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Análise do mercado de Trigo – 08/Jul/2013

Comentários referentes ao período entre 28/06/2013 a 04/07/2013

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
Prof. Ms. Emerson Juliano Lucca²

Chicago fechou a semana com o bushel de trigo em US$ 6,57, contra US$ 6,87 na média de junho e US$ 6,63 uma semana antes. Portanto, as cotações se mantêm estáveis, porém, com tendência de recuo. Lembramos que na quinta-feira (04/07) foi feriado nacional nos EUA e, portanto, não houve negócios na Bolsa.

A área total com trigo nos EUA cresceu 1%, ficando em 22,86 milhões de hectares. Enquanto isso os estoques trimestrais, na posição 1º de junho, ficaram em 19,5 milhões de toneladas, com recuo de 3% sobre o mesmo período do ano anterior.

Por sua vez, as inspeções de exportação de trigo pelos EUA alcançaram a 719.002 toneladas na semana encerrada em 27/06, acumulando no ano comercial iniciado em 1º de junho o total de 2,26 milhões de toneladas, contra 2,33 milhões em igual período do ano anterior.

Paralelamente, a Organização Mundial de Grãos elevou para 683 milhões de toneladas a safra mundial de trigo em 2013/14, fato que eleva em 4% o volume obtido um ano antes.

Esse conjunto de fatores puxa para baixo os preços internacionais do cereal, embora não exista muito mais espaço para recuos diante da oferta apertada, no curso prazo, na América do Sul.

Tanto é verdade que a Argentina suspendeu suas exportações de trigo, pois enfrenta forte alta interna de preços da farinha e do pão. Isso levou, além da desvalorização importante do Real, a um aumento de 20% nos preços da farinha de trigo no Brasil na semana. O governo argentino também mandou exportadores venderem cerca de 370.000 toneladas de trigo, que seriam destinadas ao mercado internacional, para moinhos locais. Em 2012/13 a Argentina produziu apenas 9 milhões de toneladas já que os produtores locais não têm estímulo para semearem o cereal devido à política de confisco na exportação. Assim, nesse ano os argentinos tiveram apenas 3,5 milhões de toneladas do cereal disponíveis para exportação, sendo que até o dia 12/06 as vendas ainda estavam abaixo de 3 milhões de toneladas, contra 7,1 milhões de toneladas no ano anterior. (cf. Safras & Mercado) Espera-se que a safra 2013/14 recupere a situação, com uma produção estimada em 15 milhões de toneladas pelo menos.

Já no Brasil, os preços se mantêm elevados nos lotes, pois a disponibilidade de produto de qualidade é mínima, somando-se agora os problemas de importação da Argentina e os altos custos de importação de outros países devido ao câmbio. Assim, enquanto o balcão gaúcho fechou a semana na média de R$ 30,77/saco, os lotes se mantiveram em R$ 780,00/tonelada na compra. Já no Paraná os lotes, também na compra, ficaram entre R$ 900,00 e R$ 920,00/tonelada.

Neste sentido, os moinhos nacionais dependem cada vez mais dos leilões da Conab, os quais estão terminando por absoluta falta de produto nos estoques oficiais. Assim, o leilão do dia 27/06 acabou vendendo 94% da oferta de 70.300 toneladas, com preços que atingiram o valor médio de R$ 880,00/tonelada no Paraná e R$ 830,00/tonelada no Rio Grande do Sul, para o produto de melhor qualidade. Vale ressaltar que a Conab anunciou um novo leilão para o dia 11/07 o qual o mercado julga ser o último da atual temporada, já que sobraram nos estoques oficiais apenas 106.964 toneladas.

Enquanto isso, o plantio de trigo no Paraná, que se julgava encerrado, teria chegado apenas a 85% da área projetada devido às constantes chuvas. Cerca de 83% das lavouras apresentam-se em boas condições, 15% estão regulares e 2% apenas em condições ruins. Em floração estariam 22% das lavouras. (cf. Deral)

Já no Rio Grande do Sul, onde o clima esteve um pouco mais seco no período, o plantio atinge a 70% da área esperada, sendo que algumas regiões estão com o mesmo quase encerrado.

Nesse contexto todo, o quadro do mercado do trigo poderia estar mudando para frente. Até a colheita, em setembro pelo Paraná e em novembro pelo Rio Grande do Sul, os preços se manterão altos pelos fatores já expostos. Haveria 550.000 toneladas disponíveis no Uruguai, a preços mais baixos, porém, o produto é de baixa qualidade. Está sobrando, portanto, o produto dos EUA e do Canadá, encarecidos agora pela forte desvalorização do Real. Além disso, pelo problema de logística portuária e de transporte, enfrentado pelo Brasil, os moinhos importadores vêm forçando o governo a prorrogar a isenção da TEC para tais compras externas para além de 31/07.

Assim, se o clima não auxiliar para uma safra cheia no Brasil, os preços poderão ficar acima dos mínimos estabelecidos pelo governo. Caso contrário, será o volume e a qualidade obtida no Brasil e na Argentina que ditará os preços futuros, além da manutenção ou não de um Real desvalorizado. No primeiro caso, não haveria leilões de PEP para escoamento da produção. Como se nota, há hoje uma grande incógnita de como será o mercado do trigo no final do ano devido aos novos elementos que surgiram no mercado nestes últimos 40 dias. Porém, há vendas antecipadas para exportação, com o Rio Grande do Sul, por exemplo, tendo negociado entre 80 a 90 toneladas a preços FOB entre R$ 500,00 e R$ 570,00/tonelada enquanto o interesse de venda hoje, pela desvalorização do Real, subindo para R$ 580,00/tonelada para a nova safra. (cf. Safras & Mercado)

Enfim, na paridade de exportação, o trigo argentino, ao câmbio de R$ 2,27, estaria sendo posto nos moinhos paulistas a R$ 922,00/tonelada. Nestas condições, o trigo no interior do norte do Paraná teria que sair a R$ 810,00/tonelada FOB. (cf. Safras & Mercado)

¹ Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
² Professor, Economista, Mestre em Desenvolvimento, Analista e responsável técnico pelo Laboratório de Economia Aplicada e CEEMA vinculado ao DACEC/UNIJUÍ.