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Análise Semanal do Mercado de Trigo – 27/Fev/2015

As cotações do trigo em Chicago voltaram a flertar com valores abaixo de US$ 5,00/bushel nesta semana. O fechamento do dia 25/02 ficou em US$ 4,97, enquanto a quinta-feira (26) fechou em US$ 5,03. Valores abaixo do piso de US$ 5,00/bushel, de forma persistente, não são registrados desde o dia 10 de outubro passado (antes do dia 25, apenas no dia 02 deste mês de fevereiro o fechamento bateu abaixo dos US$ 5,00/bushel, mais precisamente em US$ 4,92).

Essa redução nos preços internacionais se deve a grande oferta de produto disponível no mundo em geral e nos EUA. Nesse último caso, inclusive, segundo o Fórum Outlook do USDA, a área a ser semeada neste ano, mesmo em recuo de 2,3% sobre o ano anterior, ficando em 22,46 milhões de hectares, o volume a ser colhido, em clima normal, é projetado em 57,8 milhões de toneladas, ou seja, 4,9% acima do registrado em 2014. Com isso, os estoques finais aumentariam 10,3%, chegando a 20,8 milhões de toneladas nos EUA no final do ano comercial 2015/16.

Como nas demais commodities, a alta do dólar diante das demais moedas mundiais também ajuda a baixar os preços em dólares das mesmas.

Além disso, outros tradicionais exportadores de trigo estão bastante agressivos no mercado. A Rússia, por exemplo, neste ano comercial 2014/15, iniciado em 1º de julho, informou que exportou 23,9 milhões de toneladas de cereais até o dia 18/02, ou seja, 31% a mais do que no mesmo período do ano anterior. Deste total exportado, 18,7 milhões de toneladas são de trigo.

Enquanto isso, nos EUA as vendas líquidas de trigo, referentes ao ano 2014/15, atingiram a 266.600 toneladas na semana encerrada em 12/06. Tal volume é 41% abaixo da média das quatro semanas imediatamente anteriores. Para o ano 2015/16 foram exportadas 38.800 toneladas. Já as inspeções de exportação de trigo, na semana encerrada em 19/02, somaram 501.548 toneladas. No acumulado do ano comercial iniciado em 1º de junho, o total inspecionado em 2014/15 é de 16,5 milhões de toneladas, contra 23,3 milhões de toneladas no mesmo período do ano anterior. Isso representa um recuo de 29,2%.

Pelo lado da demanda mundial de trigo, o Egito, principal importador internacional, informou que adquiriu 290.000 toneladas de trigo dos EUA, pagando um preço médio de US$ 273,00/tonelada. A título de comparação, esse preço, ao câmbio brasileiro de hoje, representa R$ 783,51/tonelada, ou seja, R$ 47,00/saco posto nos moinhos egípcios. Por sua vez, o Egito igualmente comprou 240.000 toneladas de trigo da França e Romênia, ao valor médio de US$ 240,25/tonelada, já incluindo custos e frete. Isso equivale a R$ 689,52/tonelada ou R$ 41,37/saco.  

Aqui no Mercosul, os portos argentinos trabalham com valores entre US$ 230,00 e US$ 251,00/tonelada para o trigo da safra nova. A esse preço, o produto argentino chega posto nos moinhos paulistas a R$ 916,00/tonelada ou R$ 54,96/saco. Com isso, a paridade de importação no interior do Paraná fica em R$ 810,00/tonelada e no interior do Rio Grande do Sul a R$ 761,00/tonelada.

Já no mercado brasileiro, os preços se mostram estagnados. A média gaúcha no balcão fechou a semana em R$ 25,71/saco, enquanto os lotes ficaram em R$ 510,00/tonelada ou R$ 30,60/saco para o produto de qualidade superior. Os mesmos lotes, no Paraná, permaneceram entre R$ 560,00 e R$ 590,00/tonelada, ou seja, entre R$ 33,60 e R$ 35,40/saco.

Apesar de estarmos em entressafra e a tendência indicar preços mais altos, o fato de os moinhos nacionais estarem abastecidos, somado a queda nas cotações internacionais (que anulam parcialmente a desvalorização do Real), não permite aumentos nos preços do trigo brasileiro. Aliás, consta que os moinhos somente voltariam às compras por volta de maio. Assim, uma recuperação nos preços do trigo fica retardada, se de fato vier, em quase três meses. E assim mesmo irá depender muito dos preços mundiais, do comportamento cambial e dos estoques no Mercosul, os quais seriam relativamente baixos na ocasião.

Pelo sim ou pelo não, os atuais preços médios praticados no Paraná e no Rio Grande do Sul, para os lotes, indicam um recuo respectivo de 26% e de 15% em relação ao mesmo período do ano passado. (cf. Safras & Mercado)

No Rio Grande do Sul, onde a safra foi péssima no último ano, com uma colheita de apenas 1,51 milhão de toneladas, sendo mais da metade de produto de qualidade inferior, a situação só não é pior porque o Estado está conseguindo exportar o produto ruim para países da África, para o Vietnã e a Indonésia. Cerca de 700.000 toneladas já teriam sido exportadas, havendo ainda outras 300.000 em processo de negociação (cf. Farsul).

Fonte: CEEMA