Apesar das oscilações normais, a última semana continuou com um bushel de soja acima de US$ 10,00 na média. O fechamento da quinta-feira (26) ficou em US$ 10,24 para o primeiro mês cotado. Essa cotação não era alcançada desde o dia 09 de janeiro de 2015.
Dois principais fatores estiveram presentes para esse comportamento: 1) surpreendendo o mercado, o USDA, em seu tradicional Fórum Outlook de fevereiro, informou que a área de soja a ser semeada nos EUA será menor do que a deste ano que passou. O Departamento avança uma projeção de 33,79 milhões de hectares, contra o recorde de 33,87 milhões no ano passado, ou seja, um recuo de apenas 0,24%. Com isso o Fórum do USDA indica uma colheita futura de 103,4 milhões de toneladas, contra as 108 milhões recentemente colhidas; 2) a greve dos caminhoneiros no Brasil estaria interrompendo a colheita em nosso país, assim como o fluxo de soja para os portos nacionais, levando o mercado a demandar mais soja dos EUA.
Todavia, vale destacar a respeito que o Fórum não é um número definitivo e sim apenas uma prévia. A área efetivamente que se leva em conta sai apenas no dia 31/03, quando haverá o relatório de intenção de plantio dos produtores estadunidenses. Por sua vez, o mercado já contabilizou que o recuo previsto é muito pequeno e, se o clima deixar, haverá novamente uma grande safra nos EUA neste ano de 2015. Tanto é verdade que o próprio Fórum indicou um preço médio, para o produtor dos EUA, em recuo dos atuais US$ 10,20 (ano 2014/15) para US$ 9,00/bushel (ano 2015/16). Isso porque os estoques finais estadunidenses deverão crescer para 11,7 milhões de toneladas em 2015/16, contra os atuais 10,5 milhões. Isso tudo, mesmo com exportações e esmagamento de soja norte-americanos um pouco mais elevados do que os registrados no corrente ano comercial 2014/15.
Por outro lado, os caminhoneiros, embora continuem com protestos em diferentes praças brasileiras, já começaram a negociar com o governo federal, havendo certa desmobilização neste final de semana em razão das propostas feitas pelo governo. Tudo indica que o protesto possa terminar já para o início de março (próxima semana), apesar do engajamento dos produtores rurais ao mesmo nos últimos dias.
Além disso, o cenário fundamental de longo prazo, com a colheita da América do Sul avançando e o clima, agora correspondendo, indica uma grande oferta mundial de soja, com estoques em alta.
Dito isso, nos EUA as inspeções de exportação estadunidense de soja alcançaram a 961.749 toneladas na semana encerrada em 19/02. No acumulado do ano comercial, o volume chega a 41,2 milhões de toneladas, contra 35,9 milhões em igual período do ano anterior.
Por sua vez, para março, os prêmios nos portos brasileiros continuaram recuando, registrando valores entre 54 e 86 centavos de dólar por bushel, mesmo com a paralisação dos caminhoneiros. Nos EUA, o Golfo do México registrou valores entre 69 e 71 centavos, enquanto em Rosário (Argentina) o prêmio ficou entre 24 e 76 centavos de dólar por bushel.
Aqui no Brasil, graças a um câmbio que se manteve oscilando entre R$ 2,83 e R$ 2,88 por dólar, e mais o movimento dos caminhoneiros, o preço da soja subiu mais um pouco na média. Ajudou igualmente a melhor performance de Chicago, embora a mesma tenda a ser momentânea. Assim, a média gaúcha no balcão fechou a semana em R$ 57,81/saco, enquanto os lotes ficaram entre R$ 62,00 e R$ 63,00/saco. Nas demais praças nacionais, os lotes giraram entre R$ 51,00/saco em Sapezal (MT) e R$ 61,00/saco no centro-norte do Paraná e região de Campos Novos em Santa Catarina.
