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Inflação por faixa de renda – Março/2022

Em março, o Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda registrou taxas de inflação variando entre 1,24% para as famílias pertencentes aos estratos de renda mais alta e 1,74% no segmento de renda mais baixa. No acumulado no ano até março, a inflação varia entre 2,68% para o segmento de renda alta e 3,40% para o segmento de renda muito baixa. No acumulado em doze meses, a inflação varia entre 10% para as famílias de renda mais alta e 12% para as de renda mais baixa (tabela 1).

De acordo com os dados desagregados (tabela 2), observa-se que, de maneira geral, as maiores contribuições à inflação, em março, vieram dos grupos “alimentação e bebidas” e “transportes”. Nota-se, entretanto, que, enquanto para as duas classes de renda mais baixa a alta dos preços dos alimentos no domicílio foi o principal fator de pressão inflacionária, para os demais segmentos os aumentos do grupo transportes, especialmente dos combustíveis, formam os maiores pontos de impacto inflacionário.

No caso das famílias de renda mais baixa, a influência exercida pelos alimentos no domicílio, em março, foi decorrente de uma alta de preços generalizada que atingiu todos os dezesseis subgrupos que compõem este conjunto de bens, abarcando itens de grande relevância na cesta de consumo, como: arroz (que subiu 2,7%), feijão (6,4%), cenoura (31,5%), batata (4,9%), leite (9,3%), ovos (7,1%) e pão francês (3,0%). Já a pressão vinda do grupo transportes reflete muito mais o reajuste das tarifas de ônibus urbano (1,3%) e interestadual (3,0%) do que o aumento dos combustíveis, dado que o peso deste item na cesta de consumo destas famílias é bem menor que nos segmentos de renda mais alta. Por fim, deve-se ressaltar que, embora em menor intensidade, os aumentos de 6,6% do gás de botijão e de 1,1% da energia elétrica explicam a contribuição do grupo habitação à inflação das faixas de menor poder aquisitivo.

Na outra ponta, a inflação apurada para as famílias de renda mais alta foi impactada, sobretudo, pelo comportamento do grupo transportes, repercutindo a alta de 6,7% da gasolina, de 13,7% do óleo diesel e de 8,0% dos transportes por aplicativo, cujos efeitos foram, em parte, atenuados pela queda de 7,3% das passagens aéreas. De modo semelhante, a redução de 0,69% dos planos de saúde ajudou a dirimir o impacto do grupo saúde e cuidados pessoais, pressionado pelos reajustes de 1,3% dos medicamentos e de 2,3% dos produtos de higiene pessoal.

Na comparação com o mesmo período do ano passado, enquanto a inflação do segmento de renda muito baixa passou de 0,71%, em março de 2021, para 1,74%, em março 2022, a taxa apurada na faixa de renda mais alta passou de 1,0% para 1,24% na mesma base de comparação (gráfico 1). Para as famílias de renda mais baixa, o melhor desempenho dos alimentos em 2021, marcado por deflações de cereais, tubérculos e óleos e gorduras, aliado à queda de preços observada nos medicamentos e produtos de higiene e aos reajustes menos intensos do gás de botijão e da energia, explica este comportamento mais benevolente da inflação no ano passado. No caso das famílias de renda mais elevada, mesmo diante de uma variação mais intensa dos combustíveis ocorrida em março do ano passado, a alta menos acentuada da inflação em 2021 reflete os reajustes mais amenos dos serviços pessoais e as deflações dos serviços educacionais e de recreação.

Como consequência da alta mais forte em março de 2022, a inflação acumulada em doze meses voltou a subir para todas as classes de renda (gráfico 2), com a maior alta no período tendo ocorrido na classe de renda muito baixa (12,0%), enquanto a menor é verificada no segmento de renda alta (10,0%).

Os dados desagregados revelam que, para as famílias de renda mais baixa, a maior pressão inflacionária nos últimos doze meses reside no grupo habitação, impactado pelos reajustes de 28,5% das tarifas de energia elétrica e de 29,6% do gás de botijão (tabela 3). Para o segmento de renda mais alta, o foco está no grupo transportes, refletindo os aumentos dos combustíveis – gasolina (27,5%), etanol (24,6%), diesel (46,5%) e gás natural (45,6%) –, além do reajuste de 42,7% do transporte por aplicativo. Adicionalmente, o comportamento dos alimentos no domicílio, em especial os aumentos de 55,9% dos tubérculos, de 8,1% das carnes, de 18,9% de aves e ovos, de 13,5% dos leites e derivados e de 10,8% dos panificados, também provocou impactos altistas significativos sobre a inflação no período, sobretudo para as camadas de renda mais baixa.

Fonte: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA