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SOJA – Análise semanal do mercado – 09/Ago/2013

Comentários referentes ao período entre 02/08/2013 a 08/08/2013

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
Prof. Ms. Emerson Juliano Lucca²
Guilherme Gadonski de Lima³

As cotações da soja em Chicago voltaram a ceder durante esta semana, embora em ritmo bem menos intenso, especialmente para os meses mais recentes. Todavia, as constantes quedas nas últimas semanas levaram o mercado a uma correção técnica nesta quinta-feira (08), com as cotações subindo bem. O fechamento deste dia ficou em US$ 13,55/bushel, para o primeiro mês cotado (agosto), enquanto novembro fechou em US$ 11,84. A diferença entre os dois meses é de US$ 1,71/bushel no momento. Vale destacar que a partir do dia 15/08 sai agosto e entra setembro na primeira posição de cotação, mês este mais fraco. O óleo de soja em Chicago continuou sua queda, fechando a semana em 41,65 centavos de dólar por libra-peso, enquanto o farelo de soja chegou a romper o piso dos US$ 400,00/tonelada curta em alguns momentos da semana. Algo que também não era visto há muito tempo.

O centro do movimento continua sendo o mesmo: clima normal nos EUA, com chuvas adequadas e projeção de uma safra acima de 93 milhões de toneladas neste país, fato que recomporia os estoques finais. Nesse sentido, importante se faz destacar que neste próximo dia 12/08 teremos mais um relatório de oferta e demanda do USDA, o qual comentaremos no próximo boletim.

Paralelamente, as condições das lavouras nos EUA melhoraram, com a soja apresentando, até o dia 04/08, 64% das mesmas em condições entre boas a excelentes, 27% em situação regular e 9% apenas entre ruins a muito ruins. Na semana anterior, 63% estavam entre boas a excelentes.

Além deste elemento climático favorável, importante se faz destacar que a especulação financeira nas bolsas vem perdendo força há algum tempo, tendo ganho mais razão para tal comportamento com o novo anúncio do Banco Central estadunidense de que a injeção mensal de US$ 85 bilhões, via resgate de títulos, estaria para ser reduzida já a partir de setembro. Ora, menos dinheiro disponível menos recursos para especular em todas as áreas. Aliás esse tem sido um dos motivos, embora não o mais importante, para a desvalorização do Real brasileiro nos últimos 90 dias.

Pelo lado do mercado propriamente dito, as inspeções de exportação de soja por parte dos EUA, para o ano 2012/13, atingiram a 37.039 toneladas na semana encerrada em 01/08, confirmando o aperto de oferta no curto prazo naquele país. No ano passado, na mesma época, o volume inspecionado foi de 351.745 toneladas. No acumulado do ano comercial, iniciado em 01/09/12, o volume alcança 35,3 milhões de toneladas, contra 35,2 milhões na mesma época do ano anterior. Já as exportações líquidas estadunidenses de soja, para o ano 2013/14, a se iniciar em 01/09/13, atingiram a 1,03 milhão de toneladas na semana encerrada em 25/07. O principal comprador foi a China com 558.000 toneladas. Para 2012/13 o volume exportado ficou em 78.500 toneladas. No total dos dois anos o volume ficou bem acima do esperado pelo mercado.

Por sua vez, na Argentina os produtores locais já haviam comercializado 56% da safra 2012/13 neste início de agosto, contra 78% em igual período do ano anterior.

Enfim, os prêmios voltaram a melhorar nos portos brasileiros, com Rio Grande acusando valores entre 20 e 60 centavos de dólar por bushel para agosto. Nos demais portos nacionais, o valor ficou entre menos 8 centavos e mais 30 centavos de dólar. Na Argentina (Rosário) o prêmio oscilou entre menos 20 e mais 20 centavos de dólar. E nos EUA (Golfo do México) os mesmos ficaram entre US$ 1,50 e US$ 1,95/bushel.

