As cotações da soja, nesta primeira semana de março, após terem registrado US$ 10,30/bushel no dia 27/02, arrefeceram e fecharam a quinta-feira (05/03) em US$ 9,79/bushel. Para maio, o fechamento ficou em US$ 9,85. A título de comparação, a média de fevereiro ficou em US$ 9,92/bushel, após US$ 9,99 em janeiro.
Durante todo o mês de fevereiro dois motivos particulares ajudaram a dar maior sustentação às cotações em Chicago: 1) o surpreendente anúncio do Fórum Outlook do USDA de que, talvez, a área a ser semeada com soja nos EUA, neste ano de 2015, venha a ser um pouco menor do que a registrada no ano passado (o mercado espera um aumento na área semeada); 2) a forte greve dos caminhoneiros no Brasil, que se estendeu até este início de março, bloqueando o transporte da nova safra de soja local, inclusive para os portos, assim como atrasando a colheita em algumas regiões por falta de combustível.
Todavia, como o principal relatório sobre a verdadeira área a ser semeada nos EUA sairá somente em 31/03 (intenção de plantio) e como a greve dos caminhoneiros brasileiros terminou no transcorrer desta primeira semana de março (há ameaças de a mesma retornar a partir do dia 10/03), o mercado recuou, pois a oferta brasileira se normaliza.
Ao mesmo tempo, as exportações líquidas estadunidenses de soja, do ano 2014/15, iniciado em 1º de setembro, chegaram a 459.200 toneladas na semana encerrada em 19/02. Esse número ficou 26% menor do que a média das quatro semanas anteriores. Já para o ano 2015/16 as exportações somaram 36.200 toneladas. Quanto as inspeções estadunidenses para exportação de soja, as mesmas somaram 635.164 toneladas no dia 26/02. No acumulado do ano comercial iniciado em 1º de setembro, as inspeções somam 41,9 milhões de toneladas, contra 36,9 milhões no ano passado nesta mesma época.
No geral, o cenário fundamental continua sendo baixista para a soja, já que a oferta mundial deverá ser expressiva neste ano, sobretudo se houver aumento na área semeada com a oleaginosa nos EUA. Tanto é verdade que o Brasil espera colher 91 a 92,5 milhões de toneladas (houve novo recuo na projeção de colheita brasileira) e a Argentina 58 milhões. Nos dois casos teríamos a maior safra da história, após o recorde histórico obtido pelos EUA (108 milhões de toneladas) no final do ano passado. O próximo relatório de oferta e demanda do USDA, previsto para o dia 10/03, deverá consolidar tais números, especialmente no que se refere aos estoques finais. Nesse momento, Oil World aponta para uma produção mundial de 312 milhões de toneladas, contra 284 milhões no ano anterior. Isso significa um aumento ao redor de 10%.
Enquanto isso, os prêmios nos portos, para março, fecharam a semana entre 54 e 86 centavos de dólar por bushel no Brasil. Já nos EUA, o Golfo do México registrou valores entre 69 e 71 centavos, enquanto em Rosário (Argentina) os prêmios ficaram entre 24 e 76 centavos de dólar por bushel.
Aqui no Brasil, a nova desvalorização do Real, colocando o mesmo muito próximo a R$ 3,00 por dólar na semana, contribuiu para nova melhoria nos preços da soja nacional. Aliás, embora os aspectos estritamente nacionais que fazem o Real se desvalorizar, ocorre igualmente um desvalorização, em menor escala, das demais moedas do mundo perante o dólar. Ora, a firmeza da moeda dos EUA tira competitividade do produto norte-americano, fato que reduz as cotações em Chicago.
Nesse contexto, o balcão gaúcho fechou a semana na média de R$ 58,56/saco, enquanto os lotes ficaram em R$ 63,50/saco. Nas demais praças nacionais, os lotes giraram entre R$ 53,00/saco em Sapezal (MT) e R$ 62,00/saco no norte e oeste do Paraná. Vale destacar que os preços brasileiros da soja continuam sustentados pelo câmbio. Ora, a desvalorização do Real já está fora da realidade e, passada as conturbações políticas no país, em os ajustes fiscais continuando, o câmbio deverá retroceder para níveis normais, hoje ao redor de R$ 2,70 por dólar.
Em isso ocorrendo, com Chicago se mantendo ao redor de US$ 9,80/bushel, o valor da soja no balcão gaúcho, em abril/maio, recuaria para médias ao redor de R$ 47,00 a R$ 50,00/saco. Resta saber se tais questões políticas serão solucionadas, pois em caso de o Brasil perder o grau de investimento devido ao atual contexto nacional, a desvalorização do Real poderá facilmente ultrapassar os R$ 3,00 por dólar e, com isso, melhorar ainda mais o preço da soja. Porém, em contrapartida, os custos futuros de produção dispararão.
Até o final de fevereiro, os produtores de soja brasileiros haviam comercializado, de forma antecipada, 39% de sua safra, contra 50% na média histórica para esta época do ano.
Fonte: CEEMA