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Análise Semanal do mercado do Trigo – 22/08/2016
As cotações do trigo em Chicago igualmente subiram um pouco. O fechamento desta quinta-feira (18) ficou em US$ 4,27/bushel, contra US$ 4,16 uma semana antes.
Essa alta ficou por conta de ajustes técnicos e pela precificação imediata dos números baixistas oriundos do relatório de oferta e demanda indicado pelo USDA no dia 12/08. Esse relatório apontou um forte aumento na safra estadunidense do cereal, com a mesma devendo atingir a 63,2 milhões de toneladas, contra 61,5 milhões indicados em julho. Já os estoques finais foram reduzidos para 29,9 milhões de toneladas, após 30 milhões em julho. Porém, ainda bem acima dos 26,7 milhões do ano anterior. O patamar de preços médios aos produtores estadunidenses, para 2016/17, ficou agora entre US$ 3,35 e US$ 4,05/bushel.
Em termos mundiais o relatório apontou uma safra global de 743,4 milhões de toneladas (cinco milhões de toneladas acima do indicado em julho), com estoques finais em 252,8 milhões, praticamente sem mudanças em relação a julho, porém, acima dos 241,9 milhões de toneladas registrados no ano anterior. A produção da Argentina foi reduzida para 14,4 milhões de toneladas e a brasileira foi mantida em 5,3 milhões. Os argentinos deverão exportar 8 milhões de toneladas em 2016/17, enquanto o Brasil irá importar 6 milhões.
A pequena alta na semana foi motivada por fatores técnicos, particularmente em função da redução dos estoques finais estadunidenses indicados pelo relatório do USDA.
É bom lembrar que as cotações do trigo em Chicago estão nos níveis de 2006, ou seja, antes das altas ocorridas nas commodities mundiais (entre 2007 e 2014). Assim, o trigo estadunidense está muito barato, puxando igualmente o preço do trigo da Argentina e demais países produtores, fato que favorece as importações brasileiras do cereal.
No Mercosul, a tonelada FOB para exportação continuou cotada entre US$ 205,00 e US$ 220,00.
A média gaúcha no balcão fechou a semana em R$ 40,17/saco, sem grandes modificações em relação às semanas anteriores. Os lotes se mantiveram em R$ 850,00/tonelada (R$ 51,00/saco), enquanto no Paraná ficaram entre R$ 850,00 e R$ 880,00/tonelada (R$ 51,00 a R$ 52,80/saco), porém, valores apenas nominais já que os volumes negociados são diminutos.
Na prática, o mercado brasileiro de trigo permanece com baixa liquidez, pela falta de produto de qualidade superior, enquanto os preços internos no Paraná já começam a recuar, pressionados pela proximidade da colheita da nova safra. Assim, altas nos preços do trigo surgirão apenas se o milho voltar a subir, pois isto fará as indústrias de ração voltarem a competir com os moinhos pelo cereal. Ou seja, o trigo poderá novamente ser sustentado pelas altas nos preços do milho a partir da virada do ano. Por outro lado, caso os preços do milho pouco se modifiquem, em relação ao patamar de hoje, a paridade de importação, mais baixa no momento, definirá um recuo nos preços do trigo nacional.
Aliás, é isso que move as compras dos moinhos de maior porte. Até mesmo as indústrias de ração estão partindo para a importação de trigo haja vista as vantagens nos preços. Já os moinhos de menor porte, sem cacife para importação, se obrigam a buscar o produto no mercado interno pagando, em alguns casos, até R$ 1.000,00/tonelada (R$ 60,00/saco) no Paraná.
No geral, os volumes importados de trigo por parte das empresas brasileiras continuam muito significativos, especialmente dos EUA. Logo mais, com a entrada da colheita do Paraguai, da Argentina e do Uruguai podemos assistir a uma pressão baixista do trigo procedente destas origens.
Assim, com a entrada da safra nova e diante de preços internacionais em baixa, apenas uma virada cambial poderá reverter o viés de baixa nos preços nacionais do trigo desta safra nova. Por enquanto não é o caso e parece não haver condições para isso no médio prazo, a julgar pelas expectativas políticas e econômicas existentes atualmente no Brasil.
Fonte: CEEMA
Gráfico do TRIGO na CBOT
Barter é Alternativa para Financiamento de Safra
Milho: importar é preciso, exportar não é preciso
Pegando o espírito deste título é curioso observar o misto de emoções e opiniões proporcionadas pela quantidade recorde de milho que vem sendo exportado pelo Brasil. É um tema delicado que envolve interesses muitas vezes opostos, e o que é desejável ou não para o país depende do ponto de vista.
Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), em 2015 foram exportados 28,9 milhões de toneladas de milho, superando os 26,6 milhões de toneladas de 2013, recorde histórico até então. É importante lembrar que a demanda externa aquecida no segundo semestre do ano passado, que foi responsável pelo recorde de vendas externas, sucedeu uma safra também recorde de 84,7 milhões de toneladas, nas estimativas da Conab. Ou seja, inicialmente os preços tinham tudo para despencar, mas com o impulso das exportações eles resolveram seguir o caminho oposto e escalar a montanha.
A lógica é simples, a demanda aumentou mais do que a oferta. O motivo? Ao contrário de 2012/13, quando faltou milho no mundo em decorrência das quebras de safra dos principais países produtores (com destaque para os Estados Unidos), o atual cenário de alta dos preços se deve a fatores exclusivos do Brasil. A depreciação cambial ocorrida na segunda metade de 2015 tornou o milho brasileiro barato, frente aos seus concorrentes, no mercado internacional. Em razão disso, somente entre julho e dezembro de 2015 foram remetidos 23,6 milhões de toneladas de cereal para o exterior.
O ano mudou e a demanda externa pelo milho brasileiro continuou aquecida. Tanto que nos primeiros cinco meses de 2016 já foram exportados 12,2 milhões de toneladas do cereal, o que é um valor muito superior aos 5,2 milhões de toneladas do respectivo período em 2015.
