SÃO PAULO – A guerra cambial pode atingir seriamente o Brasil em 2011. Essa é a opinião do economista da RC Consultores, Paulo Rabello Castro, ao apresentar estudo encomendado pela Serasa Experian sobre as perspectivas econômicas para o próximo ano. “Olhando a evolução do quadro mundial, há chance de 80 a 20 do Brasil ser fortemente afetado pela guerra cambial em 2011”, calcula o economista.
Na opinião dele, para esse cenário se confirmar, num primeiro momento a cotação do dólar deve cair da faixa de R$ 1,70 para R$ 1,50, a medida que o afrouxamento monetário americano avançar nos próximos meses e inundar o mercado global com liquidez. “O governo dos Estados Unidos expandirá sua moeda pelo mundo e espera-se uma reação semelhante da Europa”, argumenta Castro.
A outra variável dessa equação negativa é a economia chinesa. “Ao que tudo indica a China manterá o iuane desvalorizado independentemente da pressão monetária dos Estados Unidos e da Europa”, aponta Castro.
O economista da RC Consultores afirma que na hipótese desse cenário se confirmar, inicialmente o Brasil continuaria beneficiado com os preços de produtos básicos. “Os preços das commodities subirão até meados de 2011”, prevê Castro.
“O agronegócio brasileiro está fazendo um milagre em meio à crise mundial. Está gerando US$ 50 bilhões de saldo comercial por ano e bancando a maior parte de nosso déficit nas contas externas do País”, diz Castro.
Mas de acordo com ele, essas altas consecutivas das commodities tem um limite que pode gerar um ponto de ruptura na economia mundial. “A inflação global sob pressão altista provocada pelo preço das commodities e pela desvalorização das moedas pode levar ao risco de estagflação [estagnação com inflação] nos países desenvolvidos”, diz Castro ao descrever seu segundo cenário.
Confirmada essa hipótese, a economia mundial e o Brasil podem mergulhar numa nova recessão, tão aguda quanto à anterior. “Rapidamente o dólar saltaria de R$ 1,50 para R$ 2 causando uma turbulência inesperada nos preços internos, forçando o Banco Central a elevar os juros básicos para além de 12,5% ao ano”, projeta Castro sobre o epicentro da nova crise.
Nesse cenário crítico, a economia brasileira amargaria um segundo semestre de 2011 muito ruim. “O crescimento do PIB contratado em investimentos para 2011 alcançará 3,8%, abaixo dos 4,5% estimados anteriormente”, prevê o especialista.
“O Brasil escapou até agora de sofrer mais com a crise global porque escorou seu crescimento na China. Os Estados Unidos e a Europa continuam na crise e não devem sair dela tão cedo”, comentou o economista.
Castro argumenta que os americanos não encontraram outra solução, além da desvalorização, para reaquecer a economia deles. “O desemprego lá está em cerca de 17%, sendo 10% as pessoas que ainda procuram emprego e constam das estatísticas e outras 7% que desistiram de procurar trabalho porque não o encontram”, justifica o economista.
Ele afirma que o cenário na Europa também é muito crítico. “Onze países da zona do euro [Espanha, Holanda, Áustria, Irlanda, Alemanha, Reino Unido, França, Portugal, Bélgica, Itália e Grécia] estão com endividamento entre 60% e 125% do PIB, e com seus governos com a necessidade de tomar empréstimos cada vez maiores”, argumenta Castro.
“Isso não se resolve em 2011, mais provavelmente para depois de 2012 ou até 2015 se todos fizerem a lição de casa”, avalia.
Castro citou que a Inglaterra é a primeira a tentar consertar o déficit nas contas do governo ao anunciar um corte de 490 mil funcionários públicos. “Para o Brasil escapar de um novo mergulho da crise mundial, precisa de um ajuste fiscal, uma nova estrutura tributária e a desoneração da folha de pagamentos para fazer renascer a competitividade de nossos produtos.”
Castro argumentou que o Brasil atravessa um grave problema nas contas públicas. “Os gastos públicos devem subir dos atuais 15% do PIB para 17,5% no próximo ano, isso representa um acréscimo de R$ 143 bilhões nas despesas do governo”, projeta.
O economista diz que para fechar essa conta, o próximo governante terá que aumentar a arrecadação de impostos. “A receita líquida terá que subir para 19,5% do PIB, um acréscimo de R$ 167 bilhões em impostos”, calculou.
No entanto, ele ressalva que o cenário negativo pode não se concretizar: a economia brasileira deve manter o crescimento do crédito; juro real em queda; investimento em alta para 19% do PIB e forte expansão das exportações de commodities. “Chance de 20 para 80″, calcula Castro.
Embora não tenham conseguido um consenso sobre uma linguagem mais firme que poderia ter estimulado o dólar, países que compõem o G-20 chegaram a um acordo para deter as desvalorizações competitivas de moedas neste sábado. A reunião foi considerada histórica pelo diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, a qual os ministros de Finanças dos países que integram o grupo concordaram em aumentar a participação dos países emergentes, como o Brasil.
Entre as principais mudanças está a transferência de cerca de 6% dos direitos de votos no FMI para países em desenvolvimento. Além disso, a Europa vai ceder duas vagas no conselho executivo do Fundo para países em crescimento. E transformará a China no terceiro integrante mais poderoso do Fundo Monetário. Por outro lado, ontem o secretário do Tesouro norte-americano, Timothy Geithner, discutiu relações econômicas com o vice-premiê chinês Wang Qishan, em uma breve reunião no leste da China. Esta negociação pode ser um importante passo para resolver a disputa comercial entre os países, cujos impactos são sentidos no Brasil. Os EUA têm pressionado a China para liberar a apreciação mais rápida do iuane.
Segundo o economista da RC Consultores, Paulo Rabello Castro, a guerra cambial pode atingir seriamente o Brasil em 2011. A opinião é baseada em estudo encomendado pela Serasa Experian sobre as perspectivas econômicas para o próximo ano. Ele diz que, para o cenário se confirmar, num primeiro momento a cotação do dólar deve cair da faixa de R$ 1,70 para R$ 1,50, à medida que o afrouxamento monetário americano avançar nos próximos meses e inundar o mercado global com liquidez.
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, afirmou na sexta-feira que a valorização do real ante o dólar é nociva para a economia brasileira. Segundo ele, medidas precisam ser tomadas para evitar que o real valorizado reduza a competitividade de empresas nacionais no mercado internacional. ” Não podemos ser ingênuos. Temos de proteger a competitividade das empresas e a geração de empregos no Brasil.”