Comentários referentes ao período entre 13/09/2013 a 19/09/2013
Prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
Prof. Ms. Emerson Juliano Lucca²
Guilherme Gadonski de Lima³
As cotações do trigo em Chicago acusaram leve alta nesta semana, com o fechamento desta quinta-feira (19) registrando o valor de US$ 6,57/bushel, após US$ 6,27 no dia 13/09.
As vendas líquidas de trigo, por parte dos EUA, para a safra 2013/14, na semana encerrada em 05/09, ficaram em 543.882 toneladas, sendo que o principal destino foi o Brasil, novamente, com 210.800 toneladas. Na semana o volume total acusa um recuo de 19% sobre a semana anterior, porém, registra um aumento de 42% sobre a mesma semana do ano anterior. Já as inspeções de exportação, na semana encerrada em 12/09, ficaram em 1,25 milhão de toneladas, acumulando no total do ano comercial 2013/14 um volume de 11,4 milhões de toneladas, contra 8,4 milhões um ano antes.
Por sua vez, o trigo de primavera já está colhido ao redor de 90%, contra 87% na média histórica. Já o trigo de inverno, está semeado em 12% da área até o dia 15/09, estando dentro da média histórica.
Paralelamente, a Austrália deverá colher 25,5 milhões de toneladas de trigo em 2013/14, após 22,1 milhões no ano anterior, segundo o próprio USDA. Com isso, os australianos terão 19 milhões de toneladas a exportar. Já o Canadá deverá produzir a sua maior safra de trigo da história neste ano, com 31,5 milhões de toneladas. Diante desse volume, as exportações poderão chegar a um recorde de 20,5 milhões de toneladas, colocando o país como o segundo maior exportador mundial. (cf. Safras & Mercado)
Enquanto isto, no Mercosul, o anúncio de quebras severas nas lavouras do Brasil, devido as geadas, os preços futuros do cereal estão subindo. Na Argentina, o produto para embarque em 15 de dezembro pelo porto de Up River a tonelada ficou em US$ 298,00. Em Necochea a compra ficou em US$ 290,00/tonelada. Neste contexto, com o atual câmbio (R$ 2,19) o produto argentino chegaria aos moinhos paulistas ao redor de R$ 872,00/tonelada. Assim, a paridade no interior do Paraná seria de R$ 762,00/tonelada contra um valor de mercado paranaense, hoje, que gira entre R$ 1.000,00 e R$ 1.200,00/tonelada.
Notícias procedentes do Paraguai dão conta de que as geadas igualmente atingiram bastante os trigais, provocando quebras importantes em muitas regiões. A produção final paraguaia baixou agora para 1,0 milhão de toneladas, contra 1,3 milhão inicialmente. Mas a qualidade do produto a ser colhido poderá reduzir ainda mais tal estimativa.
Aqui no Brasil, a principal notícia é que as geadas desta semana de setembro atingiram novamente os trigais de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, provocando perdas que ainda estão sendo contabilizadas. Um primeiro levantamento aponta 20% de quebra no Estado gaúcho. No Paraná, as quebras foram ajustadas para algo próximo de 50% em relação ao inicialmente esperado, considerando já a perda de qualidade em boa parte do grão colhido.
Tanto é verdade que nos primeiros 10% de área colhida, o Paraná teria colhido entre 60% e 70% de triguilho e somente entre 10% a 12% de trigo tipo pão. O restante ficou na qualidade intermediária. Atualmente a colheita atinge a 28% da área e os números proporcionais sobre a qualidade do produto melhoraram um pouco, porém, longe do esperado inicialmente. Isso explica porque, no momento, os preços do cereal da safra velha voltaram a subir, se aproximando de R$ 1.200,00/tonelada (R$ 72,00/saco) para lotes. Atualmente, sem considerar a perda de qualidade, estima-se que a colheita paranaense fique em apenas 1,7 milhão de toneladas. A situação está tão crítica que a própria produção de sementes para a futura safra teria ficado comprometida naquele Estado. Na prática, os paranaenses estariam diante da pior safra dos últimos 13 anos.
No Rio Grande do Sul, os preços voltaram a subir, agora também puxados pelas possíveis perdas com as geadas da semana. A média gaúcha no balcão fechou a semana em R$ 39,70/saco, enquanto os lotes ficaram entre R$ 880,00 e R$ 900,00/tonelada. A cotação atual de balcão é 40% superior ao registrado no mesmo período do ano passado.
Esse quadro irá piorar o aperto na oferta do cereal no Brasil, mantendo preços elevados até o final do ano. No curto prazo, auxiliou a conter a alta de preços a revalorização do Real a qual permite importar trigo mais barato nesse momento. No médio prazo, a tensão sobre os preços somente irá diminuir com a entrada da safra da Argentina e do Uruguai em dezembro.
No somatório de todos estes problemas, a produção final brasileira de trigo, neste ano, está agora estimada entre 4,0 e 4,6 milhões de toneladas, sem considerar ainda a grande quantidade de produto com qualidade ruim que será colhida. Desta forma, o Brasil poderá importar entre 7,5 a 8,0 milhões de toneladas neste ano 2013/14, se constituindo esta numa das maiores de sua história.
¹ Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
² Professor, Economista, Mestre em Desenvolvimento, Analista e responsável técnico pelo Laboratório de Economia Aplicada e CEEMA vinculado ao DACEC/UNIJUÍ.
³ Estudante do Curso de Economia da UNIJUI – Bolsista PET-Economia.