As cotações do trigo em Chicago também voltaram a subir nesta semana, fechando o dia 13/11 em US$ 5,53/bushel, após US$ 5,42 na véspera e US$ 5,20 uma semana antes. A cotação atual é a mais elevada desde o final de agosto passado, quando no dia 28 daquele mês o bushel bateu em US$ 5,56 para o primeiro mês cotado.
Tal movimento de alta se deu muito mais em função das altas nos mercados da soja e milho do que propriamente em razão de alguma mudança fundamental no quadro de oferta e demanda global.
Tanto é verdade que o relatório de oferta e demanda do USDA, anunciado no dia 10/11, pouco trouxe de novidades, a saber:
1) a produção dos EUA, no ano 2014/15, foi mantida em 55,1 milhões de toneladas;
2) os estoques finais dos EUA, para o mesmo ano, ficaram em 17,5 milhões de toneladas;
3) a produção mundial de trigo chega agora a uma projeção de 719,9 milhões de toneladas, com recuo de 1,3 milhão de toneladas em relação ao relatório de outubro;
4) os estoques finais mundiais se mantêm elevados, atingindo a 192,9 milhões de toneladas;
5) a produção da Argentina e do Brasil estão estimadas em 12 e 6,3 milhões de toneladas, enquanto a importação brasileira, para 2014/15, seria de 7 milhões de toneladas.
Afora isso, a demanda pelo trigo dos EUA continua fraca, sendo que as vendas líquidas, no ano 2014/15, na semana encerrada em 30/10, ficaram em 265.800 toneladas, ou seja, 32% abaixo da média das últimas quatro semanas. Já as inspeções de exportação estadunidenses de trigo somaram 300.774 toneladas na semana encerrada em 06/11, acumulando no ano, iniciado em 01/06, um total de 11,27 milhões de toneladas, contra 16,7 milhões em igual momento do ano anterior. (cf. Safras & Mercado)
Por sua vez, na Argentina a colheita da nova safra alcançava 7% da área no início desta semana, sendo que 76% das lavouras que restam colher se apresentam em boas condições apesar de algumas regiões de produção do país indicarem excesso de chuvas e granizo.
Nesse contexto, os preços nos portos argentinos, para a safra nova a ser embarcada em dezembro/janeiro, oscilaram entre US$ 248,00 e US$ 260,00/tonelada. A essa indicação de preço, o trigo argentino posto nos moinhos paulistas chega ao redor de R$ 827,00/tonelada ao câmbio atual. Assim, a paridade de importação indica o valor de R$ 722,00/tonelada no interior do Paraná e R$ 673,00/tonelada no interior do Rio Grande do Sul. Por outro lado, o trigo gaúcho posto em navio em Rio Grande fica entre US$ 225,00 e US$ 255,00/tonelada. Ao câmbio atual as regiões de produção do RS teriam preços entre R$ 482,00 e R$ 559,00/tonelada ou R$ 28,92 e R$ 33,54/saco.
No mercado interno gaúcho os preços continuam baixos devido a péssima qualidade da safra que está sendo colhida (cerca de 50% do total até o dia 09/11). Assim, a média no balcão ficou em R$ 25,10/saco, enquanto os lotes fecharam a semana entre R$ 450,00 e R$ 460,00/tonelada ou R$ 27,00 e R$ 27,60/saco (isso para produto de qualidade superior). Grande parte da safra gaúcha se apresenta de qualidade inferior (triguilho) cujo preço obtido pelo produtor, quando o produto é aceito, fica entre R$ 10,00 e R$ 12,00/saco.
Enquanto isso, no Paraná, onde a safra foi boa, os preços dos lotes fecharam a semana entre R$ 550,00 e R$ 580,00/tonelada ou R$ 33,00 a R$ 34,80/saco para o produto de qualidade superior.
No geral, o que vem dando sustentabilidade aos preços internos do trigo nacional, além da quebra gaúcha, são os leilões oficiais de Pepro. No dia 06/11 houve novo leilão, com escoamento de 211.000 toneladas do cereal, embora a demanda tenha sido de apenas 105.000 toneladas, sendo o Rio Grande do Sul naturalmente o maior interessado, apresentando uma demanda de 70,3% sobre as 100.000 toneladas ofertadas. O baixo interesse do mercado era esperado devido a burocracia para se acessar os recursos, assim como a elevação dos preços internos, fato que reduz o prêmio. Somando esse leilão, o governo teria garantido o escoamento de 560.900 toneladas do cereal. Um novo leilão estava previsto para este dia 13/11 para 208.000 toneladas, sendo 100.000 toneladas para o Rio Grande do Sul e 100.000 toneladas para o Paraná. O restante fica entre São Paulo, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina. (cf. Safras & Mercado)
Novas estimativas para a safra gaúcha dão conta de que a produção total, incluindo boa parte de trigo de baixa qualidade, ficará em apenas 1,7 milhão de toneladas, contra 3,2 milhões esperadas. Tem-se aí uma quebra física de quase 47% da safra. Soma-se a isso o agravante da comercialização, devido a baixa qualidade do produto colhido. Nesse momento, os preços praticados estão bem abaixo da média dos últimos cinco anos para novembro e muito abaixo da média obtida no ano passado. Ou seja, os prejuízos gaúchos com o trigo neste ano são imensos, sem falar que cerca de 300.000 toneladas ainda permanecem estocadas, remanescentes da ótima safra do ano anterior.
Enfim, no Paraná, segundo o Deral, o quadro é diferente. A colheita já atinge a 90% da área semeada, que foi 36% superior à registrada no ano anterior, chegando a 1,36 milhão de hectares. A comercialização, até o início desta semana, alcançava 24% do total, sendo que a produção final do Estado se mantém estimada em 3,87 milhões de toneladas ou 105% acima do colhido no ano passado. A produtividade média esperada no final da colheita é de 2.854 quilos/hectare ou 30% acima do registrado no ano anterior.
Nesse contexto geral, a produção brasileira não deverá ultrapassar a 6,3 milhões de toneladas e as importações deverão somar entre 6 e 7 milhões de toneladas, considerando a baixa qualidade obtida com o trigo gaúcho.
Fonte: Ceema