A indústria nacional deve passar as próximas duas décadas dedicando-se mais a atender o consumo interno do que a ganhar mercados internacionais. Estudo feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), a pedido da Ernst & Young, mostra que mesmo melhorando as condições de competitividade da indústria, as exportações de manufaturados crescerão apenas 2,7% ao ano até 2030, abaixo do crescimento médio previsto de 3,7% para as importações mundiais.
Sem investimentos em melhorias do cenário para a indústria, as vendas externas de produtos industriais cresceriam ainda menos – a uma média de 1,8% ao ano. Com essa performance acanhada, a previsão de exportações de manufaturados seria de R$ 182,67 bilhões em 2030, pouco mais da metade do total estimado de US$ 306 bilhões para vendas externas do país naquele ano.
O Brasil deverá manter seu saldo comercial em cerca de US$ 42 bilhões daqui a 22 anos, praticamente igual ao verificado em 2007, de US$ 40 bilhões. Segundo Fernando Garcia, coordenador do núcleo de economia da FGV Projetos, o saldo da balança brasileira de manufaturados tende a ser negativo, embora não inviabilize as contas do país.
“Nossa dinâmica econômica para os próximos anos é mais interna do que externa”, diz o professor. Isso significa que o Brasil deve confirmar nos próximos anos uma pauta exportadora onde continuarão predominando matérias primas, com crescimento da venda de energia, combustíveis e minerais.
Tal desempenho aponta para uma redução da participação do Brasil no mercado internacional dos atuais 1,8% para algo inferior a 1% em 2030. Ao mesmo tempo, o estudo aponta que o consumo das famílias no Brasil deve se expandir a taxas de 3,8%, sendo que a demanda interna de bens manufaturados aumentaria a taxas anuais de 3,4% a 4,8% até 2030. O PIB médio é estimado em 4% e o dólar de referência é de R$ 2,10.
Embora os dados reforcem a ideia de que o Brasil perdeu a disputa comercial internacional mesmo se esforçando, Luiz C. Passetti, sócio da Ernest & Young, afirma a indústria nacional tem, sim, perspectivas e que o país precisa investir em competitividade também para não perder o mercado doméstico para as importações, que devem aumentar em média 5,6% ao ano até 2030.
Questionado sobre o estímulo para a internacionalização das empresas brasileiras, Garcia, da FGV, diz que alguns segmentos, como máquinas e equipamentos, continuarão contando com demanda externa e justificando vendas brasileiras sobretudo para a China. De todo o comércio mundial de 2006, o setor de máquinas e equipamentos respondeu por uma fatia 52,9% em volume financeiro.
Também continuarão impulsionadas para fora empresas do setor de transporte pesado, o que inclui aeronaves e trens, bem como veículos e produtos de telecomunicações. “Esses setores devem perder mercado também, mas terão crescimento”, diz. Já o setor de alimentos não teria razão para fazer o mesmo.
As estimativas do estudo levam em conta que o Brasil investiria nos próximos anos 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB) em Pesquisa & Desenvolvimento (P & D), o dobro dos 0,58% investidos em 2005. No cenário ideal, o Brasil também redobraria esforços no sentido de reduzir gargalos logísticos e diminuir a pressão tributária.
Isso seria imprescindível para compensar os inevitáveis aumentos de custos com energia e recursos humanos. Segundo Garcia, até 2030, o preço médio do petróleo deve ficar em US$ 60, o que parece pouco comparado ao salto do ano passado, mas é um valor 117% superior à média dos últimos 17 anos. Além disso, o custo da energia elétrica, principal matriz brasileira, deve avançar 30%.
No caso da mão de obra, a FGV calcula que os salários médios anuais no Brasil terão aumento de 2,5% ao ano até 2030. No modelo de paridade do poder de compra, o salário médio anual do brasileiro chegaria a US$ 7.549,00 em 2030.
Fonte: Gazeta Online, 06/05/2009
Seção: Economia