Comentários referentes ao período entre 29/03/2013 a 04/04/2013
Prof. Dr. Argemiro Luís Brum ¹
Emerson Juliano Lucca ²
As cotações do trigo em Chicago, embora em recuo após os relatórios do USDA do final de março, acabaram se recuperando no final da semana, fechando a quinta-feira (04) em US$ 6,94/bushel, após US$ 6,96 na véspera e US$ 6,87 uma semana antes. A média de março ficou em US$ 7,25/bushel, contra US$ 7,32 em fevereiro.
Dito isso, as vendas líquidas dos EUA, em trigo, referentes ao ano 2012/13, na semana encerrada em 21/03, alcançaram 580.300 toneladas. Chama atenção o fato de o Brasil ter importado 181.500 toneladas do produto, e que tais compras tendem a aumentar por conta da retirada da TEC a partir de 1º de abril. Quanto às vendas líquidas para o ano comercial 2013/14, igualmente com início em 1º de junho, o volume atingiu a 248.300 toneladas na mesma semana. A China foi o principal comprador, com 172.000 toneladas.
Por sua vez, as inspeções de exportação estadunidenses de trigo atingiram a 700.387 toneladas na semana encerrada em 28/03. No acumulado do atual ano comercial 2012/13, o volume atinge a 21,6 milhões de toneladas, contra 22,5 milhões um ano antes.
Outro fator que deu certa sustentação em Chicago foi o fato do USDA divulgar que as condições das lavouras de trigo dos EUA, no dia 31/03, apresentarem apenas 34% entre boas a excelentes, 36% regulares e 30% entre ruins a muito ruins.
Já no Mercosul, o mercado continuou pouco movimentado. O corte de 70% das exportações da Argentina atinge o mercado local. Para 2013 as vendas externas seriam muito reduzidas devido a quebra na safra atual. Mesmo assim, os preços locais recuam, porém, não impedem que a paridade de importação com os EUA já seja vantajosa em alguns países da América do Sul. Isso proporciona uma entrada maior de trigo do Hemisfério Norte. Em Bahia Blanca, a oferta é limitada e os preços são nominais, o produto está cotado a US$ 350,00/tonelada na compra. No Uruguai, o trigo também recuou na comparação com o mês anterior, cotado a US$ 330,00/tonelada na compra. No Paraguai as cotações baixaram para US$ 310,00/tonelada para compra. Enfim, o trigo para exportação brasileiro está com indicação na faixa de US$ 335,00/tonelada FOB. (cf. Safras & Mercado)
Enquanto isso, no Brasil, o preço no balcão gaúcho fechou a semana na média de R$ 30,92/saco, enquanto a média dos lotes ficou em R$ 690,00/tonelada, com ganhos expressivos na semana (entre 3% e 6,5%). Tais ganhos se devem a forte escassez de trigo de qualidade superior no mercado gaúcho, associada a um aumento nos preços externos, particularmente devido a nova desvalorização do Real nestes últimos dias. Já no Paraná os lotes permaneceram entre R$ 770,00 e R$ 780,00/tonelada.
Além da escassez do produto de qualidade, importante se faz destacar que não haveria mais do que 2% da última safra para ser comercializada pelos produtores brasileiros. Assim, os preços internos, mesmo cedendo em relação aos melhores momentos, permanecem elevados e pressionando a inflação. É nesta lógica que as importações vêm sendo facilitadas e igualmente a Conab vem realizando leilões de venda de seus estoques. Nesse sentido, nesta quinta-feira (04/04) mais dois leilões estavam programados, num total de 51.700 toneladas.
Nesse contexto, espera-se que o futuro plantio brasileiro venha confirmar um aumento da área do cereal. O Paraná, por exemplo, acaba de revisar para cima a área a ser semeada, com a mesma ficando agora em 845.700 hectares. Isso representa 9% acima da área do ano anterior. Como o milho vem tendo seu preço em recuo é provável que a safrinha paranaense, deste último cereal, seja reduzida em favor do trigo, num movimento contrário ao ocorrido no ano passado. Em isso se confirmando, e o clima ajudando, projeta-se uma safra de até 2,5 milhões de toneladas no Paraná, ou seja, 500.000 toneladas acima do colhido no ano passado.
Enfim, pela paridade de importação, o trigo argentino estaria chegando aos moinhos paulistas, nesta primeira semana de abril, num valor de R$ 821,00/tonelada (ao câmbio de R$ 2,02). Nesse sentido, o produto do norte do Paraná, para poder competir com o argentino, poderia ser vendido por até R$ 711,00/tonelada. Ou seja, ainda há margem de redução dos preços nacionais.
¹Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
²Economista, Mestre em Desenvolvimento, Analista e responsável técnico pelo Laboratório de Economia Aplicada e CEEMA vinculado ao DACEC/UNIJUÍ.