Se já não bastasse esse acréscimo da demanda nos primeiros meses do ano, em relação a 2015, a oferta do grão foi em sentido contrário e diminuiu. As últimas estimativas da Conab apontam para uma redução superior a 8oito milhões de toneladas de milho na safra 2015/16 em relação à anterior. Deste modo, com a redução da oferta e os estoques minguando, o milho desapareceu do mercado e os preços explodiram. Somente neste ano os preços médios da saca de 60 kg no Brasil já aumentaram 51% e se considerarmos os últimos 12 meses o aumento chega a 113%.
Ante esse cenário de preços altos sem precedentes, a mão invisível de Adam Smith começou a operar para reequilibrar a oferta e a demanda antes do que imaginávamos. A princípio, as altas cotações do milho atuais estimulariam o aumento da oferta na safra 2016/17, o que, supondo uma demanda pouco alterada, traria como resultado uma redução dos preços na próxima safra. Acontece que, na era da globalização, um ano é muito tempo. Um ajuste mais rápido não só é necessário como já começa a ser praticado.
O ponto de virada está relacionado ao fato de que os preços subiram demais. O milho brasileiro, antes “barato” pela depreciação cambial, agora está caro não apenas no mercado doméstico, mas também no mercado internacional. O resultado pode ser a reversão dos fluxos de comércio exterior do cereal, com a diminuição das exportações e aumento das importações. Para ilustrar esse encarecimento do milho brasileiro frente aos concorrentes externos tomemos como exemplo as informações da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS). No último mês de maio, a ACCS adquiriu um lote de 1.000 toneladas de milho do Paraguai pagando US$ 160,00 a tonelada, enquanto internamente o cereal era ofertado à Associação por US$ 267,00, o que é uma diferença substancial.
Muitos dos contratos de exportação pactuados no início do ano, com a evolução dos preços do milho, passaram a ser pouco vantajosos, estimulando a quebra contratual dos produtores junto às tradings que dominam a exportação deste cereal. Além disso, alguns produtores de dois dos estados mais afetados pelas condições climáticas, Mato Grosso e Goiás, podem não ter milho para cumprir os contratos de exportação.
Recentemente a aquisição de milho de outros países ganhou destaque com a eliminação temporária da taxa de importação de países de fora do Mercosul, para a qual vigorava uma alíquota de 8% até então. Isso importa pelos simples fato de que a disponibilidade interna de milho no segundo semestre pode melhorar não apenas via redução de exportações, mas também por intermédio do incremento das importações.
A eliminação das taxas de importação do milho não estimula a aquisição do cereal produzido pelos nossos vizinhos do Mercosul, pelo fato de o milho produzido por eles já não ser taxado pelo Brasil. A princípio, o grande beneficiado é o milho norte-americano. Isto, de certa forma, é mais uma ironia do destino, pois se o Brasil exportou milho para os EUA em 2013 (e continua exportando esporadicamente pequenas quantidades anuais), de forma similar a situação pode agora se inverter.
Cabe lembrar que a aquisição de milho de outros países pelo Brasil não é fato novo. Na verdade, é algo corriqueiro. A indústria aviária de Santa Catarina e do Paraná anualmente compra o milho mais barato do Paraguai. Analisando os dados disponibilizados pela SECEX, pode-se observar que nos últimos anos o país importou 907 mil toneladas de milho em 2013, 771 mil toneladas em 2014 e 369 mil em 2015. O Paraguai foi responsável por mais de 91% das importações em cada um desses três anos, chegando a 99% em 2014 e 2015. Internamente, os estados de Santa Catarina e Paraná adquiriram 89% do montante importado em 2013, e em 2014 e 2015 esse percentual chegou a 99%.
Em 2016, o perfil dos nossos fornecedores de milho se alterou. Entre janeiro e maio deste ano foram importadas 378,3 mil toneladas. Deste montante, apenas 176,2 mil toneladas são oriundas do Paraguai. A Argentina foi a nossa principal fornecedora, com 202 mil toneladas, e os Estados Unidos também estiveram presentes, com o valor irrisório de 19,5 toneladas importadas no mês de janeiro.
Ao mesmo tempo, internamente também surgiram novos importadores, além daqueles situados em Santa Catarina e Paraná. Nos cinco primeiros meses do ano, os estados do Nordeste importaram 112 mil toneladas de milho, que equivalem a 30% do total importado pelo Brasil até o momento. Dada a situação delicada do abastecimento do cereal na região Nordeste, e a sua posição estratégica em relação ao golfo do México, a tendência é que as importações dos EUA para o Nordeste aumentem. Segundo a consultoria Agroconsult, o Brasil deverá importar 2,5 milhões de toneladas em 2016, sendo a maior parte desse volume proveniente da Argentina e dos Estados Unidos.
Em resumo, primeiramente havia a expectativa de que a colheita de uma grande safra de inverno baixaria os preços do milho, com o aumento da disponibilidade interna. Os problemas climáticos na segunda safra de milho em importantes estados produtores frustraram as expectativas iniciais e agora espera-se que o reequilíbrio da oferta e demanda deva ocorrer via comércio exterior (diminuição das exportações e aumento das importações). Entretanto, tal ajuste, com as informações disponíveis até o momento, deve ser pequeno, e o milho continuará valorizado no decorrer de 2016. O verdadeiro ajuste deve ocorrer somente com a chegada da safra 2016/17 e até lá … importar é preciso.
Fonte: Rubens Augusto de Miranda – Pesquisador da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo.
Brasil decide liberar importação de feijão, mas…
BRASÍLIA (Reuters) – O presidente interino Michel Temer anunciou nesta quarta-feira a liberação da importação do feijão num esforço para diminuir o preço do alimento, cuja alta recente vem impactando a inflação.
Em nota no site do Planalto, o governo anunciou que a liberação contemplará a importação do feijão da Argentina, Paraguai e Bolívia. Também está sendo estudada a importação do produto do México, após assinatura de acordo sanitário, e da China.
