As cotações do trigo em Chicago oscilaram bastante nesta semana, terminando a mesma em patamar menor do que o registrado dias antes, com o fechamento do primeiro mês cotado, no dia 15/10, ficando em US$ 5,02/bushel, após US$ 5,26 no dia 06/10.
O relatório de oferta e demanda do USDA, divulgado no dia 09/10, acabou sendo relativamente baixista para os preços do trigo. O mesmo confirmou uma produção de 55,8 milhões de toneladas nos EUA, sobre uma área a ser colhida de 19,06 milhões de hectares. Ao mesmo tempo, os estoques finais estadunidenses, para 2015/16, ficaram em 23,4 milhões de toneladas. Assim, o patamar de preços aos produtores locais gira agora entre US$ 4,75 e US$ 5,25/bushel, não trazendo surpresas em relação ao que já vem sendo praticado.
Em termos mundiais o relatório apontou uma safra global recorde de 732,8 milhões de toneladas, com estoques finais em 228,5 milhões de toneladas. A produção brasileira está estimada em 6 milhões de toneladas, enquanto a da Argentina fica em 10,5 milhões de toneladas. O Brasil deverá importar entre 6,5 e 7 milhões de toneladas em 2015/16 segundo o USDA.
As cotações só não recuaram mais porque existem previsões de clima seco na Ucrânia, importante produtor mundial do cereal. Entretanto, as fracas vendas externas estadunidenses não colaboram para manter os preços mais aquecidos. As inspeções de exportação estadunidenses, na semana encerrada em 08/10, ficaram em 290.717 toneladas, contra 561.409 toneladas na semana anterior.
Ao mesmo tempo, o plantio das lavouras de trigo de inverno nos EUA, até o dia 11/10, chegava a 64% da área, contra 66% na média histórica ficando, portanto, dentro de uma zona confortável e sem surpresas.
No Mercosul, a tonelada para exportação se manteve entre US$ 180,00 e US$ 230,00 FOB conforme o país de origem do produto.
Aqui no Brasil, apesar da tendência de alta para o produto de qualidade superior, os preços fecharam a segunda semana de outubro com poucas modificações. A média gaúcha no balcão registrou R$ 31,75/saco, melhorando lentamente em relação a semanas anteriores. Enquanto isso, os lotes permaneceram em R$ 660,00/tonelada ou R$ 39,60/saco. No Paraná os lotes ficaram entre R$ 720,00 e R$ 750,00/tonelada, ou seja, entre R$ 43,20 e R$ 45,00/saco.
A principal e péssima notícia da semana foi a retomada do clima chuvoso, com temporais de granizo, especialmente no Rio Grande do Sul. Nesse sentido, a frustração da safra gaúcha, como já se esperava desde que se anunciou o advento do El Niño neste ano, será muito grande, especialmente em termos de qualidade do grão. Essa realidade atinge igualmente Santa Catarina e parte do Paraná, embora neste último Estado a colheita esteja praticamente concluída.
Essa realidade reforça a tendência de que o trigo de qualidade superior venha a ser bem mais valorizado do que atualmente, particularmente o produto paranaense. No restante, o produtor deverá amargar prejuízos mais uma vez, mesmo tendo feito uma lavoura com poucos investimentos. Esse é o caso do Rio Grande do Sul onde as intempéries não dão trégua e temporais intensos, com ventos acima de 100 quilômetros horários, têm sido constantes em muitas localidades, sem falar no granizo.
Assim, não é surpresa que a comercialização no Paraná, mais uma vez, flua com maior liquidez. Os produtores têm negociado rapidamente o seu cereal local já que os preços internos estão mais interessantes do que os do produto importado. Como isso dependerá do comportamento futuro do câmbio, e há tendência de o Real se estabilizar em valores um pouco mais fortes (R$ 3,50 até o final do ano), o produtor paranaense vende buscando se antecipar à melhoria do preço do produto importado futuramente. Todavia, tal comportamento de preço está longe de ser uma certeza diante da pouca oferta nacional de trigo de qualidade superior nesta atual safra. E no Rio Grande do Sul, agora que a quebra de safra é uma certeza, a comercialização está muito lenta, pois ninguém consegue dimensionar ao certo o que de fato poderá ser colhido, daqui em diante, no Estado.
Outro fator altista para o trigo nacional vem da redução das estimativas na produção junto aos parceiros do Mercosul, especialmente Uruguai e Argentina, igualmente atingidos pelas intempéries. Hoje, o saldo exportável do Mercosul ao Brasil está negativo em 1,4 milhão de toneladas. Além disso, a qualidade do produto mercosulino tende a ser ruim neste ano.
Enfim, mesmo com um Real mais fortalecido (nesta semana ao redor de R$ 3,85), o produto argentino chega ao Brasil 20% mais caro do que o trigo nacional recentemente colhido.
Em síntese, a probabilidade de preços bem mais elevados para o trigo de qualidade superior, que será colhido no Brasil, aumentou bastante nestes primeiros 15 dias de outubro diante das perdas climáticas ocorridas no cone sul da América do Sul. Resta saber se na prática os grandes moinhos irão efetivamente valorizar o produto nacional quando chegar o momento.
Fonte: CEEMA