Por: Bruno Cirillo
Os preços da soja e do milho devem se sustentar, no primeiro semestre, razão dos menores estoques já registrados pelos Estados Unidos, além de problemas para escoar a produção no Brasil, de acordo com especialistas e produtores ouvidos pelo DCI.
A perspectiva para os últimos meses do ano, no entanto, é negativa: com a entrada das safras norte-americanas, as cotações devem cair. Os contratos de novembro já apresentam tendência de queda de 14% (soja) e 22% (milho) em relação aos valores do mercado futuro para maio.
Frete em alta
No mercado doméstico, o produtor brasileiro vê sua remuneração diminuir desde janeiro, depois de ter tido felizes expectativas em relação à safra de 2012/2013.
No Mato Grosso, líder da produção de grãos no País, perdas na qualidade do produto, provocadas por chuvas intensas durante a colheita, e aumento de frete estão comprometendo a remuneração dos sojicultores.
O estado já vendeu soja 10% mais barata nos dois primeiros meses do ano. No mesmo período, com atrasos de até 70 dias nos portos, o frete encareceu acima de 50% em relação à safra anterior, chegando a R$ 320 por tonelada do grão.
“As tradings já nos cobram pelo atraso nas entregas, e com uma “gordura” devido à expectativa de baixa de preço no mercado futuro”, afirma o produtor Alex Utida, que preside o sindicato de Campo Novo do Parecis (MT).
O frete de Sorriso (MT) ao Porto de Santos, que cobre a maior distância entre o estado e o mercado externo, está 52% mais caro. Esse custo – coberto pelos agentes intermediários e depois repassado ao produtor – é de R$ 19,25 por saca (60 quilos).
Já o aumento no valor da soja corresponde a 5,5%, ou R$ 45,70 a saca, de acordo com dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
“O custo aumenta muito mais do que o preço. E se esperava preços maiores para esta safra”, observa o analista Cleber Noronha. “A logística do País não acompanhou o desenvolvimento da produção”, diz ele.
Quem se indigna a respeito do descompasso entre produção e logística é o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), Glauber Silveira. “Nosso custo ficou muito alto, e compradores têm ido atrás dos estoques norte-americanos. Era para comemorarmos até 100 milhões de toneladas neste ano, e os números perigam acabar em 82 milhões. O governo não age.”
De acordo com Silveira, outro problema é a perda de efeito dos agrotóxicos disponíveis no mercado. Silveira pede ao Poder Público agilidade na liberação de licenças.
Em relação à próxima temporada, Glauber Silveira teme que não haja ampliação da área para a cultura.
Soja vendida
O que tranquiliza Silveira é o fato de que a soja brasileira está “bem vendida” ao exterior, apesar de tudo. Cerca de 65% da safra já estão comercializados, de acordo com a analista de mercado Daniele Siqueira, da Agência Rural.
Ela faz uma comparação de cotações da soja e do milho no “mercado mais próximo” e em “contratos distantes”. A soja é cotada a US$ 14 por bushel em maio, mas a US$ 12 em novembro. Já o milho vale US$ 7 em maio, e US$ 5,5 no mês de dezembro.
“No caso do milho, o impacto é maior, pois a soja já está em boa parte comercializada, com o preço garantido”, observa Daniele. “A safrinha do milho terá impacto no preço – os produtores que colherem em julho receberão mais do que os que colherem entre agosto e setembro”, explica.
Até o segundo semestre, quando os preços da soja e do milho podem cair, a pressão de oferta da América do Sul equilibra-se com os estoques baixos nos Estados Unidos. O país norte-americano tem 3,4 milhões de toneladas de soja estocados, o suficiente para 15 dias de consumo – o menor nível já registrado.
O Brasil deve produzir 82 milhões de toneladas da oleaginosa; a Argentina, até 50 milhões; e os Estados Unidos, no fim do ano, 92 milhões, calcula a Agência Rural.