Segundo o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, “o preço do principal produto na mesa dos brasileiros subiu em função de questões climáticas, que ocasionou a perda de praticamente todas a safra no Centro-Oeste”.
“Isso ocasionou uma queda na oferta e um aumento na demanda, fazendo com que os preços subissem”, afirmou o ministro no comunicado.
(Por Marcela Ayres)
Apresentada a notícia, passemos à análise crítica.
À exceção da China, nenhum dos países apontados pela reportagem acima figuram realmente entre os Players deste produto. Tal conclusão pode ser constatada nos gráficos abaixo, elaborados esta manhã utilizando dados da FAO/ONU.
Mesmo a China, ainda que figure entre os Players, sua produção é muito pequena e provavelmente não poderá nos atender.
Conclusão: Autorizar a importação não necessariamente significará que teremos uma reposição da oferta de feijão.
Milho: Até tu, Clima?
Se não bastasse a conjunção de fatores específicos que levaram à atual e histórica alta dos preços do milho, o clima resolveu entrar nessa ciranda e bagunçar ainda mais a situação. Na primeira quinzena de maio, o preço médio da saca de milho no país ultrapassou R$ 42,00. Em circunstâncias normais esse já seria um valor exorbitante do cereal em qualquer lugar do Brasil, e estamos falando apenas da média. Em várias regiões consumidoras de grãos, o valor da saca de 60 kg já passou dos R$ 60,00.
Obviamente com o milho sendo cotado a preços historicamente semelhantes aos de soja, não há alta de insumos que prejudique os ganhos, e os que apostaram no milho para o inverno estão rindo à toa, excetuando-se aqueles que se depararam com estiagens. Infelizmente, essa é a típica situação na qual nem todos podem vencer. Os lucros extraordinários usufruídos pela maioria dos produtores estão sendo pagos pelos prejuízos dos mercados consumidores de milho.
É a lógica da oferta e demanda, e o milho nunca vendeu tão bem, a despeito dos preços estratosféricos. As taxas de comercialização têm indicado recordes de venda antecipada. Segundo os dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA), ao final de abril, 62,3% da safra prevista já havia sido vendida. Esse percentual para o respectivo mês de 2015 foi de 48,6%, e em 2014, foi de 11,5%. No Paraná, estado que colhe a segunda maior safrinha do país, a situação não é diferente. Até o final de abril, segundo informações da Secretaria de Agricultura e do Abastecimento do Paraná (SEAB), 21% da safrinha de milho já estava vendida. Apesar do menor percentual quando comparado ao Mato Grosso, é importante lembrar que o estado paranaense não tem tradição de vendas antecipadas de milho. Até recentemente, a comercialização da safrinha só começava em maio-junho e de forma lenta.
Frente a essa conjuntura, a expectativa de uma colheita recorde na segunda safra de milho proporcionava certo alento aos consumidores do cereal, pois era uma sinalização de redução dos preços no médio prazo. O problema é que faltou combinar com o clima. Nas últimas safras de inverno o fator climático vinha recebendo o crédito como um dos principais impulsionadores da produção, mas na safrinha de 2016 esta situação tem se revertido em algumas regiões.
A atual segunda safra de milho no Brasil iniciou o ano com grandes expectativas de igualar, ou mesmo superar, a colheita recorde de 2015. Entretanto, no mês de abril, as chuvas ficaram mais escassas que o normal, assim como o calor foi excessivo, em grandes regiões produtoras de milho de segunda safra do Centro-Oeste. No momento, diversas instituições já anunciaram a quebra da safra, mas a avaliação destas perdas ainda mostra grande variação, indo de 2 a 10 milhões de toneladas.
As dificuldades na safrinha do Mato Grosso iniciaram-se já na fase do plantio do milho, onde, apesar de um aumento na área, 30-35% do cereal foi plantado fora da janela ideal. Por sua vez, as áreas plantadas fora da janela receberam menores investimentos, em razão do maior risco, e o clima adverso veio para consolidar as perdas. A última estimativa de safra do IMEA sobre a cultura do milho no Mato Grosso já apontou uma redução de 16,5% na produtividade estadual. Caso isto se confirme, a produtividade média de 90,7 sacas por hectare será a menor registrada no estado desde a safra 2010/11. Felizmente, no cômputo geral, o aumento da área plantada com milho no Mato Grosso deve diminuir os impactos negativos da redução de produtividade. Entretanto, tal situação não se estende ao estado vizinho de Goiás, onde condições climáticas têm sido ainda mais severas.
No início de 2016, a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Goiás (Aprosoja-GO) e a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) projetavam um aumento da produção da safrinha de milho no estado, com a expectativa de produção chegando a 8,2 milhões de toneladas ante os 7,6 milhões colhidos no ano passado. Em maio, a projeção despencou, e agora se espera algo entre 4,8 e 5,2 milhões de toneladas, ou seja, uma redução na faixa de 32-37%. Contudo, em várias regiões de Goiás foram observadas situações extremas onde as perdas podem chegar a 85%. Antecipando os prejuízos financeiros, os produtores goianos já estão negociando com os seus credores. Sobre essa questão, Bartolomeu Braz Pereira, presidente da Aprosoja-GO, recentemente afirmou que “a cada dia que passa, aumentam as perdas com a seca, e o produtor tem buscado amparo nas entidades de classe para obter melhor negociação”.
Neste cenário, tem-se verificado um fato curioso relativo à comercialização. Se de um lado é louvável o aumento da prática de vendas antecipadas da safra como forma de proteção, de outro, tem-se formado um clima favorável a rupturas desses contratos por motivos distintos. Os que foram afetados severamente pela estiagem podem não ter milho suficiente para entregar, e os que devem colher bem podem não querer entregar.
Até o final de abril, de acordo com a Agroconsult, foram vendidos antecipadamente 28,7 milhões de toneladas da safrinha, principalmente para exportações. Segundo a consultoria, as tradings (empresas que operam com exportações e importações) têm indicado que muitos acordos de exportação podem ser cancelados para a venda no mercado interno, pois os preços domésticos estão mais remuneradores.
