As cotações da soja em Chicago se recuperaram um pouco mais durante esta segunda semana de junho, alcançando US$ 9,51/bushel no dia 09/06, véspera do relatório de oferta e demanda do USDA. Após o relatório, o mercado voltou a recuar. O fechamento desta quinta-feira (11) ficou em US$ 9,40/bushel para o primeiro mês e US$ 9,08/bushel para novembro.
Dois fatores foram os principais motivos do movimento altista: a expectativa do relatório do USDA, diante da possibilidade de alguma revisão para baixo nas projeções de safra estadunidense; e o excesso de chuvas em algumas regiões produtoras dos EUA, atrasando o plantio.
Nesse último caso, o plantio até o dia 07/06 teria alcançado 79% da área, contra 81% na média histórica, ficando, pela primeira vez, atrasado em relação à média nesta temporada.
Quanto ao relatório, o mesmo trouxe apenas uma surpresa. A redução dos estoques finais nos EUA e no mundo para a soja em 2015/16. Agora, os referidos estoques estão respectivamente estimados em 12,93 milhões de toneladas (13,61 milhões em maio) e 93,22 milhões de toneladas (96,22 milhões em maio). Todavia, esse elemento não foi suficiente para impedir uma pressão baixista diante da enorme oferta mundial que está chegando ao mercado, já que a produção da América do Sul foi mais uma vez aumentada (para o Brasil, se espera uma colheita de 97 milhões de toneladas em 2015/16) enquanto a produção dos EUA foi mantida em 104,8 milhões de toneladas nesse ano. Assim, os preços médios aos produtores de soja estadunidenses ficou nos mesmos níveis do mês anterior, ou seja, entre US$ 8,25 e US$ 9,75/bushel (média de US$ 9,00/bushel), contra a média de US$ 10,05 em 2014/15 (provisória) e US$ 13,00 em 2013/14. Afora isso, o relatório não trouxe nenhuma outra grande novidade em relação a maio.
Nesse contexto, o clima será o elemento principal para reverter a pressão baixista nos EUA, pelo menos até setembro, quando se inicia a colheita. No geral, o quadro é positivo, havendo mesmo excesso de chuvas no momento. Portanto, os elementos altistas não têm força suficiente para manter as altas por longo tempo.
Um fator adicional que deu sustentação às cotações na semana foi o enfraquecimento do dólar no mercado mundial. Esse fato permitiu maior competitividade à soja estadunidense no mercado externo, além de a demanda interna se manter firme.
Nesse sentido, as inspeções de exportação por parte dos EUA, na semana encerrada em 04/06, somaram 216.590 toneladas, contra 73.998 toneladas na semana anterior. No acumulado do ano comercial iniciado em 1º de setembro o volume alcança 47,2 milhões de toneladas, contra 42,2 milhões no ano anterior.
Em contrapartida, na Argentina, onde a colheita já ultrapassa os 95% da área semeada, nova correção para cima no volume final a ser obtido esfriou parcialmente o mercado. Segundo a Bolsa de Buenos Aires, o volume estimado agora é de 60,8 milhões de toneladas no vizinho país.
Ainda na Argentina, as exportações de farelo de soja atingiram a 1,3 milhão de toneladas em março, somando no primeiro trimestre do corrente ano um total de 4,5 milhões de toneladas, contra 3,7 milhões em igual período de 2014.
Aqui no Brasil, com o recuo parcial do dólar, o câmbio voltou a trabalhar no patamar de R$ 3,09 no final da semana, puxando os preços locais um pouco para baixo. A média gaúcha no balcão ficou em R$ 59,66/saco, enquanto os lotes giraram entre R$ 64,00 e R$ 64,50/saco. Nas demais praças, os lotes oscilaram entre R$ 52,50/saco no Nortão do Mato Grosso, até R$ 62,00/saco no norte e centro do Paraná. Na BM&F, o contrato julho/15 ficou em US$ 21,98/saco no dia 10/06.
Quanto aos preços futuros, o FOB interior gaúcho, para maio, ficou em R$ 68,00/saco nos lotes. No Paraná, o porto de Paranaguá, para março, ficou em R$ 71,00/saco. No Mato Grosso, valores ao redor de R$ 56,50/saco FOB para fevereiro/março próximos, em Rondonópolis. No Mato Grosso Sul a região de Dourados indicou preço de R$ 58,00/saco para o mesmo período. Já Rio Verde (GO) trabalhou com valores de US$ 18,00/saco (R$ 55,62/saco ao câmbio de hoje) para fevereiro. A região de Brasília ficou em R$ 60,00/saco para abril. Enfim, a Bahia, Maranhão, Piauí e Tocantins, para maio/16, registraram respectivamente R$ 62,00; R$ 60,50; R$ 61,50; e R$ 59,00/saco. (cf. Safras & Mercado)
Enfim, o Mato Grosso espera aumentar novamente a produção de soja em 2015/16, projetando a mesma em 28,4 milhões de toneladas segundo o IMEA. Já o preço médio junto ao produtor mato-grossense, para março de 2016, esteve em R$ 51,51/saco em maio, fato que levou a comercialização antecipada a alcançar, no início de junho, 7,3% do total esperado para o Estado.
Já em relação à safra passada (2014/15) a comercialização da mesma chegava a 68% do total no conjunto do Brasil, segundo Safras & Mercado, estando abaixo da média histórica para o início de junho, que é de 78%. Em Goiás e Mato Grosso as vendas chegam a 80% da safra, enquanto no Paraná e Rio Grande do Sul o percentual respectivo é de 57% e 50% do total. Em todos os Estados citados o volume vendido está abaixo da média histórica. Isso reflete o comportamento dos produtores rurais que, na expectativa de novas desvalorizações do Real, retardam as vendas esperando preços melhores. Afinal, na média, os preços atuais estão nominalmente entre três a oito reais menores do que os praticados na safra do ano anterior.
O quadro geral indica estabilidade nos preços brasileiros na medida em que Chicago deve se manter nos atuais níveis (talvez um pouco mais baixos se a safra estadunidense for normal), enquanto não se espera novas desvalorizações do Real no imediato, especialmente porque o constante aumento na Selic (juro básico) atrai dólares ao país. Além disso, a balança comercial, em junho, voltou a registrar superávits semanais mais robustos, o que implica em mais entradas de dólares na economia nacional. Todavia, a grande incógnita continua sendo a concretização dos ajustes fiscais necessários e anunciados pelo governo. Um recuo nos mesmos tende a retirar dólares do Brasil, forçando uma desvalorização que já está pesando sobre a inflação anual acumulada nestes últimos meses.
Fonte: CEEMA