As cotações do trigo em Chicago fecharam a semana (06/11) em US$ 5,20/bushel, após US$ 5,36 uma semana antes. A média de outubro ficou em US$ 5,11/bushel, contra US$ 5,00 em setembro.
Houve certo movimento de alta no início da semana, em função de especulações climáticas na Rússia e países europeus, além da confirmação de quebra importante na safra da Austrália. Todavia, esse quadro acabou se revertendo no transcorrer da semana.
Colaborou para isso o fato de que o plantio de trigo de inverno nos EUA chegou a 90% da área até o dia 02/11 e vendas líquidas estadunidenses, em relação a média do último mês, 5% menores na semana encerrada em 23/10. Nesse último caso, o volume ficou em 444.900 toneladas na semana. Deste total o Brasil comprou 56.100 toneladas.
Por sua vez, o Conselho Internacional de Grãos indicou uma safra mundial de trigo em 718 milhões de toneladas, com elevação de um milhão de toneladas em relação ao seu relatório anterior. Os estoques finais mundiais deverão ser os maiores dos últimos quatro anos, sendo que na União Europeia os mesmos irão dobrar.
Soma-se a isso o fato de o mercado se posicionar em relação ao relatório de oferta e demanda do USDA, previsto para este próximo dia 10/11.
Pelo lado da demanda, o Egito, maior importador mundial de trigo, terá uma produção de 8,95 milhões de toneladas em 2014/15, fato que o levará a comprar no mercado mundial cerca de 10,3 milhões de toneladas já que seu consumo interno do cereal está projetado em 19 milhões de toneladas para este ano comercial. (cf. Safras & Mercado)
Vale ainda destacar que, segundo o USDA, a produção de trigo argentina deverá mesmo ficar em 12,5 milhões de toneladas neste ano 2014/15 (colheita se iniciando), sobre uma área de 4,2 milhões de hectares (20% superior a registrada em 2013/14). Com isso, as exportações argentinas de trigo subiriam para 15 milhões de toneladas, após 10,8 milhões no ano anterior, fato que tranqüiliza ainda mais os moinhos importadores brasileiros e não ajuda a melhorar muito os preços no futuro.
Nesse contexto, os preços da safra nova argentina de trigo, nos portos do vizinho país, ficaram entre US$ 245,00 e US$ 260,00/tonelada para embarque em dezembro/janeiro. Nota-se que os mesmos melhoraram um pouco na esteira da melhoria ocorrida em Chicago nas últimas semanas. A tais preços, o produto argentino chegaria no CIF São Paulo a R$ 811,00/tonelada, levando a paridade de importação no interior do Paraná e Rio Grande do Sul respectivamente para R$ 707,00 e R$ 658,00/tonelada. Já o trigo duro estadunidense chegaria posto em São Paulo a R$ 1.008,00/tonelada, levando a paridade de importação no interior paranaense e gaúcho a respectivamente R$ 900,00 e R$ 851,00/tonelada. O trigo macio estadunidense ficaria em R$ 827,00/tonelada, posto São Paulo, colocando a paridade de importação, para o respectivo produto paranaense e gaúcho, a R$ 722,00 e R$ 673,00/tonelada. Enfim, o trigo gaúcho embarcado em Rio Grande ficaria, para novembro, entre US$ 225,00 e US$ 255,00/tonelada. Ao câmbio atual isso significa valores de R$ 471,00/tonelada (R$ 28,26/saco) e R$ 546,00/tonelada (R$ 32,76/saco). Nota-se, portanto, uma melhoria nesses valores.
Em termos práticos, o mercado interno brasileiro viu a média gaúcha no balcão fechar a semana em R$ 25,27/saco, sem grandes mudanças em relação às últimas semanas. Já os lotes ficaram entre R$ 450,00 e R$ 460,00/tonelada, ou seja, entre R$ 27,00 e R$ 27,60/saco. No Paraná, os lotes fecharam a semana entre R$ 550,00 e R$ 560,00/tonelada, ou seja, entre R$ 33,00 e R$ 33,60/saco.
Em termos médios, o mês de outubro acabou fechando com ganhos de 4,4% para os lotes do Paraná e 6,38% no Rio Grande do Sul na comparação com setembro. Segundo Safras & Mercado quatro fatores foram decisivos para isso: os leilões de Pepro do governo federal; a desvalorização do Real, encarecendo a importação; a pouca oferta atual no Mercosul, levando os moinhos nacionais a comprarem nos EUA, onde o preço subiu um pouco em Chicago; as altas perdas nas lavouras gaúchas na atual safra de trigo.
Quanto aos leilões de Pepro, o quarto leilão, realizado no dia 30/10, negociou 70% das 206.000 toneladas ofertadas. Pela primeira vez o trigo gaúcho esteve presente neste leilão, com negociação de 83.033 toneladas subsidiadas de um total de 100.000 toneladas ofertadas. O restante do produto negociado tinha como origem o Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Um novo leilão de Pepro estava previsto para este dia 06/11, com 211.000 toneladas ofertadas, sendo 100.000 do Paraná; 1.000 do Mato Grosso do Sul; 5.000 de São Paulo; 100.000 do Rio Grande do Sul e 5.000 de Santa Catarina. Somando essa operação, os leilões totalizam 892.000 toneladas que receberam recursos públicos para escoamento.
Dito isso, é importante alertar para o fato de que o Rio Grande do Sul está tendo perdas severas em sua atual lavoura de trigo, sem falar na baixa qualidade do produto colhido, o que coloca o preço local, para esse tipo de produto, abaixo mesmo de R$ 10,00/saco em algumas localidades. Aliás, nem mesmo o triguilho para ração animal tem sido aceito em muitos casos devido ao elevado percentual de micotoxina. Ou seja, teria sido melhor deixá-lo nas lavouras do que colhê-lo.
No Estado gaúcho, a colheita teria chegado entre 25% a 30% da área, sendo que a projeção de colheita caiu para 1,9 milhão de toneladas, contra projeções de 3,2 milhões, sendo que boa parte está com a qualidade comprometida. Em muitas regiões, como o Noroeste e Missões, a produtividade média não passa de 1.400 quilos/hectare.
Já no Paraná, confirmando a reversão do quadro visto no ano passado, a colheita chegou a 83% da área cultivada, sendo que a produção final, embora um pouco menor, ainda se mantém na estimativa de 3,87 milhões de toneladas, contra apenas 1,89 milhão no ano anterior. A produtividade média paranaense está estimada em 2.584 quilos/hectare.
Diante desse quadro, particularmente gaúcho, a safra total brasileira não deverá passar de 6,5 milhões de toneladas, contra uma expectativa inicial de 7,85 milhões de toneladas. Isso eleva a necessidade nacional de importação para 2014/15, com a mesma pulando para algo entre 6,0 a 6,5 milhões de toneladas, contra apenas 5,0 milhões inicialmente previstos. (cf. Safras & Mercado)Nesse contexto, os preços internos tendem a subir passada a colheita nacional, salvo novos recuos em Chicago e/ou revalorização do Real.
Fonte: CEEMA