativa de clima mais seco e quente para o início de abril na região.

Nas regiões exportadoras do Mercosul permaneceram com preços entre US$ 170,00 e US$ 200,00/tonelada.

No Brasil, os preços não reagem, diante de um mercado relativamente parado e com importações favorecidas pelo câmbio no momento. Espera-se para o início de abril algum movimento de compra em algumas regiões do país, porém, nota-se que para o Rio Grande do Sul e o Paraná a necessidade das indústrias somente aparecerá em maio, adiando por mais um mês um possível aquecimento de preços. Os fatores logísticos e moinhos relativamente bem abastecidos seriam as causas desta realidade. Além disso, o ritmo de esmagamento por parte dos moinhos se reduziu bastante nas últimas semanas.

Por enquanto, o trigo do Paraguai e da Argentina já está mais interessante, em termos de preço, do que o produto nacional em algumas regiões brasileiras. Isso não impede que o trigo nacional de qualidade venha a ser disputado e tenha aumentos de preço futuramente devido a sua escassez (cf. Safras & Mercado). Ao mesmo tempo, o trigo de baixa qualidade está mais procurado do que o esperado devido aos altos preços do milho, favorecendo o seu uso nas rações animais.

Nesse contexto, a semana fechou com o balcão gaúcho registrando R$ 33,79/saco na média, enquanto os lotes em R$ 680,00/tonelada ou R$ 40,80/saco. No Paraná, igualmente os lotes permaneceram entre R$ 780,00 e R$ 800,00/tonelada, equivalente a R$ 46,80 e R$ 48,00/saco em termos médios.

Fonte: CEEMA

TRIGO – CBOT (Chicago) – Contrato Mai/2016https://www.tradingview.com/x/n3b5QTVK/

Indicadores de Tendência – MILHO

MilhoUm dos grandes questionamentos na atual conjuntura agrícola é sobre o que está acontecendo com os preços do milho. A escalada impressionante dos preços do cereal, aumento superior a 70% desde junho de 2015, surpreende e levanta a pergunta sobre o que pode frear seu valor.

A intuição que normalmente se tem dos mercados agrícolas é de que safras recordes resultam em preços baixos e que as quebras provocam alta nos preços. O problema é que essa percepção consiste numa meia verdade, que só se verifica quando a demanda permanece relativamente estável frente às grandes oscilações da oferta.

A última projeção da Conab aponta que a segunda safra de milho de 2015/16 deve ultrapassar os 55,3 milhões de toneladas – o que supera o então recorde de 54,6 milhões de toneladas do ano anterior. Apesar de que, no agregado, a safra total (primeira e segunda safras) deva ser ligeiramente inferior àquela colhida em 2014/15. De qualquer forma, mesmo assim, colheríamos, segundo essa projeção, a segunda maior safra da nossa história, um ano após a maior.

Analisando apenas essas informações rapidamente, imaginamos um mercado inundado de milho e com preços muito baixos.  Mas a realidade é que está faltando milho e os preços médios no país em meados de março de 2016 são 25% maiores que o mês de maior pico da crise de 2012/13, quando o cereal ficou em falta no mundo todo em decorrência da quebra da safra dos EUA. Essa situação destoa do resto do mundo, pois no mercado internacional, dada as boas condições de oferta, o preço do milho está em baixa, custando menos da metade do que chegou a valer no auge da crise da safra 2012/13.

Se não bastasse situação atual ser ainda melhor do que há três anos, em termos de cotação e produção, a depreciação cambial cria um cenário ainda mais surreal para o produtor de milho. Muitos produtores estão faturando mais com o milho do que com a soja, o que pode ter reflexos sobre a safra verão de 2016/17.

Assim, para entender o atual comportamento dos preços do milho é preciso olhar a demanda pelo cereal. O ano de 2015 foi de recordes nas exportações, quando foram embarcados quase 29 milhões de toneladas do grão, e 2016 tem se mostrado ainda mais promissor. Em janeiro e fevereiro de 2016, já foram embarcados 9,8 milhões de toneladas, quantidade 129% superior aos 4,30 milhões de toneladas exportadas no mesmo período de 2015.

Devemos agradecer aos países asiáticos por esse resultado, onde apenas as importações do Japão, Vietnã, Coreia do Sul, Taiwan, Malásia e Indonésia alcançaram 6,17 milhões de toneladas ou cerca de 63% do montante exportado nos dois primeiros meses de 2016. Nisso, merece destaque a retomada das vendas ao Japão, após um ano de 2015 fraco no comércio de milho para este país. Nos dois primeiros meses de 2016, já foram exportados para o Japão uma quantidade três vezes superior ao embarcado em todo o ano passado.

A situação dos preços do milho brasileiro é tão boa que em Mato Grosso, principal estado produtor, mais de 60% da safra a ser colhida em meados de 2016 já foi comercializada antecipadamente em março. Na mesma época nas safras anteriores tínhamos os seguintes percentuais: 42% em 2014/15; 5,4% em 2013/14 e 20,1% em 2012/13. Ou seja, além dos recordes de produção e preços, a comercialização também é recorde na principal região produtora.

Concomitantemente ao acréscimo das exportações de milho, o consumo doméstico também vem aumentando. Segundo a Conab, o consumo interno do cereal crescerá 2,25 milhões de toneladas na safra 2015/16, chegando a 58,4 milhões de toneladas.

A maior demanda por milho, tanto externa como interna, somada a uma oferta relativamente estável, resultam na diminuição dos estoques. Todos esses elementos agindo simultaneamente resultam, como não poderia deixar ser, na atual escalada de preços do cereal. A Conab tem tentado dirimir parte do problema com leilões dos seus estoques reguladores. Entretanto, os estoques da Conab totalizavam apenas um milhão de toneladas em 22 de março de 2016, o que dá pouca margem de manobra para o Governo, mesmo com a liquidação total do milho estocado.

Infelizmente, nem tudo são flores, na atual conjuntura. Se de um lado os produtores de milho estão rindo à toa, do outro lado temos os setores de consumo do cereal que são negativamente afetados pelos preços exorbitantes. O setor de carnes, aves e suínos principalmente, não consegue repassar ao consumidor final o aumento dos custos dos insumos, tendo que absorver assim grande parte do prejuízo. Os preços no estado de Mato Grosso estão tão exorbitantes que dificultam consideravelmente a indústria de etanol feito com milho e que começava a tomar forma no Estado. Dependendo de como os altos preços persistirem essa indústria nascente, que se viabiliza a partir dos preços baixos do milho produzido em regiões mais distantes das regiões de consumo ou dos portos, pode simplesmente sumir do mapa.

Talvez a soja, a principal antagonista (no verão) e parceira (no inverno) do milho possa frear os preços do cereal. Isso porque em março, historicamente, os embarques da soja começam a ganhar vulto nos portos brasileiros e, por consequência, as exportações de milho despencam, voltando a ganhar força a partir de julho. Assim, o término dos grandes embarques do milho da safra 2015/16 devem segurar os preços. Em meados do ano será colhida a safra 2016/17 no hemisfério norte e daí teremos uma nova história.

Por: Rubens Augusto de Miranda – Pesquisador da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo.

Fonte: Boletim Informativo do Centro de Inteligência do Milho – Ano 8 – Edição 79 – Março de 2016.