No ano passado, nesta mesma época, a média gaúcha de balcão era de R$ 64,85/saco, enquanto os lotes registravam valores médios de R$ 71,00 a R$ 72,00/saco. Ou seja, comparando a atualidade com o ano anterior, há uma perda de R$ 10,00/saco nos lotes e de R$ 7,00/saco no balcão. Nas demais praças nacionais o quadro não é diferente. No final de fevereiro de 2014, em Sapezal (MT), o lote era negociado na média de R$ 54,50 (mais R$ 3,50 sobre o atual valor) e no centro-norte do Paraná em R$ 68,30/saco (R$ 7,30/saco a mais do que atualmente). Na verdade, o preço só não está mais baixo no Centro-Oeste porque houve quebra de safra neste ano devido a problemas climáticos.
Por outro lado, sempre é importante destacar que o atual preço da soja no Brasil está sustentado pelo câmbio, já que Chicago cedeu muito desde julho de 2014, perdendo cerca de US$ 4,00 a US$ 4,50/bushel até este final de fevereiro de 2015. Tanto é verdade que, se o câmbio brasileiro tivesse permanecido em R$ 2,25, como esteve até setembro/outubro passado, o saco de soja no balcão gaúcho, hoje, estaria em R$ 45,64/saco, ou seja, menos R$ 12,17/saco em relação ao atual preço médio de balcão. Caso o câmbio ficasse nos R$ 2,50 por dólar como estava no final do ano passado, o balcão gaúcho, nas condições de soja (Chicago, prêmio, custos de comercialização e margens) ficaria ao redor de R$ 50,71/saco, ou seja, menos R$ 7,10/saco em relação a média atual. Nestes dois últimos casos cambiais, a diferença a menos que o produtor gaúcho estaria recebendo, em relação ao mesmo período de 2014, seria de R$ 19,21 e R$ 14,14/saco respectivamente. Tal raciocínio, guardadas as diferenças de preços regionais, serve para todo o Brasil
Assim, o câmbio está salvando o atual preço da soja no Brasil. Porém, se agora haverá ganhos maiores do que o esperado, já que boa parte dos custos de produção foram feitos a um câmbio ao redor de R$ 2,25, também é verdade que a permanência de tal câmbio vem elevando os futuros custos de produção, colocando em xeque a próxima lavoura de inverno e, sobretudo, a próxima safra de verão. Isso porque a mesma deverá ser feita com custos muito elevados sem espaço, em princípio, para novas desvalorizações cambiais (desde que a economia nacional se ajuste), ao mesmo tempo em que se espera um novo recuo médio no bushel de soja em Chicago, embora de bem menor expressão do que o ocorrido nestes últimos sete meses.
Enfim, a colheita da soja no Brasil está atrasada em algumas regiões do país. No Mato Grosso do Sul, por exemplo, a área colhida chegava a 44,5% em meados de fevereiro, contra 70% no ano passado (cf. AprosojaMS). No Brasil, a área colhida neste final de fevereiro chegava a 21% do total esperado. (cf. Safras & Mercado) No Centro-Oeste já estaria faltando óleo diesel para a continuidade da colheita, especialmente ao norte do Mato Grosso.
Quanto a comercialização antecipada da atual safra de soja, em meados de fevereiro o Brasil registrava que 38% da safra estaria vendida, contra a média histórica de 54% nesta época do ano. No Mato Grosso 55% da atual safra haviam sido negociados, contra 69% na média histórica e 73% no ano passado. Em Goiás, 45% tinham sido negociados, contra 65% na média histórica e 70% no ano passado. No Paraná, 23% da safra haviam sido negociados, contra 41% na média e 43% no ano passado. Enfim, no Rio Grande do Sul 18% haviam sido negociados, contra 31% na média e 32% no ano passado. (cf. Safras & Mercado) Ou seja, os produtores, diante do movimento cambial, estão esperando que os preços subam ainda mais. Uma aposta muito arriscada se considerarmos que o Real já se desvalorizou acima do que a paridade de poder de compra indica, considerando o período de janeiro/1999 a fevereiro/2015.
Fonte: CEEMA