Apesar dos indícios de que os preços do milho devem continuar altos nos próximos meses, muita água ainda vai rolar nessa história. Primeiramente, é preciso dimensionar as perdas da safrinha. Segundo, os preços domésticos proibitivos começam a desestimular as exportações, podendo ocorrer até mesmo quebras de contratos. Isto pode fazer com que o milho brasileiro venha a perder espaço no mercado internacional no segundo semestre, além do reflexo das rupturas contratuais sobre as exportações no médio prazo. Há também a expectativa de importações de milho “barato” dos Estados Unidos e da Argentina.
Por fim, analisando o conjunto da obra, apesar de as notícias de quebra de safra impulsionarem ainda mais o aumento dos preços do milho no presente momento, também se tem aventado a possibilidade de melhoria da oferta doméstica do cereal, com as quebras de contratos de exportação. Em outras palavras, o próprio cenário adverso está viabilizando a futura diminuição dos preços do milho. É justamente isso que se espera das forças de mercado quando se advoga a sua eficiência. Não existe lado negro, há somente a lógica do mercado de estímulos e desestímulos frente a determinadas condições de oferta e demanda. O problema climático não foi uma apunhalada, pois em situações com incertezas os problemas em algum momento acontecem. Além disso, as condições meteorológicas nunca foram conhecidas como fiéis correligionários, cabendo ao produtor se precaver.
Por: Rubens Augusto de Miranda – Pesquisador da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo.
Fonte: CEEMA
Análise Semanal do Mercado da Soja – 06/05/2016
As cotações da soja, em Chicago, se mantiveram firmes nesta semana em que iniciou o mês de maio. Houve oscilações nas mesmas, típica de um período dominado pelas notícias climáticas em função do plantio nos EUA e da finalização da colheita na América do Sul. O fechamento para o primeiro mês cotado ficou em US$ 10,03/bushel, nesta quinta-feira (05/05), após ter atingido a US$ 10,35 no dia 02/05. A média de abril ficou em US$ 9,63, após US$ 8,89/bushel em março.
A pressão altista continua igualmente no farelo de soja, com a tonelada curta em Chicago ganhando quase US$ 100,00 nos últimos dois meses. O fechamento do farelo no dia 02/05 ficou em US$ 345,30/tonelada curta, contra US$ 258,10 no dia 1º de março passado.
Além da confirmação de uma redução na safra sul-americana, especialmente na Argentina onde as perdas calculadas chegam a 5 milhões de toneladas e podem alcançar até 9 milhões no final da colheita (15% da safra esperada), o anúncio do Banco Central dos EUA de que dificilmente haverá aumento de juro básico nos próximos meses fortaleceu as cotações em Chicago. Nesse último caso, os fundos e investidores financeiros deixam de buscar ativos atrelados a esse juro e fortalecem suas posições em commodities tais como a soja.
Em função deste conjunto de fatos, o contrato julho, em Chicago, ganhou mais de 11% apenas em abril e iniciou maio com novos ganhos, porém, perdendo força no dia 05/05 em função de tomada de lucros.
O plantio da soja nos EUA atingia a 8% da área no dia 1º de maio, contra 6% na média histórica para esta data.
Vale lembrar que neste próximo dia 10/05 sairá o novo relatório de oferta e demanda do USDA. O mesmo deverá informar a primeira projeção de colheita para a nova safra que está sendo semeada.
Aqui no Brasil, os preços voltaram a subir, mesmo com o dólar se mantendo entre R$ 3,50 e R$ 3,57. Na prática, Chicago continua puxando os valores nacionais. Assim, o balcão gaúcho, na média, voltou a ultrapassar os R$ 70,00/saco, fechando a semana em R$ 71,83/saco. Desde a primeira quinzena de março que o balcão vinha registrando valores abaixo de R$ 70,00. Os lotes, no mercado gaúcho, fecharam a semana em R$ 78,00 e R$ 78,50/saco, enquanto nas demais praças nacionais ficaram entre R$ 66,30/saco em Sapezal (MT) e R$ 79,00/saco no norte e centro do Paraná.
O futuro destes preços irá depender, agora, particularmente da confirmação ou não de uma safra normal nos EUA, já que se projeta influência do fenômeno climático La Niña (porém, não há consenso quanto a sua intensidade), assim como a quebra final na safra argentina. Em havendo frustração de safra nos EUA não se pode descartar Chicago subindo para níveis de US$ 12,00/bushel. Em caso contrário, o mercado poderá se estabilizar entre US$ 9,00 e US$ 10,00/bushel. Nesse último caso, o comportamento cambial no Brasil é que terá mais influência sobre os preços futuros da soja brasileira. Por enquanto, a julgar pelas ações do Banco Central brasileiro, o objetivo é não deixar o Real se valorizar para além de R$ 3,50 por dólar. Tudo indica que o novo governo que assumirá, salvo surpresas, no final desta segunda semana de maio, em função do impedimento temporário da presidente Dilma, não deverá alterar essa estratégia. Entretanto, a possibilidade concreta de o mesmo adotar medidas fortes de correção da economia pode forçar uma valorização maior do Real. Por sua vez, se o mesmo vir a falhar na condução da política econômica, não se pode descartar um retorno ao nível de R$ 4,00.
Dito isso, a colheita da soja brasileira chegou a 96% do total neste início de maio, enquanto o atraso na Argentina persiste, com apenas 24% da área colhida nesse mesmo período.
A comercialização da atual safra, por parte dos produtores brasileiros, tende a avançar a partir deste novo quadro de preços, após a mesma ter atingido a 61% do total (48% no Rio Grande do Sul) até o dia 08/04, conforme Safras & Mercado. Um novo relatório a respeito deverá ser divulgado até meados de maio.
