Os investimentos da indústria de transformação em bens de capital se retraíram no primeiro trimestre do ano e não há perspectiva de uma retomada vigorosa a curto prazo. Um dos termômetros para medir o ânimo de investimento da indústria em máquinas e equipamentos é o desembolso do BNDES por meio da linha Finame. No primeiro trimestre, as liberações do banco para financiar bens de capital, excluindo ônibus e caminhões, somaram R$ 1,487 bilhão, com redução de 3,3% em relação a janeiro-março de 2008.
A queda é explicada pelo baixo nível de ocupação da capacidade instalada e pelo desânimo de parte da indústria em uma recuperação mais forte da economia em 2009. “A indústria de transformação está com nível de ocupação baixo e não há perspectivas de que a curto prazo volte a investir mais forte”, disse Aloísio Campelo, coordenador de sondagens conjunturais da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A tendência, segundo ele, é que o investimento demore a se recuperar. “No segundo e terceiro trimestres não podemos esperar uma recuperação do investimento no patamar verificado no primeiro semestre de 2008”, previu Campelo.
Os desembolsos do BNDES para máquinas-ferramentas, usadas pela indústria na produção de outros bens de capital, tiveram forte queda no primeiro trimestre. O banco desembolsou R$ 125,3 milhões para financiar a compra de máquinas-ferramentas de janeiro a março deste ano, uma queda de 36,7% em relação aos R$ 198 milhões do primeiro trimestre de 2008. Só em março, as liberações do banco para apoiar a compra desse tipo de máquina, que inclui prensas e tornos, usados, por exemplo, na produção de blocos de motores, somaram R$ 24,8 milhões, uma redução de 60,3% na comparação com março do ano passado.
Cláudio Bernardo Guimarães de Moraes, superintendente da área de operações indiretas do BNDES, disse que a queda nos desembolsos para máquinas-ferramentas é resultado da desaceleração da economia, que levou à retração dos investimentos. Moraes disse que há sinais de que, em abril, o desempenho da linha Finame do BNDES, para a compra de máquinas e equipamentos, foi melhor que o esperado. Ele afirmou que, no último mês, houve mais operações de financiamento a caminhões.
O banco, disse Moraes, voltou a financiar 100% do valor do caminhão para grandes empresas, além de abrir a possibilidade de financiar caminhões, ônibus e máquinas-ferramentas usadas. O segmento transporte respondeu por 55,8% dos desembolsos da Finame no primeiro trimestre. Os financiamentos totais da Finame foram de R$ 4,2 bilhões, com queda de 1,2% em relação ao período janeiro-março de 2008.
As liberações do banco para financiar a compra de caminhões e ônibus totalizaram R$ 2,746 bilhões de janeiro a março, com queda de 6,6% em relação a igual período de 2008. Só para caminhões os financiamentos do BNDES somaram R$ 2,167 bilhões de janeiro a março, com alta de 1,4% sobre os R$ 2,13 bilhões do primeiro trimestre de 2008. Já os desembolsos para compra de ônibus alcançaram R$ 552,9 milhões, com queda de 22,2% na comparação com o período janeiro a março de 2008.
Moraes disse não ser possível identificar ainda uma tendência de recuperação na demanda por bens de capital na indústria de transformação. No primeiro trimestre, a queda na demanda por financiamento do setor de máquinas-ferramentas foi compensada, em parte, pelas liberações para compra de máquinas rodoviárias, que cresceram 0,6%. Só em março, o BNDES liberou R$ 108,8 milhões para financiar a compra de máquinas rodoviárias, uma alta de 13,7% sobre março do ano passado.
Já as liberações do banco para financiar a compra de máquinas utilizadas na movimentação de cargas dentro das indústrias totalizaram R$ 27,7 milhões em março, queda de 18,5% sobre o mesmo mês de 2008. Mas no trimestre as liberações de empréstimos do banco para essa categoria de máquinas totalizaram R$ 113,8 milhões, com crescimento de 29,6%.
Carlos Nogueira, diretor de financiamentos da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), disse que as empresas não estão fazendo investimentos expressivos pois grande parte do empresariado acredita que “o mercado amanhã estará pior do que hoje”. Ele disse que a queda de vendas de máquinas ferramentas ficou entre 40% e 50% no primeiro trimestre do ano. Ele disse que apesar do setor esperar uma reação da demanda no primeiro trimestre, que não se confirmou, a expectativa é de alguma recuperação ao longo do ano.
“Talvez possamos fechar 2009 com queda de 20% a 30% (nas vendas de máquinas ferramentas) em relação a 2008”, disse Nogueira. Se a previsão se confirmar, o setor estará voltando aos patamares de 2007. Ele disse que os agentes financeiros do BNDES estão reticentes em repassar os recursos do banco e só contratam empréstimos com margens muito altas.
Fonte: Valor, 06/05/2009
Seção: Máquinas & Equipamentos