As cotações do trigo em Chicago igualmente subiram um pouco. O fechamento desta quinta-feira (18) ficou em US$ 4,27/bushel, contra US$ 4,16 uma semana antes.
Essa alta ficou por conta de ajustes técnicos e pela precificação imediata dos números baixistas oriundos do relatório de oferta e demanda indicado pelo USDA no dia 12/08. Esse relatório apontou um forte aumento na safra estadunidense do cereal, com a mesma devendo atingir a 63,2 milhões de toneladas, contra 61,5 milhões indicados em julho. Já os estoques finais foram reduzidos para 29,9 milhões de toneladas, após 30 milhões em julho. Porém, ainda bem acima dos 26,7 milhões do ano anterior. O patamar de preços médios aos produtores estadunidenses, para 2016/17, ficou agora entre US$ 3,35 e US$ 4,05/bushel.
Em termos mundiais o relatório apontou uma safra global de 743,4 milhões de toneladas (cinco milhões de toneladas acima do indicado em julho), com estoques finais em 252,8 milhões, praticamente sem mudanças em relação a julho, porém, acima dos 241,9 milhões de toneladas registrados no ano anterior. A produção da Argentina foi reduzida para 14,4 milhões de toneladas e a brasileira foi mantida em 5,3 milhões. Os argentinos deverão exportar 8 milhões de toneladas em 2016/17, enquanto o Brasil irá importar 6 milhões.
A pequena alta na semana foi motivada por fatores técnicos, particularmente em função da redução dos estoques finais estadunidenses indicados pelo relatório do USDA.
É bom lembrar que as cotações do trigo em Chicago estão nos níveis de 2006, ou seja, antes das altas ocorridas nas commodities mundiais (entre 2007 e 2014). Assim, o trigo estadunidense está muito barato, puxando igualmente o preço do trigo da Argentina e demais países produtores, fato que favorece as importações brasileiras do cereal.
No Mercosul, a tonelada FOB para exportação continuou cotada entre US$ 205,00 e US$ 220,00.
A média gaúcha no balcão fechou a semana em R$ 40,17/saco, sem grandes modificações em relação às semanas anteriores. Os lotes se mantiveram em R$ 850,00/tonelada (R$ 51,00/saco), enquanto no Paraná ficaram entre R$ 850,00 e R$ 880,00/tonelada (R$ 51,00 a R$ 52,80/saco), porém, valores apenas nominais já que os volumes negociados são diminutos.
Na prática, o mercado brasileiro de trigo permanece com baixa liquidez, pela falta de produto de qualidade superior, enquanto os preços internos no Paraná já começam a recuar, pressionados pela proximidade da colheita da nova safra. Assim, altas nos preços do trigo surgirão apenas se o milho voltar a subir, pois isto fará as indústrias de ração voltarem a competir com os moinhos pelo cereal. Ou seja, o trigo poderá novamente ser sustentado pelas altas nos preços do milho a partir da virada do ano. Por outro lado, caso os preços do milho pouco se modifiquem, em relação ao patamar de hoje, a paridade de importação, mais baixa no momento, definirá um recuo nos preços do trigo nacional.
Aliás, é isso que move as compras dos moinhos de maior porte. Até mesmo as indústrias de ração estão partindo para a importação de trigo haja vista as vantagens nos preços. Já os moinhos de menor porte, sem cacife para importação, se obrigam a buscar o produto no mercado interno pagando, em alguns casos, até R$ 1.000,00/tonelada (R$ 60,00/saco) no Paraná.
No geral, os volumes importados de trigo por parte das empresas brasileiras continuam muito significativos, especialmente dos EUA. Logo mais, com a entrada da colheita do Paraguai, da Argentina e do Uruguai podemos assistir a uma pressão baixista do trigo procedente destas origens.
Assim, com a entrada da safra nova e diante de preços internacionais em baixa, apenas uma virada cambial poderá reverter o viés de baixa nos preços nacionais do trigo desta safra nova. Por enquanto não é o caso e parece não haver condições para isso no médio prazo, a julgar pelas expectativas políticas e econômicas existentes atualmente no Brasil.