Fonte: CEEMA
Gráfico da SOJA na CBOT (U$/bu) – Vencimento Set/16
Gráfico da SOJA na BM&F (U$/saca) – Vencimento Jun/16
Análise Semanal do Mercado de Milho – 06/05/2016
As cotações do milho em Chicago, após se aproximarem dos US$ 4,00/bushel durante a semana, acabaram fechando o dia 05/05 em US$ 3,71. A média de abril ficou em US$ 3,72/bushel, contra US$ 3,63 em março.
O mercado espera o relatório de oferta e demanda deste dia 10/05 para assumir uma posição mais concreta em relação à safra nova.
Até o momento o clima está normal nas regiões produtoras de milho e soja nos EUA, sendo que a semeadura do cereal alcançou a 45% da área no dia 1º de maio. Porém, ainda haveria tempo para o produtor estadunidense mudar de estratégia, optando mais pela soja do que milho diante da reação dos preços da oleaginosa.
Por sua vez, há boa demanda externa pelo milho dos EUA na medida em que o Brasil e a Argentina estão pouco presentes no mercado exportador nesse momento. As vendas líquidas de milho, por parte dos EUA, atingiram a 2,16 milhões de toneladas na semana encerrada em 21/04, estabelecendo um recorde para o período.
Na Argentina e no Paraguai a tonelada FOB para exportação ficou em US$ 175,00 e US$ 172,50 respectivamente. Nota-se o forte aumento dos preços do produto paraguaio nestas últimas semanas.
No Brasil, os preços do cereal continuaram firmes, com o balcão gaúcho fechando a semana em R$ 43,32/saco, enquanto os lotes ficaram em R$ 54,00/saco. Nas demais praças nacionais os lotes oscilaram entre R$ 38,00/saco em Campo Novo do Parecis e Sapezal (MT), e R$ 56,00/saco em Concórdia, Chapecó e Videira (SC).
A crise de abastecimento de milho continuou durante todo o mês de abril, havendo grandes preocupações em relação a continuidade deste problema devido à quebra da safrinha pela seca no Centro-Oeste e alguma geada ocorrida no final de abril no Paraná. Nesse último caso o fenômeno teria sido relativamente fraco, não provocando grandes estragos.
Com isso, na BM&F o mês de setembro passou a testar níveis de preços ao redor de R$ 41,00/saco, enquanto as tradings, se desejarem retomar os negócios de exportação, terão que aumentar os prêmios no porto (cf. Safras & Mercado).
Com uma quebra calculada, por enquanto, superior a 5 milhões de toneladas na safrinha brasileira, a produção total de milho em 2016 está agora estimada em 82,5 milhões de toneladas no país.
Por outro lado, as exportações de milho em abril ficaram em apenas 367.600 toneladas segundo o governo brasileiro.
A semana terminou com ofertas de milho safrinha, para julho, em São Paulo, a R$ 44,00/R$ 45,00 por saco, mais ICMS, sendo a origem do produto o Mato Grosso. O porto de Santos, por sua vez, indicou R$ 35,50/saco para agosto e setembro. Em Goiás, forte produtor de milho safrinha, o mercado está parado, havendo dúvidas quanto ao real tamanho da safrinha (cf. Safras & Mercado).
Fonte: CEEMA
Gráfico do MILHO na CBOT (U$/bu) – Vencimento Set/16
Gráfico do MILHO na BM&F (R$/saca) – Vencimento Set/16
Análise Semanal do Mercado de Trigo – 06/05/2016
As cotações do trigo em Chicago recuaram novamente durante a semana, fechando a quinta-feira (05) em US$ 4,53/bushel, após US$ 4,77 no dia 02/05. A média de abril ficou em US$ 4,71/bushel, contra US$ 4,63 em março.
A fraqueza do dólar estimulou as exportações estadunidenses, o que deu um certo alento às cotações em alguns momentos da semana.
Por outro lado, as vendas líquidas norte-americanas de trigo, para o ano 2015/16 iniciado em 1º de junho, ficaram em 351.900 toneladas na semana encerrada em 21/04. As mesmas ficaram bem acima da média das quatro semanas anteriores. O México foi o maior comprador, com 118.800 toneladas. Paralelamente, as inspeções de exportação atingiram a 355.757 toneladas na semana encerrada em 28/04.
Ao mesmo tempo, o USDA divulgou as condições das lavouras estadunidenses no dia 1º de maio passado. As mesmas apresentavam 61% entre boas a excelentes, 32% regulares e 7% entre ruins a muito ruins. Em relação à semana anterior houve melhoria nas condições das mesmas. Já o plantio do trigo de primavera, na mesma data, atingia a 54%, contra a média histórica de 39% para esta época do ano.
Nos países do Mercosul, a tonelada de trigo FOB exportação ficou cotada entre US$ 170,00 e US$ 200,00, repetindo o que ocorre há algumas semanas.
No Brasil, o preço do trigo subiu um pouco graças a alguma retomada de compra por parte dos moinhos e pela escassez de produto de qualidade. No Rio Grande do Sul o mesmo ganhou 3%, enquanto no Paraná o ganho foi de 0,85%. A média gaúcha no balcão fechou a semana em R$ 34,53/saco, enquanto os lotes chegaram a valores entre R$ 700,00 e R$ 720,00/tonelada (R$ 42,00 e R$ 43,20/saco). No Paraná, os lotes se mantiveram entre R$ 780,00 e R$ 800,00/tonelada, ou seja, entre R$ 46,80 e R$ 48,00/saco. Com a melhora na logística de transporte, a partir do encerramento da safra de soja, e a melhoria na demanda da indústria, certo número de produtores paranaenses tentam firmar posição em torno de R$ 900,00/tonelada para o seu produto de qualidade superior. Todavia, os negócios não têm avançado.
Em abril o Brasil importou mais 456.000 toneladas, sendo 302.000 da Argentina, 94.500 do Uruguai e 48.000 toneladas do Paraguai. O restante veio de outros países produtores. Mas o país igualmente exportou trigo, esse de baixa qualidade, num total de 92.500 toneladas para a Colômbia e as Filipinas. A totalidade do trigo exportado teve origem no Rio Grande do Sul (cf. Safras & Mercado).
