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Análise semanal do mercado da soja

Comentários referentes ao período entre 15/02/2013 a 21/02/2013

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
Emerson Juliano Lucca²

As cotações da soja em Chicago se recuperaram na semana, após o feriado de segunda-feira (18) nos EUA. O bushel voltou a superar os US$ 14,80 no dia 20, fechando a quinta-feira (21) em US$ 14,87, após US$ 14,18 uma semana antes. O motivo deste movimento foi mais uma vez a especulação climática em torno da safra sul-americana. Embora as chuvas tenham retornado a contento em grande parte do Rio Grande do Sul, inclusive no Noroeste e Alto Uruguai gaúcho, na Argentina as mesmas foram menos intensas e mais irregulares. Tanto é verdade que novas projeções dão conta de uma safra, no vizinho país, de apenas 50 milhões de toneladas (cf. Bolsa de Cereais de Buenos Aires) quando, inicialmente, chegou-se a cogitar volumes entre 57 e até 60 milhões de toneladas. Ao mesmo tempo, ainda há forte demanda mundial pela soja dos EUA, fato que pressiona os estoques finais daquele país. Dessa forma, no curto prazo, Chicago se mantém oscilando entre US$ 14,00 e US$ 15,00/bushel. Todavia, na medida em que a colheita na América do Sul avançar, a oferta de soja aumenta e a tendência é de preços externos menores, salvo se ocorrer movimentos especulativos fortes, pelo lado comprador, provenientes do setor financeiro.

Apesar dos problemas climáticos ao sul da América do Sul, onde quebras já existem na Argentina e no Rio Grande do Sul, a produção total da região, em soja, está em 150,4 milhões de toneladas, contra apenas 117,2 milhões na frustrada safra passada. O número é mais baixo do que o inicialmente projetado, mas ainda se mantém como um importante volume para a recuperação da oferta mundial. Desse total regional, o Brasil ficaria com 84,6 milhões de toneladas (ainda não se contabilizam as quebras de safra no Rio Grande do Sul), a Argentina com 52,5 milhões (também sem contabilizar as últimas projeções indicadas acima), o Paraguai com 8,6 milhões, o Uruguai com 1,9 milhão e a Bolívia com 2,7 milhões de toneladas. No total, a América do Sul deverá exportar, neste ano 2012/13, 58,2 milhões de toneladas (+39% sobre o ano anterior), 48,9 milhões de toneladas de farelo (+12%) e 7 milhões de toneladas de óleo de soja (+18%), segundo levantamento de Safras & Mercado.

Dito isso, as exportações líquidas dos EUA, para 2013/14, somaram 345.000 toneladas na semana encerrada em 07/02, contra 771.000 toneladas na semana anterior. Por sua vez, os embarques semanais, na semana do 14/02, atingiram a 1,1 milhão de toneladas nos EUA, acumulando desde setembro/12 um total de 29,3 milhões de toneladas, contra 22,7 milhões no mesmo período do ano anterior.

Paralelamente, o esmagamento de soja nos EUA, em janeiro, chegou a 4,3 milhões de toneladas, contra 4,35 milhões em dezembro.

Já na Argentina, o esmagamento de soja em dezembro atingiu a 1,96 milhão de toneladas, contra 2,85 milhões em dezembro de 2011. No acumulado do ano comercial argentino abril/12-março/13 o esmagamento de soja alcança 26,04 milhões de toneladas, contra 30,2 milhões em igual período do ano anterior.

Enquanto isso, o prêmio nos portos brasileiros permanece dentro do padrão para esta época do ano. O mesmo varia entre 20 e 39 centavos de dólar por bushel. No Golfo do México (EUA) o prêmio ficou entre 65 e 72 centavos. Em ambos os países, prêmios para março. Já na Argentina, o prêmio para maio próximo ficou entre 15 e 30 centavos de dólar por bushel em Rosário.

No Brasil, na medida em que a colheita avança, os preços vão cedendo junto aos produtores. O balcão gaúcho fechou a semana na média de R$ 57,16/saco, havendo muitas regiões praticando valores ao redor de R$ 55,50. Nos lotes, o saco variou entre R$ 62,50 e R$ 63,25. Nas demais praças nacionais, os lotes giraram entre R$ 47,35/saco na região de Sapezal (MT) e R$ 60,00/saco em Pato Branco (PR). Com base no fechamento desta semana, para maio, a partir dos dados existentes hoje para o câmbio e o prêmio em Rio Grande, pode-se projetar um preço de R$ 51,00 a R$ 52,00/saco, no balcão, em abril, quando a colheita estiver intensa no Estado. Todavia, se Chicago ceder para níveis ao redor de US$ 13,00 a US$ 13,50/bushel, em função da pressão da oferta sul-americana, o preço gaúcho pode vir a valores entre R$ 46,00 e R$ 47,00/saco.

Auxilia muito para este comportamento, além da entrada da nova safra, o fato de o câmbio se manter ao redor de R$ 1,96 por dólar.

Na BM&F/Bovespa, a semana terminou com o contrato março valendo US$ 32,25/saco. Maio ficou em US$ 31,25 e novembro com US$ 28,87/saco.

Quanto à colheita no Brasil, até o dia 15/02 a mesma se mostrava mais avançada do que a média, com um total de 15% realizado, contra 11% de média histórica. No Paraná a mesma bateu em 25%, contra 9% na média; no Mato Grosso 25%, contra 22%; no Mato Grosso do Sul 26%, contra 11%; em Goiás 14%, contra 18%; em Minas Gerais 6%, contra 4%. Nos demais Estados produtores a mesma não havia iniciado. (cf. Safras & Mercado)

Enfim, vale destacar que a ameaça de greve portuária no Brasil, programada para os dias 22 e 26 de fevereiro, além de o setor primário argentino estar organizando uma greve geral para março, tem criado temor no mercado internacional, pois isso poderia bloquear temporariamente a comercialização da soja sul-americana num momento em que a oferta dos EUA é diminuta.

¹Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
²Economista, Mestre em Desenvolvimento, Analista e responsável técnico pelo Laboratório de Economia Aplicada e CEEMA vinculado ao DACEC/UNIJUÍ.


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