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Colheita atrasada e tempo ruim podem causar graves danos à safra nos EUA

O atraso no plantio da safra norte-americana e a atual situação que as lavouras enfrentam por conta da pouca chuva, que até poderia ser normal em anos anteriores, configuram sérios riscos ao maior produtor mundial de grãos. A questão é que a ausência de água está ocorrendo justamente na época em que a maior parte da safra, tanto de soja como de milho, está em fase de enchimento de grãos. O sentimento de problemas à vista foi notado pelo presidente da Aprosoja Brasil, Glauber Silveira, ao passar por Iowa e Nebraska na última semana, após cortar o país de Leste a Oeste, saindo de Illinois.

Fora a atual situação, ainda tem o risco de ocorrer geada na colheita da lavoura. Produtores do estado de Iowa comentaram com comitiva da Aprosoja Brasil, que está no país americano para acompanhar de perto o andamento da safra, que desde 1983 não tinham um clima tão irregular atrasando o plantio, com uma primavera chuvosa e fria. Disseram também que por um longo período o esteve seco, prejudicando as culturas no início do plantio, e em seguida o clima esfriou por duas semanas, o que prejudicou o desenvolvimento. Agora em algumas regiões está quente demais.

Todos esses fatores fizeram com que a safra dos Estados Unidos (EUA) ficasse muito irregular, tanto que o percentual de lavouras boas e ótimas está diminuindo e de regulares está aumentando. “Isso foi possível constatar em nosso percurso por esse país: soja desparelha, muitas não fecharam a carreira, milho com enchimento de grãos muito desuniformes em uma mesma área”, contou Glauber.

Os produtores norte-americanos também disseram que os períodos de seca ou pouca chuva não ocorrem todo ano, mas neste ano a situação se agravou pelo atraso no plantio, no qual as plantas não cresceram tanto e o período mais frio alongou o ciclo, o que fez com que a condição de estresse hídrico se agravasse.

“Por mais que o Departamento de Agricultura do país (USDA) diga que está tudo normal, não é o que vimos e sentimos dos produtores. Eles esperam produtividades menores do que o previsto, mas nada muito baixo. Um exemplo é a previsão para o milho em Nebraska: a média prevista é de 154 bushels por acre, a média do ano passado foi de 132,8 bushel e a media histórica é de 147,9 bushel por acre. Agora, se não chover nos próximos dias essa produtividade esperada pode cair”, afirmou Glauber.

A situação da safra dos EUA é fundamental na formação do preço futuro da safra brasileira e os produtores não estariam tão dependentes de preços melhores se os custos da safra no país não estivessem 25% mais altos, explica Glauber. “Diante dos altos custos ficamos esperando que a safra do vizinho quebre para que nós produtores brasileiros não quebremos”, finaliza ele.

Nos EUA também foi constatada grande diferença nas lavouras irrigadas diante das sem irrigação, o que comprova que a seca está afetando a safra. O ideal seria que o milho recebesse 50 mm de chuva por semana, mas as informações são que a chuva que cai é bem pouca. Nas lavouras de soja a comparação foi ainda mais clara, onde na parte irrigada a soja tinha 30 cm de diferença e 20% a mais de vagens e todas preenchidas, enquanto nas partes sem irrigação havia vagens com apenas três grãos e com apenas dois formatos. Glauber ressalta que ficou claro a falta de água: “Nos mais de 1.600 km rodados de Leste a Oeste, só vi chuva em Denver, no Colorado, a 200 km da zona produtora de soja”.

Os próximos dias serão cruciais para a consolidação dos prognósticos de produção, levando-se em consideração que a umidade do solo chegou a níveis críticos e que a soja e o milho em mais quinze dias completam seu ciclo de grãos na maior parte das lavouras. Aí entra a principal preocupação do momento dos produtores, o atraso de dez dias na colheita pode ser uma tragédia caso o inverno venha mais cedo.