O plantio da nova safra de trigo brasileira alcançou 3% da área total esperada, ficando abaixo da média histórica, que é de 5% para o período.
Dito isso, em função do câmbio atualmente praticado no Brasil (ao redor de R$ 3,50 por dólar), não há muita expectativa de melhoria nos preços nacionais do cereal já que o produto importado chega a preços mais baixos do que os praticados internamente.
Fonte: CEEMA
Gráfico do TRIGO na CBOT – Vencimento Set/16
Muito além do R$ 1,99: o desafio chinês no mercado de milho
No decorrer dos últimos anos, tem-se discutido muito sobre o momento no qual a China seguirá o mesmo caminho percorrido na cultura da soja e se tornará, também, o maior comprador global de milho. Infelizmente a realidade é cruel com os que fazem previsões e há indícios de que um caminho reverso ao esperado pode ocorrer, pelo menos no curto prazo.
Anualmente, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) apresenta um relatório com projeções de comércio mundial do agronegócio para cada ano da década seguinte. No documento lançado em 2014, havia a expectativa de que a China ultrapassaria o Japão como maior importador de milho, em 2020/21, e chegaria a 22 milhões de toneladas adquiridas em 2023/24. Dois anos depois, os números passaram a ser bem mais modestos. No relatório de 2016, a China na próxima década, em momento, algum aparece entre os cinco maiores importadores. Além disso, a projeção para 2023/24 foi reduzida para 5,6 milhões de toneladas e poderá chegar ao máximo de 6,3 milhões de toneladas em 2025/26.
Se não bastassem as alterações substanciais, as projeções podem estar muito aquém do que pode acontecer de fato. Isso porque existe a possibilidade de a China passar a exportar milho massivamente no curto prazo, o que certamente chacoalharia o mercado mundial dessa commodity.
O que ocorreu para que o cenário futuro tenha mudado tanto em apenas dois anos? Na agricultura, em razão da imprevisibilidade do clima, grandes mudanças podem ocorrer de um ano para outro, vide a quebra da safra de milho dos EUA em 2012/13. Contudo, grandes mudanças em projeções de longo prazo refletem questões mais complexas e que não são transitórias.
Muita coisa mudou nos últimos dois anos, e não estamos falando apenas dos indícios de desaceleração da economia chinesa. A questão é muito mais intrincada. O problema é que a China se encontra na encruzilhada que todo país emergente em processo de urbanização passa em algum momento, que é o êxodo rural acelerado e a necessidade de modernização da agricultura para aumentar a produtividade e contrabalançar a diminuição da mão de obra no campo.
Nas últimas décadas, o país obteve taxas de crescimento econômico de dois dígitos, mas a riqueza desse boom ainda está circunscrita aos centros urbanos, marginalizando centenas de milhões de pessoas de usufruírem do bem-estar da emergente sociedade de consumo. Essas condições somadas a governos menos preocupados com a questão rural poderiam resultar numa nova Grande Marcha, só que, agora, em direção às grandes cidades.
Obviamente a ida para a cidade não é garantia de riqueza. Na verdade, o que provavelmente os espera é uma relação de trabalho altamente exploradora e mal remunerada. Mas a alternativa é a certeza da pobreza rural.
Vamos olhar o tamanho do problema chinês. Atualmente, a estrutura agrária na China é extremamente pulverizada. Dados censitários indicam que a maior parte da produção agrícola chinesa é cultivada em mais de 200 milhões de pequenas propriedades. Em 2010, o tamanho médio de uma propriedade agrícola chinesa era de 0,6 hectares. Fazendo um cálculo rápido sobre os 37,1 milhões de hectares plantados com milho na safra 2014/15, teríamos algo em torno de 61,8 milhões de pequenas propriedades somente para o cereal.
Há o entendimento de que a modernização da agricultura na China só será viável com a concentração das propriedades rurais em unidades maiores. Dando atenção a isso, o Décimo Terceiro Plano Quinquenal (2016-20) será focado na reforma agrícola para estimular a produção em grandes propriedades. Zou Lixing, dirigente do Banco de Desenvolvimento Chinês, recentemente disse que o objetivo é que, em 30 anos, 85% da produção rural seja provida por 7% da força de trabalho. A título de comparação, nos EUA, apenas 1,5% da força de trabalho respondem por praticamente toda a produção agropecuária.
Desde a fundação da República Popular da China, em 1949, o país passou por mudanças profundas na sua estrutura agrária. Após a revolução, o novo governo confiscou as terras dos latifundiários e camponeses ricos e as distribuiu para famílias de agricultores em bases igualitárias. Sob influência do sistema soviético, na década de 1950, a China iniciou o processo de coletivização da agricultura, no qual as famílias de agricultores tiveram que entregar as suas terras para uma entidade coletiva. Posteriormente, o Sistema de Responsabilidade Familiar garantiu a ampliação dos direitos dos produtores em relação ao uso da terra, apesar de manter a posse coletiva da terra. Em 29 de agosto de 2002, após anos de elaboração e deliberação, foi aprovada a Lei de Contratação da Terra Rural. Levada a efeito a partir de 1º de março de 2003, foi a primeira lei moderna a tratar exclusivamente da questão da posse da terra rural.
Um dos objetivos da lei foi de formalizar o mercado de arrendamento de terras rurais para viabilizar o aumento do tamanho das propriedades. Até então, os contratos de arrendamento eram informais e orais, valendo muitas vezes por apenas uma safra. A reforma que acompanhará o novo Plano Quinquenal (2016-20) tentará estimular o arrendamento para grandes grupos e empresas e acelerar o processo de concentração da produção.
A despeito do sistema formal de arrendamento estabelecido em 2003, a partir deste mesmo ano o governo chinês passou a oferecer subsídios e a comprar produtos agrícolas com preços mínimos remuneradores. Tal política não apenas estimulou o aumento da produção de grãos sucessivamente por mais de uma década, como também ajudou a segurar o produtor rural na terra com a garantia de renda.
