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Renovação da frota, sem impostos

Samir Keedi
Todos conhecem os problemas e as deficiências da logística brasileira. Boa parte desses problemas ocorre devido ao fato de que cerca de 60% de nossa carga trafegam pelas estradas, fazendo do “caminhão” – termo genérico, pois me refiro a qualquer veículo rodoviário de carga, em especial as carretas – um meio de transporte estratégico – dentro das falhas que temos. Um País como o Brasil não poderia se dar ao luxo de transportar sua carga, primordialmente, por esse veículo. Em São Paulo, a situação é ainda pior, aproximando-se de 100%.

Os problemas do Brasil começaram na década de 50, com a “eleição” da indústria automobilística como carro-chefe do desenvolvimento. Nada de errado aí! Ao contrário. Apoio essa iniciativa e sei que devemos louvar ao presidente Juscelino por sua obstinação. O problema é que não devíamos ter abandonado a ferrovia, sucateando-a, para tentar retomá-la somente em meados da década de 90, completamente fora de seu tempo. De qualquer forma, acredito que sempre é possível recuperar o tempo perdido.

Para isso, é necessário que o veículo rodoviário seja utilizado adequadamente, como acontece nos países de tamanho equivalente ao do Brasil, como EUA, Austrália e China, que o usam, respectivamente, em 26%, 24% e 8%. Esse meio de transporte, maravilhoso em praticamente todos os aspectos, já que é o único capaz de pegar a carga em seu ponto de origem e entregá-la no destino, precisa ser mais bem utilizado. Se tivéssemos de eleger apenas um veículo para transporte de carga, deveria ser esse – o único capaz de fazer o transporte de ponta a ponta. Todos os demais, salvo raríssimas exceções com relação ao ferroviário, são absolutamente dependentes do “caminhão”.

Sendo assim, é necessário planejar uma forma de diminuir o uso desse modo de transporte, e colocá-lo em prática urgentemente. Uma mudança na matriz de transporte faria bem ao país, já que, transportando cargas pelos modais marítimo, fluvial e ferroviário, seria possível apenas distribuí-las pelo caminhão. Sobretudo, nas cidades nas quais só é possível fazê-lo dessa maneira. Essa mudança traria um enorme ganho para toda a sociedade, com redução do custo das mercadorias. Haveria o aumento automático do poder aquisitivo dos brasileiros, permitindo maior consumo e, consequentemente, maior produção, mais emprego, mais crescimento. Portanto, crescer depende da mudança da matriz de transportes, mas também é necessária a completa renovação da frota rodoviária, pois a sua idade média é de 18 anos. Se essa é a média e estamos produzindo caminhões há meio século, imagine a idade de alguns deles. É só andar pelas ruas, avenidas e estradas para constatar.

O que o governo está esperando para criar um “recaminhão”, a exemplo do “reporto”, para que os veículos possam ser comprados completamente isentos de impostos? Qual seria o efeito na renovação da frota? Geração de empregos, aumento de produção, desenvolvimento? O que é um caminhão, se não um meio de produção? Ele nada produz? Ao contrário, a distribuição também é produção, tem custos e se reflete no produto.

As três esferas de governo deveriam se unir e adotar a imediata eliminação de todos os impostos sobre o “caminhão”, visando barateá-lo. Isso não é o que ocorre com o táxi? Os carros não são comprados frequentemente sem impostos, de modo que os usuários tenham uma tarifa adequada e passível de utilização? O caminhão não seria mais importante, uma vez que leva a produção aos pontos-de-venda, atingindo todos os brasileiros sem exceção, dos mais ricos aos mais pobres? Isso já é sabido.

Sendo assim, nada mais justo que a eliminação de todos os impostos incidentes na comercialização desse veículo, dando uma chance maior ao País de se desenvolver e incluir mais pessoas entre os que podem consumir.

Cada brasileiro, sem distinção, ganharia com isso.

O que fazer quanto ao valor que deixaria de ser arrecadado? Alguém duvida de que os impostos não recolhidos não seriam perdidos? E que muito mais do que tal perda seria gerado com mais consumo, crescimento, emprego etc.?

Samir Keedi: Economista e professor da Aduaneiras em assuntos relacionados ao Comércio Exterior
Fonte: Monitor Mercantil, 27/04/2009
Seção: Opinião