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INDICADORES DE TENDÊNCIA CIMILHO – Nº 60

Situação Mundial

Ao fim de um ano tumultuado, várias crenças foram colocadas à prova no mercado do milho, com a fragilidade de alguns participantes sendo realçadas, enquanto outros mostraram sua capacidade de aproveitar as oportunidades que surgiram.

Os Estados Unidos, celeiro do mundo durante vários anos, mostraram que seus limites estão sendo atingidos (o que os torna vulneráveis a acontecimentos imprevistos) e que objetivos internos (no caso a produção de etanol) têm mais relevância do que o abastecimento mundial. No que tange à Argentina, a condução de uma política agrícola equivocada gradativamente a afasta de mercados nos quais apresentava vantagens competitivas em áreas que estavam aparentemente consolidadas (tais como milho e carne bovina).

Por outro lado, países como o Brasil e a Ucrânia avançam na participação no mercado internacional de milho e criam condições para atender ao mercado interno com maior estabilidade.

Grandes expectativas estão sendo desenvolvidas para as próximas colheitas em diferentes regiões-chave do mundo e necessitam ser analisadas com cuidado e acompanhadas constantemente para evitar posicionamentos inadequados.

No caso do hemisfério Norte, a neve ainda não derreteu e já surgiram previsões sobre super safras. No dia 27 de fevereiro, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) emitiu um comunicado em que anuncia a realização, nas primeiras duas semanas de março, de um levantamento de intenções de plantio para a safra de 2013. O relatório final está previsto para 28 de março. Até lá, tudo são previsões, tais como a apresentada na última reunião do “Agricultural Outlook Forum” (organizado pelo mesmo USDA), na qual se encontram números otimistas relativas à próxima safra de milho nos EUA.

Em resumo, está prevista uma pequena redução na área plantada. Porém deve ocorrer um crescimento da área colhida (em virtude da não ocorrência de problemas climáticos) em relação à safra de 2012. Prevê-se uma produtividade agrícola semelhante à já obtida em 2009 (que foi o último recorde), o que resultaria em uma safra que seria a maior já colhida. Do lado da demanda, um consumo de milho para produção de etanol inferior ao máximo já utilizado, um crescimento modesto do consumo doméstico e das exportações. Para finalizar, uma recuperação dramática dos estoques (que seriam os maiores desde 2005). Um cenário muito semelhante a esse foi apresentado no início de 2012 e deu no que deu.

A base destas projeções está na recuperação das produtividades agrícolas, o que parece razoável, visto que os rendimentos obtidos em 2012 foram os terceiros de uma série de resultados decrescentes, a partir do recorde de 2009. Como é pouco provável que um raio caia quatro vezes em um mesmo local, é possível que este cenário do lado da produção ocorra. Porém, na magnitude dos resultados globais é que está a temeridade da previsão. É precioso combinar tudo ainda com o time adversário.

Na Argentina, ainda é cedo para previsões, mas pelo menos os campos já estão plantados e espera-se uma colheita de 25 milhões de toneladas, com uma disponibilidade de 17 milhões de toneladas para exportar. A Argentina chegou até a ensaiar uma grande frustração de safra com a estiagem das primeiras semanas do ano, mas as chuvas acumuladas recentemente aliviaram o problema de estresse hídrico. Por fim, temos que esperar para ver, pois cabe lembrar que o plantio foi incentivado pela própria presidente. Se não colocarem restrições na comercialização, com vistas a segurar os preços internos, o cenário mundial ficará mais calmo.

O outro grande participante no mercado internacional é a Ucrânia. Porém, a situação é como nos EUA. Ainda é muito cedo para prever qualquer coisa com segurança.

Para finalizar, a situação dos estoques mundiais é tão apertada que vai ser necessário muito mais do que uma boa safra para retornar aos bons tempos em termos de abastecimento de milho (se isto for possível algum dia).


Situação Interna

A safra de verão foi satisfatória no Brasil, sendo que os resultados têm sido além dos esperados em regiões críticas (por concentrarem o consumo nacional de milho), como os estados da região Sul (com maior ênfase no Rio Grande do Sul). A colheita está adiantada e, no Rio Grande do Sul, cerca de 70 % do milho está colhido ou maduro, o que é muito superior à média das últimas cinco safras (quando ficou ao redor de 50%). Na região Sudeste, a produção deve ficar semelhante à do verão de 2012, o que, em conjunto com a produção da região Sul e do estado de Goiás, garante o abastecimento do primeiro semestre.

Esta folga no abastecimento vem sendo contrabalançada pelas exportações, que continuaram firmes no mês de janeiro. Em uma base anualizada (fev/2012 a jan/2013), exportamos mais de 22 milhões de toneladas (3,3 milhões de toneladas em janeiro de 2013). Uma nova exportação considerável pode ser esperada para o mês de fevereiro. A partir daí, podem começar as dificuldades para exportar milho, tendo em vista o crescimento das exportações de soja pelos principais portos do Sul/Sudeste. Neste ponto, os nossos estoques estarão em níveis históricos e, por fim, terá sido finalizada a saga da gestão da safra de milho de 2011/12, que iniciou com sinais de desastre e terminou demonstrando o nossa competência como país exportador de milho.

Novos tempos começam a partir de agora. Assim como no hemisfério Norte, também temos uma safra cheia de indefinições, que está apenas iniciando e que já é hoje a responsável pela maior parte do milho colhido no Brasil. As estimativas iniciais da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicam um grande incremento da área plantada (superior a 8% no Centro-Sul do Brasil). Mesmo considerando-se uma produtividade menor do que a da safra de 2012, o que é razoável tendo em vista as condições climáticas muito favoráveis que ocorreram nesta safra, teremos como resultado uma produção que ainda é semelhante à obtida em 2012. Por outro lado, dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) mostram uma situação um pouco mais conservadora, se tomarmos como base o estado de Mato Grosso. Neste estado, que é o principal polo de produção nesta época de plantio , o Imea prevê um menor crescimento da área plantada (11%, contra 20% da Conab), uma grande redução na produtividade (23%, contra 10% da Conab) e, consequentemente, uma redução considerável na produção de milho (-14%, contra um acréscimo de 7% de Conab). Como se vê, e considerando-se as condições climáticas variáveis das lavouras instaladas na 2ª época (antiga safrinha) no Brasil, é necessário um acompanhamento constante até a definição da produção de milho, no mês de agosto.

Autores: Rubens Augusto de Miranda e João Carlos Garcia (Pesquisadores da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo)

Fonte: Embrapa


3 Comentários

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