O cuidado na administração do potencial deslocamento de dezenas, ou mesmo centenas, de milhões de pessoas do campo para a cidade levou a políticas aparentemente contraditórias. Se de um lado os subsídios seguram o produtor no campo, por outro a modernização agrícola almejada ocorre por meio de políticas que estimulam o êxodo rural, mas sem interferir no sistema hukou.
O hukou basicamente é um sistema de registro de residência que prende o indivíduo a determinada localidade. A mudança do campo para a cidade sem autorização deixa a pessoa na ilegalidade. Para se ter acesso total a escolas e hospitais nas cidades a um custo subsidiado é preciso o hukou urbano. O problema é que a alteração do hukou rural para o urbano é difícil. Uma analogia que se faz dos trabalhadores do campo que vão para a cidade sem o hukou urbano é de imigrantes ilegais nos EUA. No final das contas, a política de arrendamento que se tem procurado desenvolver acabará por criar uma grande classe de rentistas rurais nas cidades, mesmo sem a obtenção do hukou urbano.
Cabe lembrar que êxodo rural, diminuição da pobreza, modernização da agricultura não são as únicas variáveis da complicada equação chinesa, pois um país com mais de 1 bilhão de habitantes sempre estará em alerta no que se refere a segurança alimentar. Nesse sentido, o grande líder chinês Deng Xiaoping, criador do chamado comunismo de mercado, orientava o seu governo a partir do princípio de que a China deveria evitar depender de importações para satisfazer a demanda por alimentos e a importação de grãos não deveria ser superior a 10% da necessidade total. Esse princípio norteou as políticas agrícolas chinesas ao longo de meio século.
Poder-se-ia argumentar que a soja não se enquadra nesse esquema. No entanto, por mais que a produção de soja tenha se estagnado e quase toda a demanda doméstica seja garantida pelas importações, para os demais grãos, como o milho, as aquisições externas beiram apenas 3% da necessidade total.
Assim, com preços mínimos estimulantes, nos últimos 13 anos a produção chinesa de milho cresceu mais do que a demanda. O resultado final é que diversos analistas apontam que os estoques chineses de milho estão entre 200 e 250 milhões de toneladas, volume que equivale a um ano de consumo do país. Numa economia de mercado, esse excesso de oferta derrubaria os preços, que por sua vez desestimularia a produção e engendraria um aumento de preços no futuro. Os mercados agrícolas, com pouca ou nenhuma intervenção, funcionam basicamente dessa forma. Preços altos ou baixos provocam ajustes na oferta para gerar um novo equilíbrio, mas não foi isso o que aconteceu na China.
A narrativa chinesa pode soar familiar porque o Brasil fez algo muito parecido com o café durante décadas. Para garantir a renda na nossa economia primário-exportadora, o governo comprava café e queimava. Assim, os preços eram mantidos a níveis remuneradores que estimulavam ainda mais a oferta, havendo a necessidade de todo ano comprar e queimar mais café. Entretanto, a experiência brasileira difere da China atual pelo fato de que não estocávamos todo o café adquirido pelo governo.
A atual política de preços mínimos na China acabou então por gerar uma série de distorções, como a formação de um estoque gigantesco, caro de ser manter e que não reflete nos preços domésticos. O milho importado dos Estados Unidos chega à China por 1,14 yuan (US$ 0,18) o kg, enquanto que o governo paga ao produtor 2 yuanes (US$ 0,31) o kg.
Infelizmente, a indústria local não consegue recorrer ao milho importado mais barato, pois existe uma cota de importação que sobretaxa quantidades acima dela. A saída é a importação de substitutos ao milho não restritos a cotas, como o sorgo e a cevada. Estima-se que em 2015 foram importados 30 milhões de toneladas desses substitutos. O que é só mais uma das distorções do mercado.
Uma das justificativas da formação de estoques é a regulação da oferta, permitindo postergar a venda presente para garantir um preço melhor no futuro. Acontece que isso tem um custo, e o armazenamento por um período excessivamente longo pode ocasionar a perda total. Sobre esse ponto, recentemente o escritório do USDA em Pequim publicou um relatório dizendo que nos estoques chineses há, pelo menos, mais de 20 milhões de toneladas de milho que “estão tão mofados ou deteriorados que já não são adequados ao consumo humano ou animal”. Especula-se que parte desse montante ainda pode ser utilizada para a produção de etanol, mas o sinal de alerta foi ligado.
Antevendo o problema que se avoluma, não somente em relação ao milho, o governo chinês anunciou no último mês de março que os preços de todas as culturas, excetuando-se trigo e arroz, serão definidos pelo mercado. Comprar caro e vender “barato” só pode resultar em prejuízo, que no caso será absorvido pelas empresas estatais de abastecimento.
Segundo o USDA, a empresa estatal de armazenamento de grãos, China Grain Reserves Corp., ou simplesmente Sino Grain, planeja vender uma quantidade grande, mas não especificada, de milho com três anos estoque por 1.400 yuanes (US$ 216) a tonelada. Avaliando que o preço de apoio pago pelo Governo aos produtores recentemente foi estipulado em 2.000 yuanes (US$ 308) a tonelada, nessa venda haverá uma perda de 600 yuanes (US$ 92) por tonelada. O USDA estima que essa política de redução do preço de venda dos estoques de milho pode gerar perdas de até US$ 10 bilhões.
As perdas são inegavelmente altas, mas não há alternativas viáveis. A operação na verdade só consolida o prejuízo. Optar por não fazer nada e continuar com a política atual só faz com que o prejuízo não seja contabilizado, tornado a questão dos estoques uma coleção de esqueletos no armário.