Quanto ao mercado brasileiro, mesmo com um câmbio ao redor de R$ 2,30 por dólar, os preços acabaram recuando, sob pressão de Chicago. A média gaúcha no balcão ficou em R$ 58,21/saco, havendo regiões que trabalham ao redor de R$ 56,00, enquanto os lotes se mantiveram entre R$ 63,00 e R$ 63,50/saco. Nas demais praças nacionais os lotes recuaram para valores entre R$ 50,00/saco em Sapezal (MT) e R$ 61,50/saco em Cascavel e Pato Branco, no Paraná.

A tendência continua sendo de baixa quanto mais avançar a safra dos EUA. Nesse momento, em se mantendo um câmbio ao redor de R$ 2,25 por dólar, para maio/14, o balcão gaúcho, em safra cheia, poderá obter, na melhor das hipóteses, o preço de R$ 51,70/saco. Considerando que Chicago possa recuar mais (ao redor de US$ 11,00/bushel em colheita cheia nos EUA) e o câmbio brasileiro venha para níveis ao redor de R$ 2,15, o preço do saco de soja, em maio/14, ficaria pelo menos em R$ 46,20/saco, com potencial para recuar a R$ 43,50/saco dependendo da percentagem de descontos aplicada pelos compradores do produto. Obviamente, tudo isso em havendo safra cheia nos EUA e na América do Sul em 2013/14. A primeira está quase garantida, enquanto a segunda é uma incógnita, embora se aponte um aumento de área cultivada.

Neste contexto, continuam interessantes os preços futuros para a soja, oferecidos pelo mercado neste momento. Embora já tenham recuado em relação aos seus melhores momentos, os mesmos ainda são bem superiores aos valores que estão sendo projetados para a colheita.

No Paraná, por exemplo, o porto de Paranaguá, para março/14, aponta um valor de US$ 25,70/saco (R$ 59,10/saco ao câmbio de hoje), enquanto o disponível está em R$ 65,00/saco. No Rio Grande do Sul, para maio/14, o FOB interior está pagando R$ 59,50/saco. No Mato Grosso, a soja foi cotada a R$ 48,50/saco para fevereiro/março do próximo ano, na região de Rondonópolis. Em Dourados (MS), indicações nominais de preços a R$ 48,00/saco para março. Em Goiás, para fevereiro, o saco de soja está em US$ 21,50 (R$ 49,50 ao câmbio de hoje), enquanto a região de Brasília, para abril/14 registra valores de R$ 51,50/saco na compra. Em Minas Gerais, para abril/14, a compra ficou em R$ 51,00/saco. Enfim, na Bahia, Maranhão, Piauí e Tocantins, para maio do próximo ano, o preço da soja, na compra, fechou a semana respectivamente em R$ 53,00; R$ 52,00; R$ 54,00; e R$ 51,30/saco. (cf. Safras & Mercado)

Enfim, a importante newsletter brasileira Safras & Mercado indicou que os agricultores de grandes países produtores como o Brasil, China e Índia serão beneficiados pelo fim de um dos dois grandes cartéis globais da indústria de potássio, ingrediente de fertilizantes fundamentais para importantes países produtores de alimentos do mundo. A saída da russa Uralkali da joint venture Belarus Potash Company (BPC), anunciada nesta semana, abre caminho para os consumidores exigirem reduções substanciais de preços de potássio, na avaliação de representantes do setor. China e Índia respondem por cerca de 30 por cento da demanda global de potássio, e tinham sido forçados a aceitar os altos preços por uma década em um mercado dominado pela BPC, integrada pela Uralkali, e pela Canpotex, da América do Norte. Assim como Índia e China, o Brasil é um grande importador de potássio, comprando no exterior cerca de 90% do insumo para a produção de fertilizante.

¹ Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
² Professor, Economista, Mestre em Desenvolvimento, Analista e responsável técnico pelo Laboratório de Economia Aplicada e CEEMA vinculado ao DACEC/UNIJUÍ.
³ Estudante do Curso de Economia da UNIJUI – Bolsista PET-Economia.