É o maior negócio, em mais de uma década, de uma empresa chinesa para abocanhar uma companhia alimentícia no exterior. Outras aquisições incluem a compra da produtora de açúcar australiana Tully Sugar Ltd. pela estatal chinesa Cofco Corp., por cerca de US$ 140 milhões, no ano passado, e a compra da Manassen Foods Australia Pty. Ltd. pela Bright Food (Group) Co., de Xangai, em 2011, pelo valor estimado de US$ 522 milhões, incluindo dívidas. A Bright Food informou em 2012 que iria adquirir o controle da fabricante de cereais britânica Weetabix Food Co.
As compras fazem parte de um esforço amplo do governo chinês de assegurar o fornecimento de matérias-primas para a sua economia em rápido crescimento. As companhias estatais fecharam em anos recentes grandes negócios nas áreas de energia e mineração. Mas muitos dos investimentos no segmento de alimentos foram de menor porte.
A oferta da Shuanghui pela Smithfield, maior criadora de suínos e processadora de carne de porco do mundo, sinaliza que as aquisições vão ganhar importância e escala.
À medida que a China fica mais rica, proteínas relativamente mais caras passam a ter maior presença na dieta da população. O consumo de carne na China ainda precisa crescer cerca de 8% em relação ao nível do ano passado para alcançar o da Coreia do Sul, de acordo com a Organização para a Alimentação e a Agricultura das Nações Unidas, a FAO.
“Isso faz parte da ampla estratégia chinesa de investir o superávit em conta corrente em commodities estrategicamente importantes. E daqui para frente, mais aquisições internacionais são prováveis nos setores de carne e laticínios”, disse Paul Deane, economista sênior especializado em agricultura do Australia & New Zealand Banking Group Ltd.
O presidente do conselho da Cofco, Ning Gaoning, disse, em março, que a empresa busca oportunidades de investimento e aquisições nos EUA, Austrália e Brasil, sugerindo que, à medida que o paladar dos chineses for se tornando mais diversificado, a porta se abre para importações de produtos mais sofisticados.
A Austrália pode ser um destino preferido considerando os recursos naturais do país, disse Deane. Os investimentos chineses nos setores de alimentos e de agronegócios da Austrália e da Nova Zelândia somaram US$ 1,1 bilhão desde 1995, segundo a empresa de pesquisa Dealogic.
No Brasil, os investimentos chineses totais anunciados entre 2003 e 2011 somaram US$ 37,1 bilhões, mas apenas US$ 302,6 milhões foram para o segmento de alimentos e fumo, de acordo com levantamento do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
O setor de carnes pode ser um grande alvo, disse Chenjun Pan, analista do Rabobank. O consumo de carne na China tem crescido sistematicamente e os preços mais do que dobraram desde 2007, disse ela. O Departamento de Agricultura dos EUA estima que as importações de carne pela China devem chegar ao recorde de 175.000 toneladas este ano. Dados da indústria mostram que a China importou cerca de 61.000 toneladas de carne em 2012.
Leite e outros produtos lácteos também são alvos lógicos para as aquisições chinesas, disse Li Guoxiang, pesquisador do Instituto de Desenvolvimento Rural da Academia Chinesa de Ciências Sociais, que é financiado pelo governo.
“Se nós contarmos apenas com os recursos domésticos para desenvolver a indústria de criação de animais, a produção de grãos da China enfrentará desafios e haverá mais problemas sérios de poluição ambiental”, disse Li. Contar com recursos estrangeiros pode também atenuar as preocupações do governo em relação à escassez de alimentos, disse.
À medida que o aumento da riqueza se choca com uma série de escândalos sobre alimentos contaminados na China, potenciais compradores podem também adquirir fabricantes de alimentos processados de alta qualidade no exterior, incluindo azeite de oliva, carnes e produtos derivados do leite, como queijos e iogurtes, disse Pan. “O mercado doméstico não consegue convencer os consumidores de que a comida é segura, então há muito espaço para aquisições.”
Fonte: Wall Street Journal