Comentários referentes ao período entre 14/06/2013 a 20/06/2013
Prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
Prof. Ms. Emerson Juliano Lucca²
As cotações da soja oscilaram bastante nesta semana, fechando a quinta-feira (20) em forte baixa, ou seja, em US$ 14,97/bushel para o primeiro mês cotado (julho). Enquanto isso, para novembro o fechamento ficou em US$ 12,85/bushel, fato que deixou a diferença para menos entre as duas posições em US$ 2,12/bushel.
Os efeitos de tal movimento no Brasil não foram significativos, pois o mercado local já vem trabalhando, neste mês de junho, com tais níveis de preços internacionais. Todavia, a surpresa tem sido o câmbio que, mais uma vez, voltou a ter forte desvalorização neste dia 20/06, chegando a R$ 2,25 por dólar. Mesmo sendo, no nosso entender, momentâneo, tal movimento preocupa, embora seja positivo para a formação dos preços nacionais da soja. Tanto é verdade que o balcão gaúcho fechou esta semana em R$ 61,56/saco, na média, enquanto os lotes permaneceram entre R$ 68,00 e R$ 69,00/saco, numa nítida tentativa do mercado em não absorver o movimento cambial em sua totalidade. Mesmo porque há muita soja disponível no mercado brasileiro (em sua última estimativa, inclusive, a Conab reviu para cima a produção gaúcha, com a mesma ficando agora em 12,53 milhões de toneladas). Nas demais praças nacionais, os lotes oscilaram entre R$ 55,00/saco em Sapezal (MT) e R$ 66,00/saco no norte do Paraná.
No fundo, voltamos a ter um forte movimento especulativo financeiro no mercado global em função das decisões do FED (Banco Central dos EUA). Apesar de, neste dia 19/06, seu anúncio ser de manter as compras de títulos públicos estadunidenses e, portanto, continuar irrigando o mercado mensalmente com US$ 85 bilhões, bastou o anúncio de que possivelmente em meados de 2014 esse procedimento venha a parar, já que a economia dos EUA começa a se recuperar, para o mercado oscilar fortemente junto às diferentes bolsas de valores mundiais. A forte de desvalorização do Real brasileiro, desde o final de maio tem muito a ver com isso, embora tenham contribuído igualmente as desastradas declarações de nosso ministro da Fazenda. Pelo sim ou pelo não, o fato é que se isso ajuda as exportações em geral e a soja em particular, prejudica enormemente o controle dos preços internos brasileiros, já em alta, pois incorpora as altas dos produtos importados. Nesse contexto, a tendência continua sendo de novos aumentos nos juro básico (Selic), com reflexos altistas nos demais juros. Uma situação que tende a frear ainda mais a já combalida economia nacional. Além disso, as enormes manifestações populares no Brasil, contra a corrupção e o descalabro no funcionamento do Estado, desestabiliza ainda mais o mercado, que já há mais de meio ano indicava que as coisas não estavam bem no país.
Dito isso, durante a semana mais notícias baixistas para o futuro se fizeram presentes no mercado. A empresa privada Informa Economics anunciou que a área final semeada com soja deverá chegar a 31,47 milhões de hectares, aumentando em 225.819 hectares a área semeada no ano anterior e ganhando mais 254.958 hectares do milho neste ano de 2013/14. Anteriormente, a Informa esperava até mais área sendo transferida do milho para a soja, já que reduziu em 214.488 hectares sua estimativa total de área a ser semeada com soja nos EUA. Mesmo assim, em clima normal, a produção final nos EUA poderá chegar a 93 milhões de toneladas a partir de outubro próximo diante dos novos números de área. Lembramos que a área oficial semeada será divulgada no próximo dia 28/06 pelo USDA.
Além disso, o plantio da soja nos EUA avançou bem, chegando ao dia 16/06 com 85% da área total, contra 91% na média histórica. Ou seja, o mesmo deverá se concluir sem problemas até o final de junho. Soma-se a isso o fato de que 64% das lavouras semeadas apresentarem, na data, condições entre boas a excelentes, 30% regulares e apenas 6% entre ruins a muito ruins. Tais números superaram as expectativas do mercado.
Paralelamente, as exportações líquidas dos EUA, para o ano 2013/14, com início previsto para o dia 1º de setembro, atingiram a 447.100 toneladas na semana encerrada em 06/06. Já para o ano 212/13 o volume ficou em 33.500 toneladas. Por sua vez, as inspeções de exportação de soja estadunidense atingiram a 75.084 toneladas na semana encerrada em 13/06.
Enquanto isso, o esmagamento de soja nos EUA, no mês de maio, atingiu a 3,3 milhões de toneladas, contra 3,27 milhões em abril e uma expectativa do mercado em 3,2 milhões de toneladas.
Na Argentina, a safra chega ao final com números oscilando entre uma produção de 48,5 milhões de toneladas (Bolsa de Cereais de Buenos Aires) e 50,2 milhões de toneladas (Ministério da Agricultura).
Enfim, os prêmios nos portos brasileiros, para junho, se mantêm negativos, salvo em Rio Grande. Neste último porto os mesmos terminaram a semana entre 5 e 10 centavos de dólar por bushel, enquanto nos demais portos nacionais o prêmio variou entre menos 31 e menos 37 centavos. Já em Rosário (Argentina) o prêmio ficou entre 25 e 40 centavos positivos. No Golfo do México (EUA), o prêmio oscilou entre 68 e 75 centavos de dólar por bushel.
Vale destacar ainda que a China acabou, como era esperado, aprovando a soja transgênica Intacta RR2 PRO, da Monsanto. Assim, essa semente já deverá ser cultivada em plena escala na próxima safra brasileira de soja caso os produtores rurais assim o desejarem.
Por sua vez, em termos de mercado futuro, para maio/14 o interior gaúcho estava pagando, neste final de semana, o valor de R$ 61,00/saco para lotes. Já em Rondonópolis (MT) o valor, para fevereiro/14, ficou em R$ 51,00/saco. No Mato Grosso do Sul valores ao redor de R$ 48,00/saco para março/14, enquanto em Goiás o valor se manteve em US$ 23,20/saco para fevereiro/14. Na região de Brasília, para abril/14, o preço indicado foi de R$ 54,80/saco. Na Bahia, para maio/14, valores a R$ 52,00/saco, o mesmo sendo registrado no Maranhão. No Piauí, para o mesmo mês, valor em R$ 54,30/saco na compra e no Tocantins R$ 51,50/saco. (cf. Safras & Mercado) Na BM&F/Bovespa o contrato julho/13 fechou a semana em US$ 32,13/saco, agosto em US$ 31,90 e novembro/13 em US$ 28,90/saco.
¹ Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
² Professor, Economista, Mestre em Desenvolvimento, Analista e responsável técnico pelo Laboratório de Economia Aplicada e CEEMA vinculado ao DACEC/UNIJUÍ.