Gert-Jan van den Akker, presidente da Cargill, disse recentemente no evento do Financial Times Commodities Global Summit, que existe 50% de chances de a China exportar parte dos seus estoques de milho. Considerando que os vizinhos Japão, Coreia do Sul e Taiwan estão entre os maiores importadores do cereal no mundo, a clientela já está à porta de casa. Caso as exportações chinesas ocorram, seria um baque nos preços internacionais do milho, que já estão relativamente baixos.
Porém, vale ressaltar que os preços que a Sino Grain planeja vender dos seus estoques de milho com três anos de armazenamento não são competitivos para o mercado internacional. É caro e de má qualidade. O milho dos Estados Unidos, do Brasil e da Argentina chega ao mar da China por menos de US$ 200 a tonelada. Ou seja, algo novo precisa acontecer para que essas exportações ocorram de fato. Diminuir ainda mais o preço é uma possibilidade.
Fontes da indústria alegam que além da redução dos estoques, a China planeja diminuir a área plantada e a produção de milho até 2020. Tais fontes citam propostas da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reformas, órgão de planejamento do país. O objetivo seria reduzir a produção para chegar a 175 milhões de toneladas.
O curioso é que se se confirmarem os cenários apresentados, teríamos exportações chinesas de milho derrubando os preços internacionais no curto prazo, e no médio/longo prazo veríamos a China comprar 50 milhões de toneladas do cereal, o que faria os preços alcançarem patamares nunca vistos.
O que esperar de tudo isso? É certo que a China tem desafios para confrontar, mas as informações de lá nem sempre são muito confiáveis e é difícil fazer previsões. No fim, a única certeza, como diria o falecido economista britânico John Maynard Keynes, é que no futuro estaremos todos mortos.
Fonte: Rubens Augusto de Miranda – Pesquisador da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo.
Análise Semanal do Mercado de Milho – 22/04/2016
As cotações do milho em Chicago subiram um pouco durante a semana, fechando o dia 21/04 em US$ 3,84/bushel, após US$ 3,74 uma semana antes. Nota-se que tal aumento foi bem menos intenso do que o ocorrido na soja e mesmo no trigo. Isso significa que há possibilidade de uma reversão na intenção de plantio dos produtores dos EUA, com um aumento na área de soja em detrimento do milho. A questão agora é esperar os reais efeitos deste jogo especulativo dos preços nas próximas semanas, assim como o comportamento do clima naquele país, já que o milho vem sendo semeado.
O clima no Brasil (seca) sobre a safrinha, com perdas irreversíveis, e o excesso de chuva na Argentina, com perdas na qualidade do produto de verão e até mesmo na quantidade, favorecem a exportação do produto dos EUA, fato que ajudou a elevar a cotação em Chicago. Assim, as vendas líquidas de milho, no ano comercial 2015/16, na semana encerrada em 07/04, atingiram a 1,14 milhão de toneladas, sendo 21% superiores à média das quatro semanas anteriores.
Estamos em pleno “mercado do clima” nos EUA, o qual se estende agora para a América do Sul, tornando muito importante todo e qualquer acontecimento nesta área.
As notícias de perdas no Brasil e na Argentina aumentam a cada dia que passa, somente faltando calcular o tamanho das mesmas.
Entretanto, contrabalançando esse movimento altista tem-se que o plantio da safra de milho nos EUA, contrariamente ao que se especulava nas duas semanas anteriores, avança bem. O mesmo chegava a 13% da área esperada, contra 8% na média histórica até o dia 17/04 (cf. Safras & Mercado).
Por sua vez, a frustração nas safras de verão da Argentina, a partir das fortes e constantes chuvas destas últimas semanas naquele país, fizeram o preço do milho igualmente subir. A tonelada para exportação, preço FOB, bateu em US$ 183,00 nesta semana, enquanto no Paraguai a mesma alcançou a US$ 150,00.
Já no mercado brasileiro, os preços continuam firmes, especialmente agora em que se confirma quebra na futura colheita da safrinha. O balcão gaúcho fechou a semana em R$ 41,87/saco, enquanto os lotes ficaram entre R$ 51,50 e R$ 52,00/saco. Nas demais praças nacionais, os lotes giraram entre R$ 36,00/saco em Sapezal e Campo Novo do Parecis (MT) e R$ 52,00/saco em Videira e Concórdia (SC).
No geral, os consumidores brasileiros de milho encontram sérios problemas para se abastecerem do cereal, absorvendo o que surge no mercado. Além disso, a estiagem que se abate em parte do Sudeste e Centro-Oeste diminui a safrinha, causando ainda mais pressão sobre os preços. Dependendo do tamanho da quebra, os preços poderão não mais recuar dos atuais níveis (ou recuar bem menos do que o esperado) até o final do ano. Para isso, muita coisa estará igualmente dependente do volume que alcançarão as exportações brasileiras do cereal a partir do segundo semestre.
Por enquanto, os embarques estão fracos, somando 209.600 toneladas no mês de abril, enquanto o movimento de importação continua junto aos consumidores do sul do país.
Na prática, o mercado ainda não precificou a quebra da safrinha. Tanto é verdade que o mercado continua trabalhando com R$ 38,00/saco para setembro na BM&F paulista.
Por outro lado, os produtores, cientes de que a safrinha enfrenta problemas, estão vendendo menos a espera de preços ainda mais altos futuramente.
Enfim, a semana terminou com a importação, no CIF indústrias brasileiras, valendo R$ 49,31/saco para o produto dos EUA e R$ 48,72 para o produto da Argentina, ambos para abril. Já para maio, o produto argentino ficou em R$ 50,85. Na exportação, o transferido via Paranaguá somou R$ 38,45/saco para abril; R$ 36,26 para maio; R$ 35,26 para junho; R$ 34,71 para julho; R$ 34,53 para agosto; R$ 34,37 para setembro; R$ 34,95 para outubro; e R$ 35,21/saco para novembro.
Fonte: CEEMA.
Gráfico do Milho na CBOT (Chicago) – Vencimento Mai/16
Gráfico do Milho na CBOT (Chicago) – Vencimento Set/16
Gráfico do Milho na BM&F – Vencimento Set/16.