A cotação da soja em Chicago, após ter alcançado US$ 8,50/bushel no dia 01/03 (um dos mais baixos valores dos últimos anos), se recuperou nesta semana, batendo em US$ 8,81/bushel no dia 10/03.
Houve um claro ajuste técnico, com tomada de lucros por parte dos operadores, sustentados por um relatório de oferta e demanda do USDA (anunciado no dia 09) que, embora tenha aumentado os estoques finais nos EUA para 12,52 milhões de toneladas no final de 2015/16, registrou um recuo de cerca de dois milhões de toneladas nos estoques finais mundiais, com os mesmos ficando agora em 78,87 milhões de toneladas. Igualmente, as importações chinesas foram aumentadas, passando de 80,50 milhões em fevereiro, para uma estimativa em março de 82 milhões de toneladas.
Por enquanto o mercado ignorou a possibilidade de a América do Sul colher um pouco mais do que o inicialmente previsto, já que a safra argentina poderá alcançar 60 milhões de toneladas (o USDA aponta 58,5 milhões), a brasileira ficaria entre 100 e 101 milhões de toneladas (o USDA indica 100 milhões de toneladas), enquanto nos demais países produtores (Paraguai, Bolívia e Uruguai) não houve alterações na estimativa.
Por sua vez, as exportações líquidas dos EUA, para o ano 2015/16, somaram 440.100 toneladas de soja na semana encerrada em 25/02. Esse volume foi 35% acima da média das quatro semanas anteriores. A China foi o maior comprador com 281.400 toneladas.
Quanto as inspeções de exportação de soja, as mesmas somaram 1,07 milhão de toneladas na semana encerrada em 03/03, acumulando no ano comercial iniciado em 01/09/15 um total de 39,5 milhões de toneladas, contra 42,5 milhões em igual período do ano anterior.
Pelo lado da demanda, a China teria importado 4,51 milhões de toneladas de soja em fevereiro, com recuo de 20,3% sobre o mesmo mês de 2015. Em janeiro as compras chinesas haviam chegado a 5,66 milhões de toneladas. Portanto, no acumulado do ano as importações chinesas somam 10,17 milhões de toneladas.
Vale destacar que em 2016, do total importado pela China, 1,9 milhão de toneladas veio do Brasil, o que correspondeu a 18,7% do total comprado pelos chineses no período. Por outro lado, o Brasil exportou nos dois primeiros meses do ano 2,43 milhões de toneladas, sendo que 78,2% disso foi para a China. Em relação ao ano anterior as vendas totais brasileiras de soja, no período, aumentaram em 155%.
Dito isso, os preços da oleaginosa no Brasil sofreram forte recuo nesta semana. Isso se deveu ao câmbio na medida em que o Real viveu forte valorização a partir dos desdobramentos da Operação Lava Jato, a qual atingiu o núcleo do poder central político nacional, implicando diretamente o ex-presidente Lula e a própria presidente Dilma. O mercado, que deseja ver um ajuste fiscal adequado e reformas estruturais profundas, considerou que tal movimento desenha um quadro de eliminação desta linha político-econômica (intervencionismo estatal na economia, com as nefastas consequências que o país está conhecendo), por uma linha mais ortodoxa e que faça, finalmente, o chamado dever de casa. Com isso, o dólar chegou a atingir, em alguns momentos da semana R$ 3,65 por dólar, se estabilizando ao redor de R$ 3,75.
Assim, mesmo com a recuperação em Chicago, o câmbio predominou, como tem sido corriqueiro, e a média gaúcha fechou a semana, no balcão, em R$ 68,70/saco, valor que há muito tempo não se via. Os lotes fecharam a semana em R$ 72,00/saco, já perdendo cerca de R$ 10,00/saco em relação aos melhores momentos de preço da atual safra. Nas demais praças nacionais, os lotes oscilaram entre R$ 57,50/saco em Sorriso (MT) e R$ 69,00/saco em Pato Branco (PR).
No mercado interno tudo agora irá depender do comportamento cambial, a partir da realidade política. No front externo, existem expectativas de que a área semeada com soja, na futura safra dos EUA, possa ser um pouco menor, fato que poderia elevar o bushel para valores entre US$ 9,50 a US$ 10,00 mais para o final do corrente ano. Por enquanto, ainda estamos no terreno das especulações. Por enquanto o mercado encontrou um nível importante de resistência ao redor de US$ 8,50/bushel, quanto a novos recuos, assim como encontra dificuldade em romper definitivamente o teto dos US$ 9,00. Em considerando o primeiro mês cotado, essa situação já dura desde o final de agosto de 2015.
No que diz respeito aos produtores brasileiros, a queda atual nos preços confirma a boa estratégia da venda antecipada, onde mais de 50% da safra atual já foi negociada. Quem foi por esse caminho deverá garantir preços entre R$ 70,00 e R$ 80,00/saco na média final.
Enfim, a colheita brasileira se mostra atrasada, devido ao excesso de chuvas nas regiões centrais do Brasil, tendo chegado a 41% da área no início de março. No Rio Grande do Sul, onde cerca de 10% teria sido colhido, a novidade é que a Emater, revendo suas projeções, apontou uma safra final ao redor de 16 milhões de toneladas. Isso desconsiderada a possível quebra de 10% na atual safra devido a problemas climáticos pontuais, apontado por algumas entidades de produtores. Pelo sim ou pelo não, confirma-se uma boa safra (e não uma superssafra como a grande imprensa local aponta) já que o aumento da produção se dá pelo aumento na área semeada e não exatamente pelo aumento da produtividade média. Aliás, essa está sendo calculada, no momento, ao redor de 49 sacos/hectare. Nesse sentido, diante dos custos de produção realizados, aqueles produtores que deixaram para comercializar a safra somente no momento da colheita, em permanecendo esse quadro cambial, poderão ter alguma dificuldade em fechar suas contas. E esse raciocínio vale para o restante do país, guardadas as características de cada região.
Quanto à comercialização da atual safra, segundo a AgRural, o volume chegou a 55% do total neste início de março, contra 40% em igual período do ano anterior. Isso confirma a correta percepção dos produtores sobre os excelentes preços praticados nos meses anteriores. No Centro-Oeste, igualmente por necessidade de crédito junto as firmas compradoras, 64% da safra já havia sido negociada. No Sul do país 39% já foi vendido, enquanto no Norte/Nordeste igualmente 64% havia sido negociado no até o início deste mês de março.
Em termos de preços futuros, para maio, o FOB interior gaúcho recuou para R$ 72,00/saco, enquanto Rio Grande ficou em R$ 77,00/saco CIF. Nas demais praças, para o período de março/abril, Rondonópolis (MT) registrou R$ 64,30/sacp; Dourados (MS) R$ 63,00; R$ Rio Verde (GO), Brasília (DF) e Uberlândia (MG) R$ 63,00/saco CIF. Na região do chamado Matopiba os valores ficaram entre R$ 64,00 e R$ 65,00/saco para maio.
Fonte: CEEMA
Gráfico da Soja na CBOT – Vencimento Set/16
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