Por: Rubens Augusto de Miranda e João Carlos Garcia – Pesquisadores da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo
As condições de oferta
Após um ano de safras recordes de milho, a produção mundial beirou um bilhão de toneladas. O resultado foi a queda dos preços e o aumento dos estoques mundiais, após anos de redução.
Apesar da queda, os preços do milho ainda continuaram atrativos, o que estimulou a aposta na cultura por mais um ano. Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a área plantada no mundo em 2014/15 permanecerá estável, com redução de apenas 130 mil ha, totalizando 177,25 milhões de hectares.
Nos Estados Unidos, a despeito da diminuição da área plantada de milho de 35,48 para 34,12 milhões de hectares, a expectativa do USDA é de que ocorra um acréscimo na produtividade, atingindo 10,38 toneladas por hectare. Assim, projeta-se que a produção do país deverá permanecer no mesmo patamar do ano anterior, ou seja, na faixa de 354 milhões de toneladas (a maior obtida nos EUA).
Inicialmente, com o atraso no plantio, surgiram interrogações em relação aos números do USDA, mas o bom desenvolvimento da nova safra de milho tende a confirmar a projeção. Segundo o USDA, até o dia 22 de junho, 74% das lavouras de milho estavam em boas ou excelentes condições. Em 2013, esse mesmo índice nesta data marcava 63%. Ou seja, há indícios reais de acréscimo na produtividade em relação à safra 2013/14, que foi de 9,97 t/ha.
No que se refere à Ucrânia, outro importante player do mercado internacional de milho, a última projeção do USDA apresenta uma redução de 12,6% na produção, resultando em 27 milhões de toneladas colhidas. Considerando a situação política delicada pela qual passa o país, na iminência de uma guerra civil, esta é uma produção satisfatória – caso se confirme – pois será a segunda maior já colhida. Em razão da importância da Ucrânia no abastecimento do mercado de milho internacional, com 16% do market-share, é importante estar atento ao desenrolar da crise em relação às condições de escoamento do grão. Eventuais problemas com as exportações ucranianas exercerão uma pressão de alta nos preços internacionais de milho.
No Brasil, apesar de a projeção da Conab apontar para uma diminuição da safra de milho em 2013/14 – 77,89 milhões de toneladas frente aos 81,5 milhões de 2012/13 – é ainda muito superior às quantidades necessárias para o abastecimento interno. A expectativa é de que haja um decréscimo da quantidade exportada. Tal perspectiva é corroborada pelos dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), apontando que os embarques de milho nos primeiros cinco meses do ano foram 35% inferiores do que no respectivo período de 2013. Caso a diminuição das vendas externas se confirme, mesmo com a queda na produção, os estoques de passagem devem aumentar. A Conab está alinhada com esse raciocínio, projetando um aumento de 3,6 milhões de toneladas nos estoques finais de 2013/14, fechando em 12,2 milhões de toneladas, com acréscimo de 5% na relação estoque/consumo.
Os preços
Os dados agregados da oferta mundial de milho 2014/15 indicam a manutenção da produção nos mesmos patamares na safra 2013/14. Considerando que o aumento de consumo projetado não será suficiente para equilibrar a oferta e a demanda, os estoques mundiais de milho devem aumentar em mais de 12 milhões de toneladas, segundo o USDA. Isso é um indicativo de que, caso as projeções mencionadas anteriormente se confirmem, os preços continuarão baixando no segundo semestre, pois o cenário de crise de abastecimento fica reduzido.
Os anúncios de diminuição da área semeada com milho nos EUA, assim como o atraso do plantio do grão no país, possibilitaram algumas altas dos preços mundiais no início do ano. Contudo, o cenário mudou com as previsões de clima favorável ao desenvolvimento das lavouras norte-americanas a partir de maio. Com o avanço satisfatório da safra, as preocupações que existiam no início do plantio diminuíram, fundamentando a quedas nos preços.
A partir desses sinais, os mercados futuros passaram a operar em baixa. Os contratos de milho na Bolsa de Mercadorias de Chicago (CBOT) com vencimento em setembro de 2014 já estão sendo negociados abaixo de US$4,40 o bushel.
No Brasil, os problemas climáticos da primeira safra e o atraso na semeadura da segunda safra em importantes regiões produtoras, que terminaram o plantio fora da janela ideal, ajudaram a sustentar algumas altas no preço do milho nos primeiros meses do ano.
As projeções de grande produção e redução das exportações somadas ao início da colheita da segunda safra reverteram os movimentos de alta dos preços, gerando uma pressão de baixa.
Os preços no Mato Grosso ilustram essa situação. A saca de milho em Lucas de Rio Verde estava cotada em R$ 12,60 no início de janeiro e chegou a R$ 20,95 no início de abril, ocorrendo aumento de 66%. Desde então os preços passaram a cair sistematicamente na região, chegando à cotação de R$ 13,00 no final de junho, mesmo patamar do início do ano.
Com o avanço da colheita da segunda safra, o aumento da oferta de milho pressionará os preços ainda mais para baixo e somente alguma nova notícia poderia reverter essa tendência. Dentre as possibilidades de “novas notícias”, é importante estar atento ao desenrolar da crise ucraniana, que poderá resultar em uma demanda externa adicional para o milho brasileiro.
Saindo um pouco do campo das (im)possibilidades, o produtor deve ponderar o cenário provável do segundo semestre no momento de fechar, ou não, negócios, tendo em mente que quanto mais milho da segunda safra entrar no mercado, mais os preços cairão. O início do período de embarques de milho para o exterior a partir da segunda quinzena de julho pode vir a segurar um pouco os preços. Porém, o quadro geral do segundo semestre é de baixa.