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Estímulo monetário no Japão deve aumentar a especulação no mercado internacional de commodities

Por Ana Greghi

Após o fraco crescimento de 2012, a economia brasileira deve se recuperar gradualmente ao longo de 2013 e 2014, disse nesta sexta-feira, 12, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, à Informa Economics FNP, no  seminário “Rumos da Economia”, da revista Brasileiros, em São Paulo. A melhora da economia brasileira será puxada pela economia americana, pela dinamização da economia japonesa e pelo crescimento, ainda que menor, de países como China e Índia.

Para a o ministro, o grande empurrão à economia brasileira virá do Japão, após o banco central (BC) deste país ter comunicado um pacote de um dos maiores estímulos monetários do mundo, prometendo injetar por volta de US$ 1,4 trilhão na economia em menos de dois anos. No início de abril, o novo presidente do BC japonês, Haruhiko Kuroda, fez o banco comprometer-se à compra de títulos ilimitada e afirmou que a base monetária vai quase dobrar, para 270 trilhões de ienes (2,9 trilhões de dólares) até o fim de 2014, em uma medida de choque para acabar com duas décadas de estagnação. A meta do BC japonês é atingir a inflação de 2% em dois anos.

“O objetivo é irrigar a economia deste país com ativos financeiros e tentar movimentá-la a partir da redução da taxa de juros, o que deve estimular as atividades econômicas”, disse Mantega. Diferentemente dos Estados Unidos, que também tentaram uma reforma na política monetária, o Japão deve complementá-la à política fiscal, com deduções tributárias e investimentos em infraestrutura.

“Isso é bom porque a política monetária isoladamente pode surtir efeito no câmbio e talvez nas exportações, mas não necessariamente leva à recuperação da economia. Os Estados Unidos tiveram essa dificuldade de dar estímulos fiscais por motivos políticos”, explicou.

De acordo com o ministro, o Japão perdeu competitividade em relação aos países que praticaram o quantitative easing, expressão anglo-saxônica para caracterizar uma política monetária de um banco central para aumentar a quantidade de dinheiro em circulação na economia. O resultado imediato dessa política é a desvalorização do iene .

“O Japão já está conseguindo baratear os custos de suas exportações e isso tem implicações na economia mundial”, considerou.

No curto prazo, na avaliação de Mantega, vai haver sobra de liquidez na economia internacional, que poderá afetar inclusive o mercado de commodities. “Vai aumentar a especulação, e os preços poderão se elevar”. Além das atividades especulativas de curto prazo, os investimentos nos países emergentes poderão ser considerados atrativos, o que pode ser bom para o Brasil.

Em relação aos Estados Unidos, este deve ter um desempenho melhor neste ano, já que houve melhoras no mercado de trabalho e também no setor habitacional.

Comércio Internacional 

Segundo Mantega, o comércio internacional deve ser melhor neste ano e no próximo. “O comércio mundial vinha crescendo a taxas elevadas, de  até 19 % ao a.a , mas no ano passado despencou, crescendo menos de 1%”, lembrou. Com isso, sobrou pouco espaço para as exportações dos países, houve uma intensificação da concorrência e o desespero de quem precisava exportar para crescer. “Isto levou a uma guerra cambial, cada país tentando desvalorizar a sua moeda para ser mais competitivo, e práticas de dumping.”

Para o ministro, o Brasil teve uma redução de suas exportações no ano passado e sua maior queda ocorreu sobre os manufaturados, o que afetou e deve continuar a afetando a indústria brasileira, que depende de exportações, e da economia argentina.

“O problema continuará nos manufaturados porque as commodities são necessárias, elas têm mais demanda do que oferta. Elas continuarão indo bem”, afirmou.

O mercado interno 

O mercado interno, porém, segundo o ministro, evoluiu de forma melhor. “Na zona do euro, temos as maiores taxas de desemprego; nos Estados Unidos, o desemprego vem se reduzindo gradualmente. Felizmente, no Brasil a taxa está pequena, com falta de mão de obra em vários setores.”

Para Mantega, o baixo desemprego e o aumento da massa salarial ajudaram a manter o mercado interno dinâmico, com o crescimento do consumo do varejo de 7,8% em 12 meses. Em 2012, foram gerados 1,3 milhão de novos empregos.

Investimento, foco na logística

A meta do governo é aumentar o investimento e a competitividade das empresas brasileiras, reduzindo custos e tributos. Para isso, conforme Mantega, o governo anunciou o maior programa de concessões de infraestrutura à iniciativa privada, que envolvem  R$ 470 bilhões, com enfoque em logística.

“O setor de logística tem demanda assegurada, é uma necessidade da economia. Ela se tornou  necessária diante da evolução do comércio exterior brasileiro”, disse.

Segundo Mantega, os projetos concentrados em logística, ferrovias e no Trem de Alta Velocidade (TAV), entre outros, já estão sendo colocados em leilão, de modo que esses investimentos “sejam apressados”. O ministro garantiu que o governo fará que a margem de rentabilidade seja atraente ao setor privado nessas concessões, que seriam também uma medida anticíclica em período de crise. “O investimento em infraestrutura está entre as medidas essenciais para a redução do custo Brasil.”

Redução de tributos

De acordo com o governo, vem sendo implementado, desde o ano passado, um programa ousado de desonerações, incluindo reduções de tributos para a indústria, investimento, transporte e consumo de baixa renda, como no caso da cesta básica. No ano passado, o ministro disse que foram reduzidos R$ 44,5 bilhões em tributação. Para 2013, a meta é de desonerar tributos na ordem de R$ 70 bilhões, ou seja, mais de 1,5% do  Produto Interno Bruto (PIB). No próximo ano, o objetivo é de R$ 88 bilhões, quase 2% do PIB.

Mantega também disse que há 42 setores que já estão sendo beneficiados com a desoneração da folha de pagamento e novos virão ao longo de 2013 e 2014, como no caso do setor sucroalcooleiro, por exemplo. Com isso, o governo pretende reduzir o custo de produção e espera que isso se transforme em expansão do investimento.

“Não podemos fazer  isso em todos os setores porque o custo do INSS patronal implicaria perda de R$100 bilhões ao tesouro, que não suportaria. O país precisa preservar sua solidez fiscal.”

Questionado pela FNP sobre como será essa desoneração no setor sucroalcooleiro, o ministro se esquivou e disse que haverá, sim, uma redução de tributos nesse segmento, mas, por enquanto, não houve nenhuma medida efetiva.

Ainda na tributação, o ministro citou a reforma do Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual, intermunicipal e de comunicação (ICMS), que, segundo ele, que tem grandes chances de ser aprovada no primeiro semestre. A próxima reforma, disse, será a do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins).

Fonte: Informa Economics FNP