O motivo principal de tal movimento está na Rússia devido a forte desvalorização de sua moeda (rublo), que chegou a 10% na semana e 50% no semestre, fato que deverá forçar o governo local a bloquear as vendas externas de trigo visando evitar um estouro inflacionário interno. Com isso, o trigo dos EUA poderá ser mais demandado, fato que elevou as cotações.
Por enquanto, com o trigo muito barato devido a desvalorização da moeda local, há uma corrida pelo produto russo.
Dito isso, as vendas líquidas estadunidenses de trigo, referentes ao ano comercial 2014/15, atingiram a 442.300 toneladas na semana encerrada em 04/12, sendo 16% acima da média das últimas quatro semanas. O Japão foi novamente o maior comprador com 122.400 toneladas. Por sua vez, as inspeções de exportação estadunidenses de trigo registraram 385.974 toneladas na semana encerrada em 11/12, acumulando no ano comercial iniciado em 1º de junho um total de 12,8 milhões de toneladas, contra 17,9 milhões no mesmo período do ano anterior.
No cenário internacional ainda vale destacar que a Argentina liberou mais um milhão de toneladas de trigo para exportação, somando no total 2,5 milhões até aqui autorizados para exportação. O saldo exportável argentino seria de 5 milhões de toneladas no corrente ano comercial. Ainda na Argentina, a colheita da nova safra chegou a 60% da área semeada, que foi de 4,65 milhões de hectares. As projeções continuam indicando um volume final colhido de 12 milhões de toneladas neste ano.
No Uruguai, a produção final deverá ficar em um milhão de toneladas, havendo disponibilidade para exportação de 600.000 toneladas neste ano comercial.
Nesse contexto, os preços nos portos argentinos fecharam a semana entre US$ 240,00 e US$ 250,00/tonelada. Com o atual câmbio, tais preços representam, na paridade de importação, valores de R$ 782,00 e R$ 733,00/tonelada respectivamente no interior do Paraná e do Rio Grande do Sul. O trigo gaúcho estivado em Rio Grande se mantém entre US$ 238,00 e US$ 258,00/tonelada, para embarque em dezembro. Isso representa, ao câmbio atual, valores de R$ 548,00 a R$ 602,00/tonelada ou R$ 32,88 e R$ 36,12/saco.
Na prática, o mercado interno brasileiro do trigo iniciou a semana assimilando a notícia de que a colheita estaria encerrada, com o Paraná chegando a 3,87 milhões de toneladas e o Rio Grande do Sul a 1,7 milhão de toneladas. Posteriormente, a CONAB divulgou nova estimativa de safra, apontando um total brasileiro de 5,95 milhões de toneladas, ou seja, 15% menos do que a projeção de novembro. Portanto, o Brasil ficará longe do volume perto de 8 milhões de toneladas que se imaginava no momento do plantio.
Por outro lado, o leilão de Pepro do dia 11/12 negociou apenas 6.200 toneladas de trigo ou pouco menos de 12% do total disponibilizado com recursos oficiais subsidiados para comercialização.
No atual contexto, o trigo de qualidade superior deverá subir de preço na entressafra (fevereiro/março) por conta da pouca oferta interna após as quebras gaúchas, além do Uruguai e do Paraguai. Além disso, as altas no mercado externo e a desvalorização do Real, se mantidas nestes níveis, encarecem as importações nacionais. Todavia, há muita coisa ainda para se definir nesse mercado.
Por enquanto, a semana fechou com melhora na média do balcão gaúcho, já que o saco do cereal ficou em R$ 25,04. No ano passado, em meados de dezembro de 2013, o saco de trigo no balcão gaúcho valia R$ 35,17. Temos hoje, portanto, uma queda de mais de 10 reais por saco, sem contar ainda a inflação do período. Por sua vez, os lotes permaneceram em R$ 480,00/tonelada ou R$ 28,80/saco. No Paraná, os lotes giraram entre R$ 560,00 e R$ 580,00/tonelada, ou seja, entre R$ 33,60 e R$ 34,80/saco.
No caso específico do trigo gaúcho, há uma forte dependência das exportações para que os preços melhorem. Essa realidade deverá influenciar para uma redução na área semeada com o cereal em 2015. Enfim, pelo lado de quem possui trigo de qualidade superior ou produto da safra passada tende a segurar o produto na expectativa de preços mais elevados nos meses futuros. (cf. Safras & Mercado)
Fonte: Ceema